Rock in Rio: estivemos nos bastidores da sustentabilidade
Em 2013, o Rock in Rio juntou-se a festivais como o Glastonbury, ao Melt! e ao Estádio de Wembley – exemplos de sustentabilidade na área musical – ao receber o certificado de sustentabilidade em conformidade com a norma internacional ISO 20121. Assim, o Rock in Rio é o único festival em Portugal com sustentabilidade comprovada.
Uma vez que a organização quer manter e melhorar este compromisso nas edições futuras, na edição de Lisboa de 2014 as medidas de sustentabilidade vão ser reforçadas. “Sabemos que os eventos nunca se poderão chamar eventos sustentáveis, porque deslocar uma massa de pessoas num curto período de tempo é totalmente insustentável”, indica a coordenadora de sustentabilidade do Rock in Rio, Dora Palma. Contudo, a coordenadora da área de sustentabilidade assegura que a organização trabalha ao máximo para minimizar o impacto ambiental do festival.
A principal novidade no plano de sustentabilidade será a implementação de uma auditoria energética, de maneira a definir o padrão de consumo de energia do evento. A auditoria está a cargo da Audit Green, que irá fazer um relatório de consumo de energia e ditar propostas de melhoria. “Queríamos implementar medidas de redução de consumo, mas primeiro temos de perceber o que é que consumimos”, refere a coordenadora.
Além da novidade da auditoria energética, o festival vai dar continuidade a projectos e compromissos assumidos anteriormente, como a separação e gestão dos resíduos. Na edição de 2012, o Rock in Rio conseguiu reciclar 90% dos resíduos e este ano a organização espera que essa percentagem possa aumentar.
Para a gestão dos resíduos o evento conta com a ajuda da Câmara Municipal de Lisboa, que faz a limpeza do recinto – a lavagem de pavimentos e ruas vai ser feita com água reciclada -, com a Sociedade Ponto Verde (SPV), que funciona como consultora para a identificação das necessidades e implementação do plano de recolha e limpeza dos resíduos, e com a Valor Sul, que confere a triagem dos resíduos na central.
Mais de 1.300 ecopontos de reciclagem no recinto
Segundo Paulo Cuiça, responsável pela limpeza do evento, todos os resíduos vão ser separados e, para tal, existem cerca de 1.300 ecopontos no recinto. Contudo, os ecopontos são apenas dedicados ao plástico, embalagens e metal, já que a maior parte do papel gasto durante o evento está contaminado e não pode ser reciclado. Adicionalmente, existirá também triagem dos resíduos hospitalares, que serão gerados pelos postos médicos presentes no recinto.
Os voluntários do evento vão ter um papel preponderante na limpeza do recinto, como explica Paulo Cuiça. Assim, parte dos 400 voluntários vão prestar apoio na recolha dos resíduos e na manutenção da limpeza das casas de banho.
Além da água reciclada, o Rock in Rio vai também contar com outras soluções de limpeza sustentável, nomeadamente duas máquinas, com a tecnologia Orbio, que utilizam apenas água da torneira amaciada com um fluxo de sal de numa célula electrolítica, sem necessidade de detergentes. “Somos o primeiro evento em Portugal com este tipo de equipamento”, assegura Dora Palma.
Materiais do recinto vão ser doados
De acordo com Dora Palma, a organização recorre maioritariamente ao aluguer de materiais, o que permite reduzir o desperdício. “Este ano temos muitos contentores, o que reduz imenso a necessidade de construção”, refere a coordenadora.
Para aumentar a taxa de materiais reutilizados, no final do evento o Rock in Rio vai doar vários materiais, como lonas, alcatifas ou relva sintética. “O Rock in Rio tem alguns critérios de imagem que não permitem reutilizar alguns materiais”, explica Dora Palma. Assim, o festival criou parcerias com outras entidades que necessitam destes materiais e os recolhem no final do evento. Um dos parceiros deste ano é o Boom Festival, que vai aproveitar diversos materiais que vão ser reutilizados na edição deste ano.
O material que ainda sobrar vai ser doado a outras instituições. As entidades que estiverem interessadas devem inscrever-se no site do evento.
Na edição deste ano vai ser implementado um projecto-piloto, em parceria com a SPV, onde se vai testar a possibilidade de reciclagem dos copos de papel. “É um copo de papel mas que tem um revestimento que impede a sua reciclagem e pela primeira vez vamos fazer um teste para ver se funciona”, explica a coordenadora de sustentabilidade.
Durante os dias do evento, também a Heineken vai ter um projecto de recolha de copos e quem juntar copos de plástico deixados no chão do recinto vai poder trocá-los por brindes nas lojas da marca de cerveja.
Rock in Rio vai plantar 118 mil árvores até 2016
Outro dos objectivos do plano de sustentabilidade do festival é a redução e compensação da pegada ecológica. Para tal, a organização vai plantar 25 mil árvores para minimizar as emissões de dióxido de carbono decorrentes desta edição.
A plantação vai ser feita através de uma parceria com a r/Com, numa área ardida em 2004 na Pampilhosa da Serra. Assim, com todos os projectos de plantação de árvores, em 2016 o Rock in Rio terá plantado 118 mil árvores na Pampilhosa da Serra e na Tapada Militar de Mafra. As árvores vão ser acompanhadas ao longo de 30 anos. “Se houver alguma que não vingue é substituída, se houver alguma que arda é substituída. Há uma garantia de gestão das árvores ao longo de 30 anos porque é durante esse período que elas vão captar o dióxido de carbono que é emitido durante o evento”, explica Dora Palma.
Do projecto de sustentabilidade do Rock in Rio faz ainda parte o recurso a 50% de fornecedores locais ou nacionais, o quer permite estimular a economia local e diminuir a pegada ecológica. Será ainda escolhido, tal como em edições anteriores, o parceiro que se destaque na sua performace sustentável dentro do Rock in Rio. A loja, stand ou fornecedor que melhor incorpore os princípios do plano de sustentabilidade e contribua para a sustentabilidade do evento vai ser premiado no final.
Outra das apostas sustentáveis da edição deste ano é nas campanhas publicitárias, com recurso a outdoors digitais, mais ecológicos que os de papel.
Rock in Rio quer levar sustentabilidade para Las Vegas
No próximo ano a Cidade do Rock vai deslocar-se para Las Vegas. A cidade norte-americana é conhecida pela excentricidade e pelos casinos, assim como pelo grande consumo energético. Contudo, Dora Palma assegura que a visão do evento ao nível de sustentabilidade vai ser a mesma ou maior.
“A óptica vai ser essa. Manter a qualidade do evento Rock in Rio, a qualidade do que queremos entregar ao público e aos nossos parceiros mas olhando para aquilo que são as nossas responsabilidades. Não vamos para destruir, antes pelo contrário. Vamos para dinamizar e dar vida a alguns espaços que não têm. Vai ser esse objectivo que também vamos levar para Las Vegas”, indica.
“As experiencias que tivemos em 2013 e 2014 vamos implementá-las em 2015, por isso esperamos até que as medidas de sustentabilidade sejam melhoradas em Las Vegas. Por exemplo, no Rio de Janeiro a separação de resíduos não está tão desenvolvida como em Portugal e nós fizemos questão de não baixar o nível, Como tal, implementámos a separação selectiva dentro da cidade do rock, que não é comum no Rio de Janeiro. Se chegarmos a Las Vegas e virmos que não fazem separação fá-la-emos nós”.