Ruídos humanos estão a silenciar as canções das baleias nos mares



As baleias de barbas, ou seja, que não têm dentes e se alimentam por filtração, dependem da comunicação subaquática para interagir com membros da sua espécie nos vastos ambientes oceânicos em que vivem.

As chamadas ‘canções’ que produzem são poderosos sons que viajam muitos quilómetros pela água, e servem para atrair parceiros, transmitir informação e estados de espírito e até para marcar territórios e afastar concorrentes.

Foi há mais ou menos meio século que a Ciência descobriu que, de facto, as baleias cantam, mas como o fazem e que estruturas lhes permitem fazê-lo tem permanecido um mistério. Contudo, uma equipa de investigadores acredita ter desvendado o segredo.

Num artigo divulgado recentemente na publicação ‘Nature’, uma equipa composta por cientistas da Áustria, da Dinamarca e dos Estados Unidos da América revela que as baleias de barbas, como as baleias-de-bossa, as baleias-azuis e as baleias-francas, produzem as poderosas vocalizações de baixa-frequência através de estruturas singulares que evoluíram nas suas laringes.

Embora tanto os mamíferos em terra como os que vivem no mar tenham laringes que produzem sons, as baleias tiveram de desenvolver laringes especialmente adaptadas à vida subaquática. E as das baleias de barbas são únicas.

Por exemplo, as aritenoides, que nas laringes humanas são duas pequenas cartilagens simétricas que regulam a passagem do ar e permitem emitir sons, formam uma grande e rígida estrutura em forma de U nas laringes das baleias que se estende por quase toda a laringe.

Tecumseh Fitch, da Universidade de Viena e um dos autores, explica, em comunicado, que essa estrutura provavelmente mantém uma abertura rígida que permite a passagem de grandes quantidades de ar, sobretudo quando a baleia emerge e liberta ‘explosões’ de ar, os chamados bufos.

Além disso, a estrutura em forma de U está comprimida contra uma grande bolsa de gordura na parte de dentro da laringe, que produz as vocalizações fantasmagóricas que conhecemos. “Quando as baleias expelem o ar dos pulmões passando por essa bolsa, começa a vibrar e gera sons subaquáticos de muito baixa frequência”, aponta Fitch.

Apesar de poderosas, as canções das baleias não conseguem fazer frente à poluição sonora causada pelos humanos nos mares e oceanos do mundo. Construindo modelos em três dimensões da laringe das baleias de barbas e analisando espécimes arrojados, os cientistas concluem que a frequência usada por esses mamíferos marinhos na comunicação não se consegue sobrepor ao ruído produzido, por exemplo, por navios e outras embarcações.

Limitadas a frequências baixas, as baleias não podem simplesmente escolher emitir sons mais altos para se fazerem ouvir acima do barulho que nós, humanos, produzimos. E o aumento da presença humana nos mundos marinhos pode ter impactos desastrosos na vida e sobrevivência das baleias, e de outros animais, que ficam impossibilitadas de comunicarem umas com as outras.

“Comparando com os anos 70, os nossos oceanos estão agora ainda mais cheios de ruído produzido pelos humanos”, lamenta Coen Elemans, da Universidade do Sul da Dinamarca e primeiro autor do artigo.

O cientista apela a mais restrições ao ruído antropogénico em ambientes marinhos, “porque as baleias dependem do som para comunicarem”, e acrescenta que “mostramos agora que, apesar da sua fisiologia extraordinária, elas literalmente não podem escapar ao barulho que os humanos fazem nos oceanos”.





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