Sabia que o Príncipe Carlos é um visionário activista ambiental?



Quando pensamos no Príncipe Carlos, a primeira coisa que nos vem à cabeça são as suas aventuras e desventuras amorosas – o seu primeiro mediático casamento (com a princesa Diana) e o seu menos mediático segundo casamento (com Camilla Parker Bowles) –, os seus deveres reais enquanto príncipe herdeiro ou a forma como a imprensa britânica avalia, diariamente, o seu papel na educação dos filhos, os também herdeiros ao trono William e Harry.

Uma das facetas menos conhecidas de Carlos, por ser menos mediática internacionalmente, é a sua veia ambientalista. Desde jovem que o membro da família real britânica defende ideias ambientais e medidas sustentáveis.

“Algumas visões, que em tempos pareciam estranhas, fazem hoje todo o sentido. O mundo começa agora a entendê-lo”, escreve hoje o jornal i.

Carlos, que chegou hoje a Portugal para uma visita de dois dias, começou a partilhar com todo o mundo os seus interesses ambientais nos anos 80. Em 1986, para sermos mais exactos, o príncipe transformou a sua quinta da residência de Highgrove, a Duchy Home Farm, num espaço de agricultura biológica. Nesta altura, é bom recordar, a grande maioria dos consumidores ainda nem sabiam bem o que queria dizer a expressão.

Em 1990, Carlos lançou a sua própria marca de alimentos orgânicos, a Duchy Originals, que hoje vende mais de 200 produtos sustentáveis diferentes, de comida a mobiliário de jardim.

Mais recentemente, em 2007, Carlos fundou o The Prince’s May Day Network, que encoraja os negócios a desenvolverem acções mais entusiásticas na luta contra as alterações climáticas.

Também desde 2007 que o membro da família real calcula e publica a sua pegada carbónica, tendo também nessa data anunciado que iria tornar as suas viagens e respectiva logística mais amigas do ambiente.

Ainda em 2007, Carlos recebeu o Global Environmental Citize Award da Harvard Medica School Center for Health and Global Environment.

No discurso de entrega do galardão, o director do instituto, Eric Chivian, afirmou que, durante décadas, o “Príncipe de Gales foi um campeão do mundo natural. Ele tem sido um líder global nos esforços para melhorar a eficiência energética e reduzir a descarga de substâncias toxinas nos solos, ar e oceanos”.

Nos últimos anos, dois discursos ficaram célebres. O primeiro, a 14 de Fevereiro de 2008, no Parlamento Europeu, apelou à União Europeia para liderar a guerra contra as alterações climáticas.

No segundo, a 9 de Fevereiro último, na cimeira Low Carbon Prosperity, Carlos acusou os cépticos das alterações climáticas de estarem a “jogar à roleta” com o futuro do planeta e a criarem um “efeito corrosivo” na opinião pública. Então, o Príncipe alertou também para a necessidade de protegermos as comunidades piscatórias, a floresta amazónia e tornarmos as baixas emissões de carbono competitivas e baratas.

“Sei que as minhas ideias são por vezes retratadas como antiquadas. Bem, elas podem ser. Mas aquilo com que me preocupo são coisas intemporais, independentemente dos tempos em que vivemos. Já cá ando há muito tempo para ver que as ideias que já foram consideradas antiquadas estão agora em voga”, afirmou em 1994. Hoje, 17 anos depois, estas palavras fazem mais do que nunca sentido.

Nos últimos 30 anos, o Príncipe Carlos dedicou muito do seu tempo à solidariedade social. Desde que fundou o The Prince’s Trust, Carlos fundou outras 15 organizações de solidariedade social que, entre elas, angariam cerca de 125 milhões de euros por ano para as boas causas. Ao todo, Carlos patrocina cerca de 350 instituições sociais.

O Príncipe Carlos é visto frequentemente a partilhar as suas opiniões sobre arquitectura e planeamento urbano, ligando a estas temas relacionados com o ambiente, a renovação urbana e a qualidade de vida.

Carlos acredita que o urbanismo deverá ser tido à escala humana, sendo a restauração de edifícios históricos um elemento integrado do novo desenvolvimento e design sustentável.

Encontramos também o nome de Carlos em projectos como a Foundation for the Built Environment, que mistura sustentabilidade com tradição, e na Nature House, um projecto habitacional que aposta na harmonia entre o ser humano e natureza.

“À medida que o nosso planeta se torna predominantemente urbano e os recursos do planeta começam a escassear, vai deixar de ser suficiente adicionar gadgets aqui e pregar parafusos acolá. Temos de repensar a forma como projectamos as nossas casas, lojas, escolas e a relação entre elas”, explicou recentemente Carlos, aqui citado pelo jornal i.

Como não podia deixar de ser, o príncipe britânico é muitas vezes criticado, quer pelas suas ideias verdes quer pela forma – e altura – em que decide dá-las a conhecer ao mundo.

Como em Janeiro último, quando o seu plano para criar um projecto de desenvolvimento urbano ecológico nas favelas de Bombaim foi considerado de “demasiado idealista”.

Porquê? Porque o príncipe britânico, que há 30 anos trabalha a sustentabilidade urbana em Poundbury, Dorset, quer construir as chamadas eco-utopias em cidades indianas.

O membro da família real elogiou a maior favela indiana, Dharavi, pela forma como esta consegue absorver quase um milhão de pessoas num espaço que ocupa metade da propriedade de Highgrove e pela sua “ordem e harmonia”. Estas qualidades, de resto, são típicas das favelas. “Temos muito que aprender sobre como os complexos sistemas [que encontramos nas favelas] podem organizar-se para criar uma harmonia comum”, revelou no início do ano.

O Príncipe de Gales espera que o seu conhecimento de planeamento urbano possa ajudar a construir, a partir de 2012, uma nova eco-comunidade naquele País, uma espécie de oásis no deserto que consiga retirar da pobreza extrema milhões de cidadãos.

É este o último projecto sustentável conhecido de Carlos – entre as centenas que já desenvolveu, ajudou a fundar ou que está a preparar. Para quando estará reservado o próximo?

PS:  O que vêm Carlos e Camilla fazer a Portugal? Visitar a Vitacress, uma empresa que aposta fortemente na agricultura biológica sustentável e no processo de compostagem; visitar Évora, a primeira cidade portuguesa ligada a uma rede inteligente de energia; e inaugurar o novo jardim das rosas do Palácio de Monserrate, em Sintra.





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