Se não tivesse sido extinto, elefante-de-presas-retas poderia ainda viver na Europa, incluindo Portugal

O elefante-de-presas-retas (Palaeoloxodon antiquus) viveu na Europa durante cerca de 700 mil anos, tendo cá chegado a partir de África. Há 40 mil anos terá desaparecido, com as suas últimas populações locais identificadas na Península Ibérica e na região do Mediterrâneo.
A espécie sobreviveu, embora com várias reduções populacionais e na área de distribuição, a diversos eventos climáticos extremos, como as chamadas “idades do gelo”, períodos de intensa glaciação que gelaram o continente, mas terá sido a pressão exercida pelos humanos, através da caça, que terá empurrado o elefante-de-presas-retas para a extinção.
Um grupo de investigadores acredita que, se ainda existisse, a espécie era capaz de viver na Europa dos dias de hoje, especialmente nas regiões central e ocidental, Portugal incluído, uma vez que as temperaturas seriam propícias.

Num artigo publicado na revista ‘Frontiers of Biogeography’, cientistas da Universidade de Bayreuth (Alemanha) argumentam que “o atual clima europeu seria ainda adequado para o extinto elefante-de-presas-retas”, que, enquanto viveu, moldou a paisagem na Europa, mantendo espaços abertos e florestas desafogadas.
A conclusão resulta da análise de literatura científica e de dados paleontológicos sobre fósseis do P. antiquus, o que permitiu reconstituir os climas passados da Europa, percebendo que regiões e temperaturas eram as que a espécie mais apreciava.
Os elefantes modernos são muitas vezes descritos como “engenheiros” de ecossistemas, e o P. antiquus terá sido também um deles, e algumas espécies vegetais que hoje ainda existem terão singrado na Europa graças à ação transformadora desses grandes herbívoros, agora extintos.
Contudo, e numa altura em que tanto se fala do restauro dos ecossistemas e também de abordagens de rewilding, os autores deste artigo dizem a reintrodução de grandes herbívoros para desempenharem as mesmas funções ecológicas que megafauna extinta pode ter os seus problemas, pelo que aconselham “cautela”.
“O nosso conhecimento dos processos ecológicos que moldaram os ecossistemas modernos”, em particular o papel dos grandes animais engenheiros de ecossistemas, “continua incompleto”, escrevem no artigo. Além disso, os investigadores salientam que “a reintrodução de grandes herbívoros como substitutos de megafauna extinta é pouco provável que replique totalmente as funções e dinâmicas ecológicas em tempos impulsionadas por espécies como o elefante-de-presas-retas, devido a alterações profundas na estrutura da paisagem, a interações entre espécies e a dinâmicas migratórias que têm moldado os ecossistemas contemporâneos”.
Por isso, e embora reconheçam que essas abordagens são “promissoras” e que podem diversificar “o espaço funcional nos atuais ecossistemas”, os investigadores consideram que o potencial do rewilding “para restaurar completamente os papéis ecológicos de espécies extintas a uma escala continental continua a ser questionável”.