Secas ameaçam fazer disparar doenças fatais em anfíbios no Brasil



Os anfíbios são um dos grupos de animais mais ameaçados do planeta. Estima-se que atualmente 41% de todas as espécies a nível mundial estejam em risco de extinção, e muitas delas têm as alterações climáticas como principal inimigo.

O aumento da temperatura ambiente, a diminuição da disponibilidade de água e a irregularidade das chuvas colocam estes animais na ‘corda bamba’ da sobrevivência, uma vez que dependem fortemente da água para adquirirem oxigénio, para se manterem saudáveis e, em suma, para poderem viver.

A maioria dos anfíbios depende da sua pele húmida para fazer trocas gasosas com o ambiente e produzem muco para mantê-la hidratada. Se o nível de humidade em redor for demasiado reduzido, os anfíbios podem não conseguir respirar e morrer.

Uma equipa de investigadores quis precisamente perceber como as secas estão a afetar a sobrevivência dos anfíbios, especialmente como é que a falta de água está a alterar o microbioma que existe nas suas peles viscosas, que é essencial para protegê-los de patógenos, como o fungo Batrachochytrium dendrobatidis (ou Bd, como é vulgarmente conhecido), que tem devastado fortemente o mundo dos anfíbios.

Para tal, foram até à Serra do Japi, uma grande área de floresta tropical no bioma da Mata Atlântica, no estado de São Paulo, no Brasil, e debruçaram-se sobre uma pequena rã de tons laranja fluorescentes, descoberta recentemente na região: a Brachycephalus rotenbergae.

No campo, recolheram amostras do microbioma da pele das rãs e o trabalho decorreu durante o período crítico da seca de 2018 que se registou no estado de São Paulo.

Descobriram nove rãs mortas ou moribundas durante a expedição e mais tarde foi confirmado que tinham sido infetadas pelo fungo Bd. Apesar de as rãs Brachycephalus rotenbergae terem nas suas peles bactérias que neutralizam o efeito do fungo, acabaram mortas, tal como casos conhecidos de outras espécies por todo o mundo.

Em comunicado, Sannon Buttimer, da Universidade Estadual da Pensilvânia (Estados Unidos da América) e primeira autora do artigo publicado na ‘Ecology Letters’, explica que o evento de mortalidade causado por um surto de Bd coincidiu com um dos períodos mais secos dos últimos 60 anos. A investigadora aponta que a desflorestação da Mata Atlântica, bem como da Amazónia, tem levado à irregularidade das chuvas, com períodos secos mais longos e, por outro lado, com chuvas torrenciais noutros momentos.

Em laboratório, os cientistas analisaram as amostras microbianas recolhidas da pele das rãs, e perceberam que as que foram colhidas após períodos de chuva intensa tinham mais bactérias ‘anti-Bd’. Em amostras recolhidas um mês após um evento de seca, havia menos desses microrganismos protetores.

Os resultados levam os investigadores a sugerirem que a seca reduz a abundância de algumas bactérias que ajudam a combater o fungo Bd, deixando as rãs vulneráveis a doenças potencialmente fatais.

“Espero que os nossos resultados levem as pessoas a considerar como a desflorestação e as alterações climáticas estão a quebrar simbioses invisíveis e a provocar consequências à escala populacional”, assinala Buttimer.





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