Serviços prestados pelos abutres podem contribuir milhões de euros para economia nacional até 2048
Apesar da má reputação de que possam gozar, os abutres são espécies fundamentais para a manutenção da saúde e bom funcionamento dos ecossistemas.
Enquanto necrófagos, são elementos centrais dos ciclos de nutrientes, “reciclando” a matéria orgânica de animais mortos, impedindo, por exemplo, o surgimento e proliferação de doenças causadas pela decomposição dos cadáveres.
Agora, um relatório divulgado recentemente pela organização Vulture Conservation Foundation, no âmbito do projeto LIFE Aegypius Return, revela que esses contributos podem ser quantificados e mais valorizados, e são da ordem dos vários milhões de euros.
Os cientistas calculam que os serviços de ecossistema prestados pelos abutres-pretos (Aegypius monachus), pelos grifos (Gyps fulvus) e pelos britangos (Neophron percnopterus, também conhecidos como abutres-do-egito) ascenderam aos 668 mil euros em 2023. O valor divide-se em cerca de 313 mil euros em custos evitados com a eliminação de carcaças (por exemplo, com logística e transporte), de 163 mil em emissões de gases com efeito de estufa (gerados pelo transporte das carcaças para incineração e pela própria incineração) e, possivelmente, 192 mil provenientes do ecoturismo relacionado com os abutres (como atividades de observação das aves).
No entanto, a estimativa para 2048 pode mesmo chegar a um valor acumulado (desde 2023) de 18,6 milhões de euros, em custos evitados e em receitas de turismo de Natureza. É por volta desse ano que os especialistas preveem que, mantendo-se as ações de conservação em curso, a população de abutre-preto em Portugal atingirá os 1.500 indivíduos. Sem os esforços de conservação, a população nacional de abutre-preto, atualmente estimada nas 600 aves, poderá cair para os 100 indivíduos, o número que se registava antes das intervenções com vista à proteção e recuperação da espécie no país.
Excluindo as contribuições do ecoturismo e contabilizando somente os contributos relativamente à eliminação de carcaças e às emissões de gases com efeito de estufa, as três espécies de abutres podem gerar 2,44 milhões de euros entre 2023 e 2027, com esse valor a chegar aos cinco milhões até 2032 e aos 13,7 milhões até 2048.
Para os autores do relatório, “estas estimativas de valor constituem uma primeira indicação da importância dos abutres em Portugal para as atividades humanas e para o bem-estar”.
No entanto, ressalvam que “esta análise abrange apenas um subconjunto dos serviços dos ecossistemas prestados pelos abutres”, pelo que investigações futuras devem debruçar-se sobre aspetos como “a estimativa do valor de existência atribuído pela população portuguesa ao aumento das populações de abutres, bem como a avaliação do retorno do investimento em atividades de conservação”.