Soro probiótico e produtos de nutrição infantil podem ajudar a limpar má imagem do iogurte grego



Se é fã do iogurte grego, fique com uma má notícia: é preciso um decilitro de leite para produzir três centilitros de iogurte grego. O resto transforma-se em soro de leite ácido, um subproduto aquoso que pode ter efeitos devastadores a partir do momento em que entra nos cursos de água.

À medida que se decompõe, o soro de leite ácido retira o oxigénio da água, causando estragos nos ecossistemas aquáticos: em 2008, um derrame no estado do Ohio, nos Estados Unidos, matou mais de 5.400 animais, sobretudo peixes.

Tradicionalmente, conta o Guardian, os produtores de iogurte grego – um negócio avaliado em €1,8 mil milhões por ano – pagaram aos agricultores para lidar com o seu soro de leite ácido. São estes que têm de encontrar soluções para estes resíduos: misturando-os com a alimentação do gado ou esterco para criar fertilizantes. Mas estas tácticas têm deficiências: o soro de leite não é saudável, em grandes quantidades, para o gado; por seu lado, o fertilizante é levado para os cursos de água, provocando problemas nos ecossistemas aquáticos.

Nos últimos anos, porém, a indústria virou-se para a academia para encontrar soluções para lidar com o soro de leite e, inclusive, torná-lo consumível para os humanos. Um dos investigadores mais conhecidos da indústria de lacticínios, Dean Sommer, do Wisconsin Center for Dairy Research (CDR), é um dos responsáveis pelas principais inovações.“Em apenas três anos conseguimos perceber o que fazer com [o soro de leite ácido]”, explicou ao Guardian.

O trabalho de Sommer passa por partir do soro de leite em vários componentes – para além de 95% de água, há outros elementos valiosos. Se extrairmos a penas o ácido láctico, por exemplo, ele pode ser pulverizado na carne para combater as bactérias. “Como mistura, o soro de leite é problemático”, explicou Sommer. “Mas isto altera-se quando isolamos e purificamos os seus componentes”.

A equipa de Sommer tem as ferramentas e tecnologia para o fazer. Por isso, o próximo passo é perceber quem está interessado em comprar e utilizar estes componentes. O soro doce, um dos subprodutos do fabrico de queijo, passou pelo mesmo estigma há uns anos, e ultrapassou-o, continua o Guardian.

Os principais produtos à base de soro de leite ácido

Uma das empresas que já vende o soro de leite é a White Moustache, baseada em Nova Iorque e fundada pela iraniana Homa Dashtaki. “Isto é comida e estou sempre a dizer às pessoas que, se querem comer iogurte, devem beber o soro”, explicou ao Guardian.

A White Moustache utiliza o soro de leite em vários produtos, mas também substitui o leite em receitas de muffins. Consumido de forma independente, ele está a ser remarquetado como soro probiótico, vendido no seu sabor natural ou nas variedade gengibre, lima ou mel.

A empresa dinarmarquesa Arla Foods Ingredients, por outro lado, está a juntar soro de leite a uma proteína chamada Nutrilac. Combinados, eles podem criar vários produtos secundários, incluindo o alphalactalbumim, que pode ajudar pacientes com diabetes tipo-2.

A Arla Foods advoga ainda que a utilização de Nutrilac em bebidas desportivas e nutrição infantil.

À medida que as investigações de Sommer sejam efectivadas na indústria, outros produtos podem surgir do soro de leite ácido. E isso são boas notícias para a indústria da alimentação mas também para a preservação do ambiente e, claro, apreciadores de iogurte grego.

Foto: Rebecca Siegel / Creative Commons





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