Surf no Alqueva?



Por Andreia Morita, Business Developer na HORA Comunicação

Quando nos referimos à economia azul é quase imediato focar o pensamento no mar, o que é compreensível num país em que mais de 90% do seu território é mar. Acresce a este facto que historicamente este recurso foi – e continua a ser – o sustento de muitas famílias.

Creio que podemos fazer a seguinte analogia: Se Portugal não é só Lisboa, a economia azul não é só mar… Falo de rios e barragens que quando devidamente explorados podem constituir importantes pólos económicos. A atual reflexão sobre a escassez de água, reforça a necessidade de otimizar consumos, tornando-se pertinente apostar na inovação ligada à economia azul. De acordo com os princípios financeiros uma economia azul sustentável é aquela que “proporciona benefícios sociais e económicos para as gerações atuais e futuras; restaura, protege e mantém ecossistemas diversos, produtivos e resilientes; baseia-se em tecnologias limpas, energias renováveis e fluxos circulares de materiais”.

Ou seja, uma economia colaborativa, circular e que valoriza e respeita os ativos naturais. Está assim definido o caminho para desenvolver rios e barragens de forma sustentável, importa agora sensibilizar os agentes políticos e económicos para esta realidade. Poderá não ser tecnicamente viável fazer surf no Alqueva, mas é evidente que devemos apostar na inovação aplicada à utilização da água doce para estimular novas áreas que não apenas as relacionadas com o mar. As praias fluviais do nosso país fazem sucesso, mas uma coisa que a pandemia veio mostrar é que a economia ligada às barragens não pode estar apenas focada no turismo.

Há que investir, inovar para a criação indústrias e empregos azuis que vão mais além e criem pólos económicos ao redor deste recurso. Um bom exemplo é o caso de River’Tri, o primeiro centro fluvial de reciclagem da Europa, acolhido pela cidade de Lyon, que recolhe 300 toneladas de resíduos por ano. Um projeto inovador e desafiante que veio mostrar que existe ainda muita água a navegar.

Em relação a Portugal, temos também projetos interessantes ligados à aquicultura, como o caso das truticulturas na região Centro e Norte do país, ou a alternativa à produção tradicional de vegetais e peixe em águas interiores, a aquaponia, que estabelece a ligação entre a agricultura e a produção de peixes, resultando no aproveitamento das águas de cultura destes para a produção de vegetais/frutos, sendo novamente direcionada para os tanques.

Por fim, não poderia deixar de referir o exemplo da Ervideira que coloca o seu “vinho de água” a estagiar nas profundezas no Alqueva. Estes e outros projetos podem também ser financiados através de plataformas de crowdlending , como é o exemplo da Go-Parity, que já expressou o seu objetivo de chegar aos dois milhões de euros investidos na Economia Azul até ao final de 2021, ou pelo novo fundo Portugal Blue, que resulta de uma parceria entre o Fundo Europeu de Investimento com a Instituição Financeira de Desenvolvimento, através da mobilização de 75 milhões de euros para projetos de economia azul.

Os financiamentos e oportunidades existem, o empreendedorismo de água doce é possível, necessitando apenas que a inovação associada a este seja estimulada. Portugal é um país de descobridores, importa então criar a consciência que nos “Alquevas” também é possível apanhar ondas de oportunidades.

Artigo publicado na Revista Green Savers nº3





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