Tecnologia de imagem avançada ajuda a monitorizar os corais bebés no recife



Manter um olhar atento sobre os corais recém-estabelecidos à escala submilimétrica na Grande Barreira de Coral é agora muito mais fácil. Num artigo publicado na revista Methods in Ecology and Evolution, uma equipa de cientistas da Southern Cross University e da CSIRO demonstra como as técnicas avançadas de imagiologia podem oferecer novas oportunidades para monitorizar e estudar o recrutamento de corais e outros organismos sésseis (ligados), a uma escala surpreendentemente fina, diretamente no recife.

Este novo método “é particularmente útil para monitorizar o sucesso do recrutamento de corais recém-estabelecidos na sequência de intervenções de restauro de larvas de coral: quando larvas microscópicas criadas em viveiros flutuantes de corais são libertadas em massa nos recifes danificados pelos impactos das alterações climáticas para dar início à sua recuperação”.

“O recrutamento de corais ocorre a uma escala invisível ao olho humano (menos de 1 mm) e, até agora, exigia a utilização de placas artificiais fixadas ao recife para serem posteriormente examinadas em microscópios para quantificar os corais recém-assentados”, afirmou Marine Gouezo, autora principal e investigadora de pós-doutoramento na Southern Cross University, citada em comunicado divulgado no site “Scimex”.

“Com este novo método, as observações do recrutamento de organismos com 0,5 milímetros de tamanho, como os corais com dois meses de idade, podem ser documentadas e acompanhadas ao longo do tempo no seu habitat natural: o recife”, acrescenta.

O estudo demonstra a aplicação da macrofotogrametria subaquática: uma combinação de macrofotografia (a arte de tirar fotografias em grande plano com uma resolução muito elevada para ver organismos minúsculos, normalmente com menos de 1 mm de tamanho) e fotogrametria (uma técnica que “junta” estas fotografias para recriar modelos tridimensionais (3D) de pequenas porções do recife).

Ao contrário dos métodos tradicionais de observação no terreno que dependem de dispositivos artificiais (como azulejos), esta abordagem inovadora permite aos cientistas monitorizar diretamente a fixação e o recrutamento de larvas num recife, o que a torna “valiosa” para avaliar o sucesso das intervenções de restauração das larvas de coral.

“Embora a fotogrametria à escala do recife seja normalmente utilizada em levantamentos ecológicos subaquáticos, especialmente durante programas de monitorização para documentar alterações ao longo do tempo, como a cobertura de corais, não tem a resolução necessária para detetar corais bebés. Esta técnica de macrofotogrametria pode complementar a fotogrametria à escala do recife, ampliando pequenas porções dos recifes para monitorizar o recife à escala submilimétrica, que é a escala em que ocorre o recrutamento dos corais”, afirma Gouezo.

Técnica evita a necessidade de instalação de equipamento no recife

Para projetos de grande escala, como a restauração das larvas de coral na Grande Barreira de Coral, a técnica de macrofotogrametria é rentável e evita a necessidade de instalação de equipamento no recife ou o acesso a microscópios de laboratório. Fornece um registo tridimensional (3D) permanente de pequenas áreas de recifes, caracterizando os organismos associados aos recifes no seu ambiente natural.

Os avanços na fotografia moderna, combinados com a capacidade de as câmaras operarem debaixo de água, juntamente com software para reconstrução de modelos 3D, “revolucionaram a investigação dos recifes de coral”. A digitalização desta etapa de monitorização “abre portas a oportunidades de processamento automático e técnicas de aprendizagem automática”.

“O método de macrofotogrametria oferece aos investigadores uma abordagem de monitorização para compreender a dinâmica oculta da vida marinha com um detalhe sem precedentes. Estou entusiasmada com o seu potencial para fazer avançar a investigação ecológica marinha e os esforços de recuperação”, explica Gouezo.

Gouezo é um membro sénior da equipa de restauração de larvas de coral da Southern Cross University, liderada pelo professor Peter Harrison, também coautor do artigo.

Christopher Doropoulos, cientista de investigação sénior da CSIRO Environment, outro coautor, exlica que “esta técnica de macrofotogrametria permite-nos examinar, pela primeira vez, as primeiras fases do recrutamento de corais em ambientes de campo no recife, em vez de utilizarmos indicadores como os azulejos de assentamento”, sublinha Doropoulos.

“Aprofundará os nossos conhecimentos ecológicos sobre o que limita e o que promove a colonização larvar bem-sucedida e a sobrevivência precoce para otimizar a aplicação e a escala das operações de restauração de corais baseadas em larvas no recife”, acrescenta.

Esta investigação foi financiada pelo subprograma Moving Corals do Reef Restoration and Adaptation Program (RRAP) e o diretor executivo do RRAP, Cedric Robillot, explica que “métodos de fotogrametria como estes estão a ser desenvolvidos em todo o RRAP e ajudam-nos a colmatar lacunas críticas de conhecimento na recuperação dos recifes”.

“É um passo importante na jornada para desenvolver e testar novas soluções científicas e disponibilizá-las aos gestores para ajudar a Grande Barreira de Coral e outros recifes de coral a sobreviver aos efeitos das alterações climáticas nas próximas décadas”, conclui.





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