Tecnologia inspirada na natureza pode recuperar biliões em recursos críticos de resíduos mineiros



Investigadores australianos desenvolveram uma nova tecnologia de filtração inspirada nos mecanismos naturais das plantas, capaz de recuperar metais valiosos como lítio e cobre a partir de águas residuais da indústria mineira — um avanço com potencial para transformar a gestão de resíduos e impulsionar a transição energética global.

Uma equipa da Universidade Nacional da Austrália (ANU), em colaboração com a gigante mineira Rio Tinto, está a desenvolver um sistema inovador que utiliza nanotecnologia e proteínas bioengenheiradas para separar metais preciosos e purificar águas contaminadas, inspirando-se na forma como as plantas lidam com nutrientes e toxinas há milhares de milhões de anos.

O sistema, baptizado de BERST (Bioderived Element Resource Separation Technology), promete não só recuperar recursos minerais estimados em mais de 5 biliões de dólares atualmente perdidos em águas residuais de minas inativas, como também transformar essa água poluída em água limpa e reutilizável.

“A construção de um futuro sustentável depende da gestão cuidadosa dos recursos críticos necessários à transição para as energias verdes”, afirma a Professora Caitlin Byrt, investigadora principal do projeto.
“O BERST oferece uma solução inovadora e eficaz, que permite recuperar estes recursos e ao mesmo tempo reduzir a pegada ambiental dos locais de mineração”, acrescenta.

Um duplo benefício: recuperação de recursos e reabilitação ambiental

A tecnologia está a ser desenvolvida numa altura em que a Austrália enfrenta o encerramento iminente de cerca de 240 minas até 2040, somando-se a milhares de outras a nível mundial. Segundo estimativas, os custos anuais de reabilitação e encerramento de minas no país rondam os 4 a 8 mil milhões de dólares australianos.

“O BERST pode ajudar a cortar significativamente esses custos, criando simultaneamente novas fontes de rendimento para as empresas mineiras”, explica Byrt.

“A má gestão de resíduos mineiros representa riscos ambientais sérios — como a drenagem ácida, que afeta milhares de quilómetros de cursos de água doce e é considerada pela ONU como o segundo maior problema ambiental global, logo a seguir às alterações climáticas”, adianta.

Proteínas programadas ao detalhe

Uma das principais inovações do BERST é a utilização de proteínas seletivas, cada uma programada para reconhecer e extrair um mineral ou metal específico, o que garante precisão e eficiência mesmo em fluxos de resíduos complexos.

“Se tivermos um fluxo de resíduos com dez metais diferentes, conseguimos programar uma proteína para extrair cada um deles em simultâneo,” afirma Samantha McGaughey, também da ANU e recentemente nomeada Cientista do Ano 2025 na região de ACT.

Além da recuperação de recursos essenciais à segurança alimentar e energética, a tecnologia oferece uma solução prática e sustentável para a purificação de água contaminada — um benefício adicional que poderá ter impacto direto na segurança hídrica global.

“Esse é provavelmente o maior trunfo da nossa tecnologia. As plantas já fizeram o trabalho difícil ao longo da evolução. Limitamo-nos a adaptar os seus mecanismos naturais ao contexto industrial”, acrescenta a investigadora.

Tecnologia versátil e adaptável

Outro dos pontos fortes do BERST é a sua versatilidade de escala e portabilidade. Pode ser instalado como uma unidade portátil de dois litros, até ao tamanho de um contentor marítimo ou mesmo integrado numa infraestrutura industrial de grande dimensão.

“Esta flexibilidade permite que o BERST seja facilmente transportado e instalado em qualquer mina do mundo”, conclui Byrt.

Atualmente em fase de protótipo, o BERST tem como objetivo ajudar a limpar os passivos ambientais da indústria mineira, ao mesmo tempo que contribui para a recuperação de matérias-primas essenciais à transição energética — como o lítio, o cobre e outros minerais críticos.

O conceito foi publicado na conferência Mine Closure 2025, promovida pelo Australian Centre for Geomechanics.






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