Têxteis Portugueses: Um Ouro Esquecido nos Jogos Olímpicos



Por Luis Cristino, presidente da Assembleia Geral da Academia Têxtil e co-fundador da plataforma sustentável OMA

A festa das Olimpíadas já acabou.

A festa que nos trouxe algumas tristezas, mas também algumas alegrias, medalhas e diplomas olímpicos. Se poderiam ser mais? Para nós, atletas de bancada, poderiam ser sempre mais, porque os nossos atletas são os melhores do mundo, e merecem todo o nosso apoio e respeito. Por minha vontade trazíamos 73 medalhas de ouro, uma para cada um! Bem as merecem por “fazerem das tripas coração” e “omeletes sem ovos”. A todos eles, os meus parabéns. Com tão pouco, fizeram muito! Fizeram com que fosse a melhor participação nacional de sempre nos Jogos Olímpicos.

Mas não é de medalhas que vos venho falar. É de uma questão que já trago comigo há alguns anos, e que de quatro em quatro anos se agudiza mais.

Mas falaremos disso mais adiante, primeiro façamos um pequeno enquadramento do setor têxtil. Este é composto por mais de 6000 empresas, o têxtil português tem evoluído para se tornar um exemplo de inovação e sustentabilidade. Empregando mais de 130 mil pessoas e com exportações a rondar os seis mil milhões de euros, o setor não só contribui significativamente para o PIB nacional, como também coloca o nosso país entre os líderes mundiais em inovação e tecnologia têxtil.

É um dos mais bem vistos em todo mundo, aliado à sua inovação, tecnologia e preocupação com a sustentabilidade (não só ambiental). Em qualquer feira ou concurso internacional que as empresas portuguesas vão, não há “medalha” qua não tragam para casa. Temos um cluster único no mundo, reconhecido e premiado internacionalmente!

Já há muitos anos que as empresas têxteis nacionais são fornecedoras das principais e mais conceituadas marcas desportivas mundiais, seja de malhas para incorporar em artigos ou de peças usadas por atletas nas suas provas olímpicas mais importantes. E não pensem que isto se deve apenas por preço, mas sim e apenas à inovação, ao conceito e à funcionalidade e tecnologia que oferecem.

A indústria têxtil Portuguesa soube posicionar-se no mundo com criatividade, investigação, inovação, eficiência e preocupação com o Planeta. Não somos somente fornecedores de artigos básicos num mercado global que cada vez mais só olha para o preço. Soubemo-nos diferenciar, e prova disso é termos empresas portuguesas na liderança do que se faz nesta área.

Não tinha ideia?! Sabe o que Nelson Évora, Michael Phelps, Usain Bolt e Diogo Ribeiro têm em comum além das medalhas e recordes conquistados como campeões do mundo ou olímpicos? O triatleta português, o nadador americano e o velocista jamaicano, outrora conhecido como “o homem mais rápido do mundo” e agora o jovem nadador português, chegaram ao pódio das grandes competições vestidos com têxteis de alta tecnicidade made in Portugal.

São somente apenas quatro exemplos que ajudam a mostrar como o setor têxtil português triunfa e é reconhecido no difícil e exigente mundo desportivo de alta competição.

Temos empresas têxteis portuguesas que o seu core-business é vestir atletas de alta competição, com vestuário de elevado desempenho e know-how que leva a funcionalidade do equipamento ao extremo, permitindo ao atleta que o veste alcançar a tão desejada medalha ou quebrar recorde. Resultado de todo um caminho de anos com cruzamento de competências que obrigou a muitas horas de investigação, inovação, desenvolvimento e testes. Provando que inovar e encontrar soluções para desporto de alta competição também está no ADN no sector têxtil nacional.

O foco de algumas empresas nacionais é mesmo desenvolver malhas e vestuário técnico para diferentes segmentos e desportos, por isso, facilmente, e orgulhosamente, encontramos “mão” e tecnologia portuguesa nos equipamentos de Formula 1 da Red Bull, no equipamento de rugby da seleção Australiana ou dos temidos All Black (seleção neozelandesa de rugby), no tenista Andy Murray, ou no ciclista Chris Froome quando pedalava pela Team Sky e que vestiu por quatro vezes um maillot jaune no final do Tour de France nos campos Elísios também ele fabricado em Portugal.

Chegados ao fim destas olimpíadas, é inevitável, para quem já viveu mais de metade da sua vida no setor têxtil, sentir uma certa tristeza e preocupação. Com tantas provas dadas e medalhas conquistadas pelos nossos atletas, pergunto- me: por que não aproveitamos o reconhecimento internacional do nosso know- how têxtil no equipamento desportivo? Por que não o exibimos na maior montra desportiva do mundo, os Jogos Olímpicos?

Poderíamos ter mostrado, com orgulho, a qualidade e a competência dos têxteis técnicos e desportivos portugueses, num palco que capta a atenção de milhões. Os Jogos Olímpicos são uma oportunidade única para promover o que de melhor se faz em Portugal. É incompreensível que, sabendo disto, não tenhamos tido marcas portuguesas a equipar os nossos, além dos trajes formais, proudly designed and made in Portugal.

Deveríamos ter visto os nossos atletas olímpicos não apenas a competir e superarem-se, mas também a mostrar ao mundo o que Portugal tem de melhor do sector têxtil. É essa a minha inquietação, e acredito que muitos outros partilham deste mesmo sentimento. Como portugueses, será que sabemos verdadeiramente defender o que é nosso? Estamos dispostos a unir-nos e a demonstrar o espírito patriótico necessário para valorizar a nossa indústria têxtil altamente especializada e inovadora, da mesma forma que vibramos com cada vitória ou medalha olímpica?

É preciso refletir. Precisamos de um desígnio nacional que não só celebre os feitos dos nossos atletas, mas também valorize e promova os produtos portugueses, neste caso os equipamentos desportivos de uma indústria com mais que provas dadas por esse mundo fora, especialmente em eventos de grande visibilidade global. Se conseguirmos essa união, todos nós, enquanto nação, sairemos a ganhar.

Porque afinal, valorizar o que é nosso é a melhor forma de projetar Portugal no mundo.





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