Tinta de choco pode ser usada para manter tubarões afastados das praias

Um jato de tinta é uma das armas que os cefalópodes têm no seu arsenal para poderem escapar às mandíbulas dos predadores. Um deles é o tubarão.
Grandes caçadores dos mares e oceanos, os tubarões têm sentidos formidáveis que lhes permitem localizar presas a grandes distâncias, através de um sofisticado sistema visual, de uma excelente audição e de um sentido olfativo bastante desenvolvido. Contudo, a sua força pode também ser a sua fraqueza.
Uma investigação liderada pela University College Dublin (Irlanda) revela que um dos principais componentes da tinta de uma espécie de choco, o Sepia officinalis, é capaz de assoberbar o olfato apurado dos tubarões, funcionando como um “repelente químico”, dizem os investigadores em comunicado.
Esse componente é a melanina, cuja estrutura faz com que se “cole” aos recetores olfativos dos tubarões, impedindo que o predador consiga captar qualquer outro odor. Os investigadores argumentam que os tubarões tendem mesmo a evitar áreas nas quais tenha sido libertada tinta de choco.
“Compreender como espécies-presas, como o choco, evoluíram para explorar as vulnerabilidades específicas de predadores como os tubarões não apenas enriquece o nosso conhecimento sobre os ecossistemas marinhos, mas também fornece inspiração para ferramentas de conservação baseadas em processos naturais”, diz Colleen Lawless, primeira autora do artigo publicado na revista ‘G3 Genes | Genomes | Genetics’.
Os investigadores, com base nos resultados do trabalho, acreditam que será possível criar soluções à base de tinta de choco que permitam manter os tubarões afastados de áreas costeiras frequentadas por humanos, como as praias. O objetivo é reduzir as interações negativas entre os banhistas, mergulhadores, surfistas ou pescadores e esses predadores marinhos, promovendo uma coexistência mais pacífica entre todos.
E estão convencidos de que o efeito da tinta será o mesmo para vários tipos de tubarões, por terem estruturas sensoriais olfativas muito semelhantes, independente das particularidades ecológicas de cada espécie.
“Usando o que descobrimos, poderá ser possível ativar, de forma segura e direcionada, repelentes perto de praias, locais de aquacultura ou zonas de pesca para minimizar os encontros entre tubarões e humanos”, salienta Lawless em nota.