Turfeiras: Um ecossistema em risco que é essencial para combater as alterações climáticas



As turfeiras são ecossistemas húmidos constituídos por uma mistura de matéria orgânica vegetal parcialmente decomposta e por minerais, e formam-se em zonas de acumulação de água, sendo, por isso, locais de grande diversidade biológica, especialmente de plantas.

Apesar de cobrirem apenas entre 3% a 4% da superfície terrestre, as turfeiras desempenham um papel fundamental no que toca ao aquecimento global e, consequentemente, às alterações climáticas. Isto porque nos seus solos está armazenado até um terço do carbono encontrado nos solos de todo o mundo, o dobro da capacidade de sequestro de toda a biomassa florestal a nível global.

Para além disso, desempenham também um papel central nos ciclos da água, filtrando e armazenando-a, bem como impedem a ocorrência de cheias.

Por isso, o Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP) descreve as turfeiras como “ecossistemas únicos e raros” que albergam “espécies únicas”, além de “transportarem um significado cultural grande para comunidades em todo o mundo”.

Contudo, num relatório divulgado esta semana pela mesma agência, é revelado que cerca de 12% das turfeiras existentes foram drenadas e degradadas, pelo que, ao invés de serem ‘armazéns’ de carbono, têm vindo a contribuir perto de 4% todos os anos para as emissões globais provocadas pela atividade humana.

A análise do UNEP mostra que aproximadamente 500 mil hectares de turfeiras, uma área que equivale ao dobro da cidade do Cairo, são perdidos todos os anos pela mão humana.

Reconhecendo a sua centralidade no quadro das alterações climáticas e a sua importância para a adaptação das comunidades e para a mitigação dos piores efeitos, o relatório salienta que “as turfeiras serão parte do problema ou uma peça-chave da solução”.

Se continuarem a ser destruídas e se não houver esforços de recuperação das áreas degradadas, as turfeiras poderão impulsionar o aquecimento do planeta, fazendo com que a meta de 1,5 graus Celsius de subida da temperatura média global, estabelecida pelo Acordo de Paris de 2015, fique fora do nosso alcance.

Por outro lado, se realmente houver a recuperação de trufeiras degradadas, isso contribuirá para uma redução de 10% no total de emissões de gases com efeito de estufa, sendo um elemento fundamental das estratégias baseadas na natureza (nature-based, em inglês) para combater as alterações climáticas.

Contas feitas, os autores do relatório estimam que com um investimento de apenas 40 mil milhões de dólares seria possível reduzir em 2% o total das emissões globais, através a conservação das turfeiras pristinas e da regeneração das que estão degradadas nos países tropicais.

No entanto, os especialistas deixam um aviso: “O custo da recuperação de turfeiras continuará a aumentar, à medida que as turfeiras saudáveis existentes forem drenadas”, pelo que o custo do restauro será sempre superior ao da sua conservação.

Inger Andersen, diretora-executiva do UNEP, salienta que “se queremos realmente agir sobre as alterações climáticas, temos de proteger, recuperar e gerir de forma sustentável as turfeiras”, explicando que “onde quer que as turfeiras sejam degradadas ou drenadas, as emissões prejudiciais continuarão a ser libertadas durante décadas”.

De acordo com a associação ambientalista Zero, em Portugal apenas 1,8% do território é ocupado por zonas húmidas, e apesar da proteção legal que lhe é conferida, especialmente através da Convenção sobre Zonas Húmidas, de 1971, “77% dos habitats relacionados com as zonas húmidas de Portugal e Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira se encontram degradados”.





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