Vamos comer peixe-leão e ajudar os oceanos

Talvez nunca tenha ouvido falar do peixe-leão. Também conhecido como peixe-dragão, peixe-pedra ou peixe-escorpião, é um peixe marinho venenoso e uma espécie invasiva, nativa do Pacífico e Índico, que nas últimas décadas tem vindo a invadir as águas do Atlântico e do Caribe. Neste novo ambiente – com predadores que não os reconhecem como alimentos e presas que não os reconhecem como uma ameaça – , a população explodiu. O impacto do peixe é mais evidente no sudeste dos Estados Unidos, no Golfo do México e em todo o mar do Caribe, onde estão a dizimar os ecossistemas de recifes a um ritmo alarmante.
Os peixe-leão não são muito exigentes no que diz respeito à sua alimentação: engolem qualquer coisa que caiba nas suas bocas. Através dos espinhos que possuem encurralam as presas e depois engolem-nas num só movimento. Nas Bermudas, reduziram a população de peixes locais em 65%, em apenas dois anos; e na Florida, quando quase esgotaram o suprimento de presas, voltaram-se para o canibalismo. Ninguém sabe ao certo como esta invasão teve início, mas tudo leva a crer que os humanos foram os responsáveis pela propagação. Perante o que os cientistas já dizem ser uma ameaça sem precedentes para a biodiversidade marinha, os conservacionistas já começaram a apelar aos amantes de peixe para lutar este flagelo com as mesmas armas. Por outras palavras, sugerem que o homem deve comer peixe-leão antes de comer qualquer outro peixe.
E se é verdade que este peixe com riscas laranja e braco, rodeado de espinhas, parece mais adequado a um aquário do que num prato, já há quem tenha levado esta sugestão muito a sério. É o caso do DK Puerto Morelos, um pequeno restaurante na costa mexicana do Yucatán, que tem vindo a dar que falar. No seu menu, há um único peixe: o peixe-leão, que é servido em bolinho, frito ou grelhado, servido sobre arroz de coco ou envolto num taco, tudo em nome da preservação marinha.
Como explica Luis Rodriguez à revista de viagens norte-americana AFAR, tudo começou quando se mudou de Nova Iorque para a Riviera Maya, há alguns anos, e teve conhecimento da extensão do impacto das espécies na área. Vendo o peixe num mercado local, ficou curioso e decidiu cozinhá-lo. “Lembro-me de pensar, ‘vou fazer a minha parte pelo planeta. Espero que isso não seja mau'”, recorda-se. Então descobriu o que muitos restauradores da região entretanto também descobriram: o peixe-leão é delicioso. “É semelhante à garoupa – tem uma carne branca com sabor suave e uma boa textura escamosa quando cozida. O meu último trabalho em Nova Iorque foi no Oceana, um dos melhores restaurantes de peixe da cidade, e [este peixe-leão] estava no mesmo nível que os peixes que eu serviria lá”, contou à AFAR.
Inicialmente não estava à espera de tanta procura, mas à medida que as críticas cinco estrelas iam surgindo no TripAdvisor, os outros pratos do DK Puerto Morelos foram perdendo a importância e o peixe-leão passou a ser a grande estrela aqui, e noutros restaurantes e resorts das vizinhanças. Parece que os apelos para que os pescadores apanhem prioritariamente peixe-leão têm resultado, já que é uma das melhores formas de manter seus números sob controle e ajudar a recuperar o habitat original dos recifes.
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