Web Summit: Ativista defende economia circular como resposta para crise climática
A ativista ambiental Sage Lenier disse ontem que o atual modelo da economia mundial é a principal causa da crise ecológica e defendeu a necessidade de transição para uma economia circular para garantir sustentabilidade ambiental e equidade social.
“Os combustíveis fósseis não são a causa real da crise ecológica, a economia é que é”, afirmou Sage Lenier, 24 anos, fundadora da organização sem fins lucrativos “Sustainable & Just Future”, numa intervenção na Web Summit.
Na cimeira tecnológica que decorre em Lisboa, a ativista defendeu que para reverter a crise ecológica e garantir um futuro mais sustentável é necessário usar menos energia e para tal é essencial alterar o sistema económico para uma economia circular, baseada em serviços em vez de bens materiais e na reutilização de recursos pelo máximo tempo possível.
“Não podemos transitar para energias renováveis de uma forma rápida sem causar uma rutura enorme, temos de usar menos energia e mesmo que pudéssemos usar imediatamente apenas energia verde, ainda estaríamos a cortar demasiadas árvores e a usar demasiados recursos do planeta”, disse a jovem ativista, que aponta como soluções a redução das indústrias não sustentáveis, como a indústria da moda, o desenvolvimento de novas indústrias, como a indústria alimentar sustentável e a aposta nos transportes públicos.
“Muitas das coisas que vemos hoje como boas para o planeta, como a reciclagem e os carros elétricos, são só menos más do que a alternativa. Os carros elétricos, por exemplo, que usam materiais como o cobalto estão no centro da crise dos direitos humanos no Congo, país que tem as maiores das reservas desse minério”, disse Sage Lenier.
A ativista salientou ainda a necessidade de tornar os equipamentos tecnológicos mais duradouros, através de processos como a normalização de tipos de cabos de ligação e facilitação da troca de baterias e de ecrãs partidos, de modo a garantir a durabilidade dos materiais e prevenir a produção e consumo em massa excessivos.
De acordo com Sage Lenier, o sistema económico atual é baseado na extração, processamento e venda de recursos escassos por parte das grandes empresas num ciclo vicioso que destrói os ecossistemas, contribui para o crescente aquecimento do planeta e cria problemas sociais.
“As maiores corporações do mundo, a indústria da moda, da tecnologia e as empresas petrolíferas estão a construir um futuro que inclui sofrimento em massa para os humanos e outras espécies”, advertiu.
“Os nossos recursos não são obtidos eticamente e o trabalho escravo é uma realidade, sobretudo o trabalho escravo de crianças”, lamentou Lenier, que luta pelo trabalho dignificado e justiça social, lembrando que do total de emissões globais de dióxido de carbono (CO2), entre 62% e 75% estão ligadas ao consumo excessivo.
A ativista fez ainda um desafio às grandes empresas, afirmando que “todas as corporações apressam-se a provar que se importam com a diversidade, ética e inclusão mas é preciso ver isso a ir além das campanhas” e concluiu reforçando a necessidade de educar a nova geração sobre os problemas ambientais.
A “Sustainable & Just Future” pretende divulgar informação para “equipar a próxima geração” com os conhecimentos e competências de que necessita para sobreviver e adaptar-se a um mundo com alterações climáticas.