Zoo na Austrália recruta cães para ajudar a criar crias de chita em cativeiro



Muitas vezes se diz que “o Cão é o melhor amigo do Homem”. Mas os canídeos podem ser também os melhores amigos de outras espécies, como o provou um parque zoológico na Austrália.

No dia 22 de fevereiro deste ano, uma cria de chita (Acinonyx jubatus) nasceu no Taronga Western Plains Zoo, na cidade de Dubbo, no estado de Nova Gales do Sul. A pequena fêmea, de nome Rozi, teve de ser separada da progenitora, pois essa não produzia leite, sem o qual a cria não conseguiria desenvolver-se.

Após meses de cuidados intensivos no hospital veterinário do zoo, Rozi foi alojada nas instalações de reprodução em cativeiro de chitas, mas não ficou sozinha. À chita juntou-se Ziggy, um cachorro cruzado de Labrador, Kelpie e Collie.

Tinham ambos pouco mais de dois meses de idade quando se conheceram e a introdução foi feita gradualmente e sob o olhar atento das equipas de tratadores desse zoo australiano. Segundo Jordan Michelmore, tratadora de chitas, explica, em comunicado, que as crias de chita na Natureza normalmente aprendem várias competências e comportamentos essenciais à sua sobrevivência através de interações com os irmãos. Sendo filha única, Rozi ano tinha como aprender o que precisava para ser uma verdadeira chita, pelo que Ziggy assumiu esse papel.

Passado quase meio ano desde o primeiro encontro, “os dois tornaram-se melhores amigos e tem sido maravilhoso ver a relação deles a desenvolver-se”, refere Michelmore. “Através dela, a Rozi consegue desenvolver com o Ziggy os mesmos comportamentos que teria desenvolvido com os seus irmãos verdadeiros”, acrescenta, com o canídeo a servir como “pseudo-irmão”.

Não é a primeira vez que o Taronga Western Plains Zoo recorre a uma abordagem como esta. A própria mãe de Rozi, chamada Siri, também ela filha única, foi criada com uma cadela de nome Iris há quase uma década. Os tratadores dizem que a relação entre os dois animais e as aprendizagens por ela possibilitadas, permitiram a Siri adquirir competências cruciais para a sua relação com outras chitas. E dizem que isso foi fundamental, pois Siri faz parte do programa de reprodução em cativeiro desta espécie ameaçada, classificada como “Vulnerável” na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza.

A introdução de Ziggy a Rozi foi feita gradualmente e sob o olhar atento das equipas de tratadores. Foto: Taronga Western Plains Zoo.

“Percebemos com a Siri, quando a começámos a pôr com machos, que ela tinha uma confiança, uma resiliência e uma capacidade de socialização que realmente melhoraram os seus comportamentos reprodutivos”, recorda Michelmore.

No entanto, a relação em Rozi e Ziggy, tal como aconteceu no caso de Siri e Iris, não será para sempre. As chitas fêmeas tendem a ficar com as progenitoras e os irmãos durante os seus primeiros 12 a 18 meses de vida, após o que dispersam em busca dos seus próprios territórios. As chitas fêmeas são geralmente solitárias, à exceção da reprodução e quando têm crias ao seu cuidado.

Quando chegar essa altura, Ziggy será adotado por um membro do zoo australiano.

A instituição zoológica argumenta que a abordagem de recorrer a cães para desempenharem o papel de “irmãos adotivos” das chitas que não têm irmãos reais é fundamental para o sucesso da reprodução em cativeiro desses indivíduos. De outra forma, as chitas não teriam como adquirir os comportamentos adequados para poderem interagir devidamente com outros membros da sua espécie e para se reproduzirem.

Estima-se que existam atualmente menos de sete mil chitas adultas na Natureza, e as suas populações continuam em declínio. No passado, ocorriam um pouco por todo o continente africano, no Médio Oriente e até na Ásia, da Índia ao Usbequistão, passando pelo Paquistão, Afeganistão e Turquemenistão. Contudo, conflitos com humanos (quando as presas selvagens escasseiam, as chitas alimentam-se de animais domésticos), a caça furtiva e o tráfico estão a levar a espécie para o precipício da extinção.

Para evitá-lo, várias organizações zoológicas estão a comandar programas de reprodução em cativeiro com o objetivo de revitalizar as populações selvagens, melhorar o seu estado de conservação e evitar os piores cenários.






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