“Uma receita de bem-estar”, Artigo de opinião de Álvaro Cidrais*
No período de crise civilizacional que atravessamos (alguns apenas se preocupam com as suas componentes económicas e financeiras), o voluntariado ganha honras de Ano Europeu. Parabéns UE. Finalmente dão-lhe a importância institucional que merece! É essencial e oportuno.
Essencial porque pode articular as gerações na construção de uma vida melhor. Oportuno porque o modelo liberal excessivamente economicista e predador de recursos tende agora a gerar mais excluídos (desempregados, deprimidos e sem afectos) em todas as gerações.
Devemos encorpar esta iniciativa. Pode ser um salto qualitativo de bem-estar para os idosos, para os activos empregados, os jovens e as crianças. Portanto, apesar dos objectivos limitados da proposta:
1. Criar um ambiente propício ao voluntariado na UE;
2. Dar meios às organizações que promovem o voluntariado para melhorar a qualidade das suas actividades;
3. Reconhecer o trabalho voluntário;
4. Sensibilizar as pessoas para o valor e a importância do Voluntariado. Enchamo-nos de brio e… para a frente, façamos algo com jeito! Até será fácil!
Primeiro, agarramos no tempo livre, na experiência dos mais velhos e na sua vontade de serem úteis à sociedade, sendo por elas reconhecidos como valiosos. Depois, nas associações existentes, criamos actividades de grupo e de ganhos múltiplos que dão um sentido não egoísta e não solitário à vida. Há tanta coisa boa que é preciso fazer e valorizar! Ajudamos quem sente vontade de tomar as rédeas de uma transfiguração sócio-cultural que muito nos faz falta. Apoiamos as ideias válidas das pessoas, que reforçamos com recursos e energia. Bastam pequenos nadas, muito simples, que fazem muito!
A seguir, incentivamos a participação da geração de activos, como eu – super ocupados com os afazeres e as responsabilidades profissionais ou do poder consumista que nos cilindra – numa base de apoio e de “Humildade Criativa”, ou seja, com uma atitude que permite, pensando que se sabe, ter-se o “arrojo” de questionar as nossas convicções para desaprender e reaprender. Pressionamo-los para darem o pouco tempo que lhes resta.
Com uns, outros e mais alguns, em simultâneo, de modo criativo, inventamos soluções efémeras e efectivas que além de eficazes (mesmo que pouco eficientes), valorizam as aparentes poucas capacidades das pessoas que se podem envolver na sua concretização: velhos, novos e outros que tais. Principalmente daqueles que já menos acreditam no seu valor – existem em todas as gerações, andam por aí com depressões e sofrimentos emocionais de peso.
E, logo a seguir, agarramos nos “pirralhos” e nos putos da universidade, que ainda têm tempo para fazer muita coisa, experimentando o prazer de ajudar, de dar, de partilhar, etc. e colocamo-los também a emprestar o tempo livre, a sua energia e irreverência aos processos que os “velhos” são capazes de estruturar e manter, mas algo incapazes de perpetuar sem o apoio dos outros.
No fundo, aproveitamos o ano para revitalizar a sociedade através da combinação da experiência e sapiência dos velhos (que também têm de ter uma atitude de humildade criativa, ouvindo a vontade e o sentimento dos outros) com a irreverência e energia dos pirralhos e com o suporte decente dos que, sendo activos, têm menos tempo, mas, habitualmente, mais recursos.
E, deste modo, construímos uma sociedade melhor com vidas mais bem vividas, mesmo que com menos dinheiro! Vamos a isso que se faz tarde! … FORÇA Voluntários.
*Álvaro Cidrais é licenciado em Geografia e Mestre em Geografia Humana: Desenvolvimento Regional, sendo actualmente docente universitário na Universidade Lusíada de Lisboa, consultor/assessor de gestão e formador, trabalhando como consultor independente em áreas relacionadas com a sua especialização. Foi ainda co-autor de dois livros com Xosé Manuel Souto, da Universidade de Vigo, designadamente “Planeamento Estratéxico de Mercadotecnia Territorial” e “História do Eixo Atlântico”.