Um desejo para um Planeta mais Sustentável
Por: Luís Veiga Martins – Diretor Executivo de Sustentabilidade da NOVA SBE
O ano de 2021 iniciou-se com um sentimento de otimismo face ao ano que alterou a vida de cada um de nós. Passados 2 meses atrevo-me a dizer que existe um desejo transversal a toda a população mundial – que rapidamente a vacina chegue a todos e seja possível voltar a levar uma vida normal, sem distâncias físicas e receios.
Os últimos tempos, com todas as condicionantes subjacentes à pandemia, permitiu perceber que a mudança de hábitos, de rotinas e de modelos de negócio (apesar das implicações, por vezes negativas, associadas) teve um impacto muito significativo na agenda de sustentabilidade. Ao longo do ano foram sendo elencados muitos, os quais me abstenho de repetir. No entanto, destaco dois – um positivo e outro negativo. O positivo é a redução das emissões de carbono para a atmosfera que, não sendo ainda suficientes para os objetivos do Acordo de Paris, permitem que possamos perceber o que é necessário fazer para que tal objetivo venha a ser alcançado. O negativo é a desaceleração daquilo que era, e continuará a ser, uma tendência relativamente à utilização de produtos cuja matéria prima principal são recursos naturais de origem fóssil.
A crise causada pela pandemia levou, também, à aceleração de uma transição global, previsível, para fontes de energia mais limpas e a uma redução da procura de combustíveis fósseis. A BP, num cenário de redução rápida da procura, prevê que o consumo de combustíveis se retraia de tal forma que a produção de barris por dia caia em média cerca de 2 % todos os anos até 2050. Além da eletrificação crescente das diferentes soluções de mobilidade, a “economia do teletrabalho” veio colocar esta transição num ponto de não retorno tendo esta um impacto significativo no que diz respeito à procura. Ou seja, prevê-se que os preços permaneçam baixos e as emissões de carbono contidas nestes combustíveis fiquem mais caras. Como resultado, as empresas petrolíferas começam a concluir que não faz sentido a aposta em novas explorações, conduzindo a que as reservas atuais, que há uns anos questionávamos se seriam suficientes, não venham a ser utilizadas.
Começamos a assistir a uma crescente consciencialização e a uma aceitação mais generalizada dos desafios do desenvolvimento sustentável. Em abril de 2018, o Financial Times, num artigo de opinião a propósito da poluição dos plásticos, afirmava que, felizmente, a discussão à volta desta causa (ao contrário das alterações climáticas) não tem o ceticismo que nega o consenso científico existente de que são necessárias ações urgentes. Mas passados quase três anos, com tudo o que aconteceu desde então – nomeadamente a atual pandemia – acredito que este ceticismo seja muito menor. São por demais evidentes as consequências da eventual inação das pessoas, das organizações e dos governos caso continuemos a pensar no futuro do nosso planeta numa atitude de laissez faire, laissez passer.
Ao contrário da vacina do COVID-19, um planeta mais sustentável, do ponto de vista social, ambiental e económico, não recolhe ainda a unanimidade que muitos de nós gostaríamos. Mas comparado com há 10 anos atrás, este desejo está cada vez mais presente. Por isso não há que desistir! Todos nós temos um papel a desempenhar no nosso dia-à-dia, nas nossas famílias, comunidades, locais de trabalho, círculos de amigos, promovendo e contribuindo para um melhor planeta no futuro.
Artigo Publicado na revista nº 2 – Março 2021