Campanha WaterOfTheFuture foi lançada hoje na Fábrica de Água de Alcântara



A Fábrica de Água de Alcântara, em Lisboa, recebeu esta tarde o evento de lançamento da campanha pan-europeia WaterOfTheFuture. Trata-se de uma iniciativa integrada no projeto “People & Planet: A Common Destiny”, financiado pela União Europeia, que abrange oito Estados-Membros da União Europeia (UE) – Portugal, Espanha, Itália, Alemanha, Irlanda, Holanda, Polónia e Roménia – e Cabo-Verde.

Assinalando o Dia Mundial da Água, a campanha foi em simultâneo divulgada nos países parceiros, tendo como objetivo sensibilizar 59 milhões de jovens a terem um papel ativo e a mobilizarem a sociedade e os decisores políticos para o combate às alterações climáticas, focando-se num dos grandes desafios que a humanidade terá de enfrentar nos próximos anos – a escassez de água.

Em Portugal, a WaterOfTheFuture conta com o cofinanciamento do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua e é desenvolvido pelo consórcio composto pela Câmara Municipal de Loures, pelo Instituto Marquês de Valle Flôr (IMVF), pela Rede Intermunicipal de Cooperação para Desenvolvimento (RICD) e pela FUEL.

A cerimónia contou com a participação de vários oradores, em formato digital e presencial, mas também de jovens alunos da Escola Profissional de Loures. A sessão de abertura contou com o testemunho de Elisabete Vale, Coordenadora de Departamento Segurança e Sustentabilidade Empresarial da Águas do Tejo Atlântico, de Jorge Morais, Administrador Executivo do Instituto Marquês de Valle Flôr (IMVF), de André Antunes, Chefe de Gabinete do Presidente da Câmara Municipal de Loures, e de Odete Serra, Diretora de Serviços de Cooperação Bilateral do Camões I.P.. Foi ainda visionada uma mensagem-vídeo do Senhor Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa. Para apresentar a campanha e mostrar o filme desenvolvido no âmbito da mesma foi dada a palavra a João Madeira, co-CEO da FUEL. A Representante da Comissão Europeia em Portugal, Sofia Moreira de Sousa, e as ativistas de sustentabilidade Catarina Barreiros e Joana Guerra Tadeu, foram convidadas para uma conversa sobre a pegada hídrica e o papel da União Europeia na mudança e no combate à situação de seca. Por fim, assistiu-se a uma mensagem-vídeo de Catarina Albuquerque, Diretora Executiva da Sanitation and Water for All (SWA)

Elisabete Vale, Coordenadora de Departamento Segurança e Sustentabilidade Empresarial da Águas do Tejo Atlântico, abriu a sessão afirmando que “A escassez de água é uma realidade dos dias de hoje, para todos. É um dos resultados das alterações climáticas e que tende a agravar-se substancialmente. Os efeitos destas mudanças no clima têm impacto direto em todos os pontos do Planeta, com maior ou menor intensidade, e infelizmente afetam os mais pobres e os mais vulneráveis. Por isso mesmo a água é o elemento mais importante referenciado pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas”. A profissional afirmou também que, por essa mesma razão, a Águas do Tejo Atlântico e o Grupo Águas de Portugal gere aquele que é “o mais precioso dos recursos com enorme sentido de responsabilidade”. Como tal, as águas residuais são tratadas e utilizadas nas varias etapas do tratamento, na rega dos espaços verdes e dos circuitos das instalações, na lavagem de ruas e na indústria, entre outras finalidades.

Enquanto parceiro da campanha, Jorge Morais, Administrador Executivo do Instituto Marquês de Valle Flôr, revelou um pouco do trabalho do Instituto, nomeadamente o seu contributo para a promoção de uma cidadania ativa, responsável, que zela pelo cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 e que contribui para o desenvolvimento sustentável. “Trabalhamos com jovens, dado o papel fundamental que podem e devem ter enquanto agentes de mudança na sociedade de hoje e amanhã. Sabemos e reconhecemos que os jovens são atores-chave para a mudança de comportamentos individuais e sociais, e que, acedendo às ferramentas mais relevantes, têm toda a capacidade para se fazer ouvir por decisores políticos”, referiu.

No seu discurso, André Antunes, Chefe de Gabinete do Presidente da Câmara Municipal de Loures questionou: “Que terra vamos ter daqui a 30, a 20 ou a mesmo 10 anos. Como será o clima em Portugal? Tropical, desértico? Sim, as coisas estão a mudar e muito, muito depressa. É de emergência que estamos a falar, porque o problema está cada vez mais próximo. E o problema não é sabermos que terra é que vamos deixar às gerações mais novas. O problema é saber como é que essas gerações vão conseguir viver nela”, apontou, acrescentando que “A água do futuro será aquilo que nós fizermos agora, no presente. E não poderemos de maneira nenhuma cometer erros do passado. Os municípios são atores privilegiados para localmente implementarem estratégias e incentivarem as boas práticas em matérias de sustentabilidade”.

Para Odete Serra, Diretora de Serviços de Cooperação Bilateral do Camões I.P., “as questões ambientais têm vindo a assumir uma crescente importância”, sendo reflexo disso “o facto de 7 dos 17 ODS estarem, direta ou indiretamente, ligados às questões ambientais. O objetivo 6 é especialmente dedicado à temática da água e do saneamento”.  No caso português, refere que “Se no passado as questões ambientais já eram um tema importante, na atuação da cooperação portuguesa elas assumem agora uma importância mais preponderante, quer no âmbito do novo documento enquadrador da nossa cooperação, a Estratégia da Cooperação Portuguesa 2030, que está em fase de conclusão, quer no contexto dos diversos programas estratégicos de cooperação que temos vindo a assinar com os vários PALOP e Timor Leste, os principais parceiros da cooperação portuguesa, mas também no contexto da organização de eventos de alto nível que se perspetivam, como por exemplo, a próxima Cimeira dos Oceanos prevista para junho de 2022.”

Nas palavras do Presidente da República, que se associou à causa, “a água constitui um recurso essencial, vital, desde logo para o consumo humano, mas também, para a manutenção da biodiversidade, para a agricultura, para a indústria, para o turismo, para a comunidade como um todo. A sua boa gestão é um imperativo político, social e económico, e do ponto de vista da sustentabilidade intergeracional, de caráter moral e, por isso, ético.”

Marcelo Rebelo de Sousa referiu ainda que Portugal chegou a ter 95% do território em seca severa e extrema, no passado mês de fevereiro, e que como tal, o objetivo da Agenda 2030 de garantia da disponibilidade e da gestão da sustentável da água e saneamento para todos, deve ser uma obrigação para todos. “Temos de salvaguardar a segurança hídrica criando reservas estratégicas. Temos de garantir uma boa governança da água, competente e eficaz. Temos de lutar por uma utilização responsável e estudar fontes alternativas”. Para isso, conta com todos os cidadãos, mas sobretudo com os jovens, “para liderarem o caminho da sustentabilidade no futuro”.

A campanha WaterOfTheFuture foi apresentada por João Madeira, co-CEO da FUEL, que explica ter como objetivo chegar ao público mais jovem dos 9 países e despertar consciências, sensibilizando adolescentes e jovens adultos para esta problemática e mudar comportamentos. “Queremos dar-lhes voz e argumentos para se sentirem empoderados e legitimados a pedir alteração da legislação local, nacional e a nível da União Europeia. E com isso, queremos contribuir para colocar a escassez de agua nas agendas públicas.”, revela.

Foi assim criada uma mensagem, a “Sem água não há futuro”, um logotipo que transmite uma ideia de movimento global, uma plataforma – Waterofthefuture.org – onde serão divulgadas informações sobre o desperdício de água, tais como dicas para reduzir o consumo de água, para preservar, e para calcular a quantidade de água que gasta, uma campanha digital e um filme promocional. O filme tem uma metáfora simples, mas com impacto direto nos espetadores: consiste num camelo que chega a uma cidade, longe do seu habitat natural, e que vem alertar para o facto de estarmos a acabar com este recurso natural com as nossas práticas diárias, relembrando que a água é essencial para a nossa vida. Um camelo vive três semanas sem água, mas um ser humano aguenta apenas três dias. “Não somos camelos. Use a água de forma responsável”, é a frase com que termina o vídeo. “Queremos dizer ao nosso publico que o problema da escassez de água ate pode parecer longínquo mas está cada vez mais próximo”, explicou João Madeira.

Na conversa entre as três oradoras, Sofia Moreira de Sousa, Representante da Comissão Europeia em Portugal, Catarina Barreiros, Joana Guerra Tadeu, ativistas de sustentabilidade, foi discutida a situação atual europeia e o que pode ser feito para gerar uma mudança através de políticas, mas também do papel do cidadão e da população jovem. Foi referido que a Europa está na vanguarda das alterações climáticas e que tem permitido e potenciado a participação dos jovens, nas tomadas de decisão.

A Representante da Comissão Europeia em Portugal referiu que o projeto tem um caráter muito importante porque muitas vezes “a gestão dos recursos naturais e as questões de sustentabilidade do nosso Planeta, que é só um, como não é uma coisa imediata para ontem ou para hoje, muitas vezes é prioridade mas não é urgência e acabamos por pensar um bocadinho numa segunda fase, e deixar para um planeamento à posteriori.” Acredita, por isso, ser necessário desenvolver políticas públicas a nível regional, nacional e europeu, neste âmbito, e que nas várias “camadas em que é preciso tratar este tema, todos temos uma palavra a dizer”. Deixou uma questão aberta aos presentes, perguntando como é que pensam ser possível desenvolver-se mecanismos para salvaguardar a boa gestão da água, através de políticas da União Europeia.

Na opinião de Catarina Barreiros, “É importante relembrarmos que a maneira como usamos a água também tem a ver com a maneira como nos pronunciamos em relação ao uso da água”, e “em primeiro lugar o que podemos fazer é perceber o que se esta a passar à nossa volta”. A ativista sublinha o potencial que existe a nível pessoal para criar uma mudança, seja a nível de hábitos do dia-a-dia, seja através das próprias redes sociais, de partilhas de opinião, ou até do contributo com propostas para políticas europeias.

Joana Guerra Tadeu, começa por dizer que não devemos apenas responsabilizar os jovens, devemos também responsabilizar os governantes, as “pessoas sentadas em assembleias”, porque têm poder para efetivamente criar mudança de forma eficaz e mais rápida do que as novas gerações. Relativamente ao papel da Europa, refere que existe uma questão muito importante: a falta de plano ibérico para a gestão das bacias hidrografias dos rios portugueses, sobretudo do rio Tejo. “Mas temos uma diretiva europeia que diz que temos de ter não sei quantos mil quilómetros de rios livres até 2025 – que são muitos quilómetros – mas o nosso plano para o Tejo é fazer mais barragens nos próximos 5, 10, 15 anos” aponta, questionando “Como é que há uma estratégia que Portugal assina e a seguir age completamente contra?”.

A ativista deixou claro que “Cada voz conta, e conta mesmo”, e que como tal, todos devemos agir e participar nas consultas públicas, seja a nível local, nacional ou europeu, podendo contar para isso com a ajuda de organizações não governamentais, como a ZERO, a Quercus e a WWF, que analisam as mesmas e preparam uma tomada de posição do ponto de vista sustentável.

Sofia Moreira de Sousa não deixou de assinalar que as políticas europeias estão a ser avaliadas continuamente, estando a União Europeia a liderar nesta matéria ambiental, e que no fundo, “temos de dar as mãos e trabalhar na mesma direção e todos em conjunto”.

A sessão terminou com a palavra de Catarina Albuquerque, Diretora Executiva da Sanitation and Water for All, numa mensagem-vídeo, na qual mencionou que “os jovens são agentes poderosos de mudança, têm vozes, têm necessidades distintivas, que devem ser incluídas nos processos de tomada de decisão. São cada vez mais vistos como empreendedores e inovadores. Mas mais importante, os jovens são lideres no presente e no futuro”. Apelou aos jovens “para que continuem a mobilizar-se e para que continuem a exigir os seus direitos humanos à água, ao saneamento e também o direito à participação”.

 





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