‘Instinto assassino’ pode ter contribuído para a evolução dos predadores mamíferos em terra



Durante 60 milhões de anos, mesmo antes de os primeiros dinossauros terem surgido em cena, os antepassados dos mamíferos dominavam o planeta.

Antes do início do Triásico, esses animais, que viriam a dar origem a muitos dos que hoje conhecemos, desde os mais pequenos roedores às grandes baleias, passando pelos humanos, ocupavam o topo das cadeias alimentares. À medida que os herbívoros se foram tornando maiores e mais velozes, os predadores tiveram de se adaptar, tornando-se ‘assassinos’ mais eficazes.

Numa investigação liderada pela Universidade de Bristol, no Reino Unido, investigadores analisaram as mandíbulas dos precursores dos mamíferos, conhecidos como sinapsídeos, acreditando que perceber a evolução da sua anatomia ajudaria a desvendar os segredos da forma como se alimentavam.

Suresh Singh, primeiro autor do artigo divulgado recentemente na ‘Communications Biology’, explica, em comunicado, que “os primeiros sinapsídeos predadores”, como o Dimetrodon, conhecido pela estrutura em forma de vela de barco no dorso, “tinham mandíbulas bastante longas com muitos dentes para assegurar que, quando apanhavam uma presa, ela não escaparia”.

Contudo, a análise revelou que há cerca de 270 milhões de anos, no Paleozoico, as mandíbulas começaram a mudar de forma, apresentando-se, nos registos fósseis, como mais curtas, mas mais poderosas, com menos dentes que tendiam a estar concentrados na parte frontal da mandíbula.

“Estas eram mandíbulas adaptadas para dar mordidas mais profundas e poderosas”, assinala o paleontólogo, que sugere que essa anatomia teria permitido ferir com mais eficiência e matar mais rapidamente as presas.

Predadores com grandes caninos em forma de sabre são alguns dos sinapsídeos carnívoros que evidenciam a nova forma de mandíbula. “Essa mudança mostra que os predadores estavam a sofrer novas pressões seletivas por parte das suas presas”, afirma Singh.

Inostrancevia, um dos predadores sinapsídeos do Paleozoico tardio, com o novo formato de mandíbulas e longos caninos em forma de sabre (espécime em exibição no Royal Ontario Museum, Canada).
Foto: Suresh A. Singh

Além de tornarem os mamíferos primordiais predadores mais mortíferos, a transformação mandibular levou a uma transformação do próprio crânio dos animais, o que, segundo Armin Elsler, outro dos autores, possibilitou a evolução “do ouvido complexo que encontramos nos mamíferos”.

Para Michael Benton, que também assina o artigo, as mudanças nas mandíbulas dos primeiros mamíferos terrestres, datadas do fim do Paleozoico, coincidem com “a altura em que os animais começaram a viver, comer e a reproduzir-se inteiramente em terra”.

“Tornaram-se completamente terrestres, colonizando novos habitats e explorando novos recursos cada vez mais para o interior, longe dos ambientes aquáticos dos quais antes dependiam.”

Por sua vez, Emily Rayfield, coautora do artigo, salienta que “as interações predador-presa são um importante fator de influência do comportamento animal hoje, pelo que é bastante interessante ver essa influência através da evolução anatómica ao longo de milhões de anos, e perceber que são potencialmente responsáveis por provocarem alguns dos grandes saltos na nossa própria história evolutiva”.





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