Produção global de chá poderá cair entre 40 a 55% nas próximas décadas



O chá é a segunda bebida mais popular do mundo – atrás da água, claro – e a indústria já vale €18 mil milhões por ano, mas o futuro é tudo menos brilhante para a infusão secular. Tal como o café, o chá encontra-se ameaçado pelas alterações climáticas e o impacto destas mudanças na sua produção.

Segundo pesquisas citadas pelo Quartz, as regiões responsáveis por grande parte do chá global podem perder entre 40 a 55% da produção, nas próximas décadas, e a qualidade futura do produto, sobretudo dos chás mais caros, também estará em causa.

“Há países produtores de chá que deixarão de o ser e outros que irão produzir menos”, explicou Ann Marie Brouder, conselheira de sustentabilidade do Forum for the Future.

As plantações de chá precisam de um investimento de décadas, o que quer dizer que, para preparar futuras mudanças, os agricultores e empresas precisam de pensar rapidamente nas consequências das alterações climáticas nesta indústria.

“O chá tem de ser plantado consistentemente durante 60 anos – e a árvore é a mesma. Ou seja, depende mais das alterações climáticas do que do clima”, explicou ao Quartz a geógrafa Ellie Biggs, da Universidade de Southampton mas que estuda o chá na Índia.

Nos últimos 10 a 15 anos, o preço do chá produzido organicamente em Yunnan, na China, subiu vertiginosamente. “À medida que isto acontece, [estes agricultores] estão já a ver os efeitos das alterações climáticas. O clima está a mudar a forma como as pessoas produzem chá, está a mudar a qualidade do chá e as pessoas estão a perceber esta mudança de qualidade”, explicou Rick Stepp, antropólogo da Universidade da Florida.

Stepp faz parte de uma equipa de investigadores que procura explorar os impactos inexplorados das alterações climáticas na região de Yunnan. Uma das primeiras conclusões sugere que a precipitação média diária baixou durante a época molhada e aumentou durante a época seca.

Dentro de 35 anos, num cenário de maiores emissões de gases com efeito de estufa, os modelos climáticos indicam que esta tendência poderá reverter, com um pequeno decréscimo de precipitação durante a colheita da Primavera seca e um pequeno aumento durante a colheita das monções.

As recentes condições das monções molhadas levaram ao aumento em 50% da qualidade de chá produzido, mas uma redução em 50% dos compostos que dão aos chás de Yunnan o seu sabor distinto.

O projecto Tea 2030, que procura perceber o futuro da indústria, acredita que a produção de chá na África Oriental pode cair até 55% até 2050, devido às alterações na precipitação e temperatura. Em Assam, no leste da Índia, os agricultores passam por novos desafios, mas a região deverá sobreviver às alterações climáticas. Assim como as regiões montanhosas de Yunnan e Nepal, ainda que não se saiba exactamente como é que as alterações climáticas se irão comportar nestes cenários – e como isso irá afectar a produção de chá.

Foto: Jean-Pierre Dalbéra / Creative Commons





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