Por que razão Amesterdão tem um presidente de câmara para o período da noite?
Em 2014, o antigo empresário de clubes nocturnos e bares Mirik Milan foi nomeado mayor de Amesterdão para o período da noite. A capital holandesa, conhecida pela sua faceta liberal, foi a primeira do mundo a promover o conceito de mayor – ou presidente da câmara – da noite, um cargo que lhe dá poderes para pensar a cidade das 20h às 8h, promover os seus espaços e garantir que quem se quer divertir durante este período não incomoda quem prefere ficar por casa ou dormir.
A ideia é tão inovadora que, ainda que ela tenha sido pensada em 2003, apenas foi transformada em realidade, na cidade holandesa, onze anos depois. “Muitas vezes, os responsáveis públicos vêem a existência de uma vida nocturna na sua cidade com suspeição – um doppelganger sinistro da cidade diurna, à qual acrescentamos crime, sexo e ruas sujas”, explica o CityLab.
Milan, de 35 anos, discorda desta visão. “Para construirmos um sistema económico 24/7 devemos focar-nos na criação de uma área da cidade que esteja viva durante as 24 horas do dia”, explicou Milan. “Podemos ter uma área de escritórios, uma biblioteca aberta 24 horas para receber estudantes… um local para refeições. Na Holanda não há nenhuma cidade que ofereça uma refeição decente depois da 21h30. Quando os meus amigos chegam um pouco mais tarde a Amesterdão, a única coisa que lhes consigo oferecer é batatas fritas”, explicou.
O papel do mayor nocturno é fazer uma transição suave entre as ofertas diurnas e nocturnas da cidade, gerir e melhorar as relações entre os negócios da noite, residentes e câmara municipal.
O sucesso do trabalho de Milan, em Amesterdão, levou o conceito de mayor nocturno para cidades como Paris e Toulouse (França) e Zurique (Suíça) e outras 15 holandesas (entre as quais Groningen e Nijmegen). Também Londres (Inglaterra) e Berlim (Alemanha) estão a considerar criar este cargo.
Em Abril, Amesterdão vai organizar a primeira Cimeira dos Mayors Nocturnos. Quem sabe se cidades como Lisboa ou Porto estarão lá representadas?
Mais diversão nocturna, menos barulho
Até há pouco tempo, os clubes nocturnos de Amesterdão eram obrigados a fechar as portas Às 4h em dias de semana e 5h nos fins-de-semana. Como resultado, o barulho e desordem nas ruas aumentava drasticamente durante estas horas.
Para resolver o problema, Milan sugeriu que os clubes pudessem fechar as portas mais tarde. Ele ajudou a criar um pacote de 10 licenças de 24 horas de actividade para clubes nocturnos, todos eles localizados em áreas suburbanas e pouco povoadas – e não no centro da cidade. O centro, então, ficou mais calmo.
“Muitas vezes, quem frequenta um clube nocturno não quer ir para casa às 4h. O facto de um clube não ter obrigatoriedade de fechar as portas a essa hora significa que 1.000 pessoas não são despejadas ao mesmo tempo para as ruas. Assim, elas saem a horas diferenciadas, a partir das 3h e até às 8h. Isto é melhor para o bairro mas também para o clube, que pode contratar mais DJ e vender mais bilhetes”, explicou.
A contratação de um mayor para a parte da noite acabou por levar ao ressurgimento de Amesterdão como capital da vida nocturna da Holanda. E com menos distúrbios. Outra das decisões de Milan foi contratar uma equipa de dez pessoas que, todas as sextas-feiras e sábados, percorre as ruas da cidade e tenta acalmar as discussões. “Não são polícias nem seguranças. São amigos das pessoas e tentam explicar-lhes as regras”, concluiu.
Foto: Steve Parker / Creative Commons