Carros e camiões a diesel queimam quase metade do óleo de palma usado na Europa
Em 2014, 45% de todo o óleo de palma consumido na Europa foi utilizado em veículos ligeiros e pesados, o suficiente para encher quatro piscinas olímpicas por dia. Esta é a principal conclusão de um briefing da Federação Europeia dos Transportes e Ambiente (Transport & Environment – T&E), com base em dados da FEDIOL – Federação Europeia das Indústrias de Óleos Vegetais.
De acordo com um estudo anterior da Comissão Europeia, o impacto climático do biodiesel produzido a partir de óleo de palma é três vezes maior do que o do gasóleo fóssil, uma vez que o cultivo da palma está associado a graves impactos ambientais, como a desflorestação e a drenagem de turfeiras no Sudeste Asiático, na América Latina e também no continente africano.
Na Europa, o recurso ao óleo de palma para a produção de biodiesel aumentou seis vezes entre 2010 e 2014. Esta explosão contribuiu para a totalidade do crescimento do consumo de biodiesel na Europa durante esse período (34%). A Europa não produz óleo de palma, pois a plantação de palmeiras só é possível em climas tropicais.
Depois do Dieselgate, o Biodieselgate
A denúncia do biodieselgate, feita pela Federação Europeia dos Transportes e Ambiente, à qual pertence a portuguesa Quercus, subscreve a posição defendida há muito pelas associações ambientalistas”. “[Estamos perante uma espécie de Biodieselgate, na sequência da polémica Dieselgate do ano passado relativa à fraude de emissões na indústria automóvel”, explica a Quercus em comunicado.
“Estes números mostram a verdade nua e crua sobre a política europeia de biocombustíveis, sendo agora claro o porquê da indústria querer esconder estes números. Além dos já mencionados problemas associados à desflorestação, os biocombustíveis implicam também um aumento das emissões no setor dos transportes, não contribuem para uma maior segurança energética nem ajudam os agricultores europeus”, continua a Organização Não-Governamental portuguesa.
A utilização de óleo de palma para fins não-energéticos (como alimentação, rações animais, cosméticos e sabão) diminuiu cerca de um terço entre 2010 e 2014. Em 2014, 60% do seu destino eram os transportes, a produção de electricidade e calor.
Na verdade, a Europa é o segundo maior importador mundial de óleo de palma. O biodiesel produzido a partir de óleo vegetal virgem é o mais utilizado, detendo três quartos do mercado europeu.
Na opinião das associações ambientalistas, é necessário descontinuar a utilização de biocombustíveis de primeira geração até 2020. Mais:, é preciso acabar de vez com a premissa “actual e errónea segundo a qual os biocombustíveis continuam a contar como zero emissões no cumprimento das metas climáticas”. “Só cortando os incentivos à produção e consumo destes biocombustíveis de primeira geração é que será possível dar uma oportunidade aos biocombustíveis de segunda e terceira geração, de menor impacto climático”, conclui a Quercus.
Foto: United Soybean Board / Creative Commons