Magda Sayed usa o croché para vestir as cidades
Extraordinário o trabalho de intervenção de rua da americana Magda Sayed, que vive e trabalha em Austin, Texas, mas faz instalações em grande escala um pouco por todo o mundo. Enquanto muitos artistas escolhem colorir as cidades com tintas e grafities, Magda prefere usar agulhas e linhas para dar nova cara a locais inesperados.
Na intervenção que fez na conferência TED, a artista conta que, depois das suas primeiras intervenções urbanas, ficou conhecida pelo movimento “Yarn Bombing” – “Guerrilha de Fios”. “Quando comecei, há mais de dez anos, não havia sequer esta expressão, eu não tinha qualquer intenção de aparecer. Só queria ver algo caloroso, felpudo e humano em fachadas frias e cinzentas que via todos os dias”, descreve ela na sua palestra TED.
A primeira obra de Magda Sayed foi cobrir a maçaneta de uma porta. Chamou-lhe “Obra Alpha”, mas mal sabia que esse pequeno arrojo mudaria o rumo da sua vida. As reacções foram muito interessantes e ela, intrigada, pensou: “O que mais posso fazer? Talvez algo no espaço público que cause a mesma reação?”. Aí, decidiu cobrir o poste da placa de “Stop” próxima da sua casa. A reacção foi impressionante. “As pessoas estacionavam e saíam dos carros para olhar, coçavam a cabeça, tiravam fotos da placa e ao lado dela. Tudo isso foi super empolgante e quis fazer o mesmo em todas as placas de “Stop” do bairro. Quanto mais fazia, maior a receptividade”.
Foi nessa altura que se rendeu, se apaixonou. A sua principal motivação era melhorar os espaços públicos, o que era comum, o que era feio – mas sem tirar aos locais identidade ou funcionalidade. “É muito divertido pegar em coisas inanimadas e dar-lhes vida”, diz a artista.
Chegou a um ponto em que quis levar isto a sério e descobriu algo interessante: vivemos num mundo acelerado e digital, mas desejamos algo com que nos identifiquemos. Então, o próximo passo foi fazer algo em grande escala. “Foi aí que surgiu o desafio de cobrir de croché um autocarro inteiro. Posso ter começado o ‘Yarn Bombing’, mas certamente ele não é só meu. Ele acabou por se tornar global. Pessoas de todo mundo começaram a fazer o mesmo. Esta experiência mostrou-me o poder oculto desta arte e mostrou-me também que eu partilhava uma linguagem comum com o resto do mundo. Adoptei esse ‘hobby de vovó’, simples, com o qual descobri algo em comum com pessoas com as quais jamais imaginei que teria ligação.
Na verdade, o poder oculto é mais do que isto: é mostrar-nos que há algo escondido nos lugares mais simples e que todos temos habilidades que estão só à espera de serem descobertas. Magda é o exemplo perfeito do que acabámos de escrever: é formada em matemática e, com a sua história de vida, diz-nos que a nossa existência pode ser costurada e tricotada, fugindo do tédio e da resignação.
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