Esgotámos os recursos do ano. E agora?
A partir de hoje a humanidade vive a “crédito” pois já esgotámos todos os recursos naturais que o nosso planeta consegue renovar num ano. E até 31 de Dezembro ainda faltam quatro meses inteiros, um terço do ano, tal como já noticiamos aqui.
Infelizmente, este “Overshoot Day” (o dia em que ultrapassamos o limite) chega todos os anos mais cedo. A última vez que respeitámos o orçamento “natural” foi em 1970, sendo Portugal um dos contribuintes activos para esta situação: se todos os países tivessem a mesma pegada ecológica que nós seriam necessários 2,3 planetas, em lugar do 1,7, como agora.
É urgente agir, porque “viver com pleno respeito pelos generosos limites do Planeta Terra é a única forma de garantirmos um melhor futuro para todos” tal como diz a associação ambientalista Zero, que enumera as actividades humanas, diárias, que mais contribuem para a pegada ecológica de Portugal. São elas o consumo de alimentos (32% da pegada global do país) e a mobilidade (18%), que constituem assim pontos críticos onde intervir. E aqui ficam algumas das propostas da ZERO nesse sentido:
Apostar na economia circular, onde a utilização e reutilização de recursos é maximizada. O ponto fulcral deverá ser a redução no uso de materiais, a promoção da reutilização e a extensão dos tempos de vida dos bens e equipamentos. Temos de mudar o paradigma de “usar e deitar fora”, muito assente na reciclagem, incineração e deposição em aterro, para um paradigma de “ter menos, mas de melhor qualidade”, com um forte enfoque na redução, reutilização e reparação e na procura de oferecer serviços em alternativa à venda de bens.
Optar por uma dieta alimentar saudável e sustentável. A começar nas escolas, mas não só. Promover a redução do consumo de proteína de origem animal e um aumento significativo do consumo de hortícolas, frutas e leguminosas secas, trará enormes benefícios à saúde de todos e uma redução significativa do impacto ambiental associado à alimentação. Em Portugal, tal significará uma aproximação da balança alimentar portuguesa com o preconizado no padrão alimentar da roda dos alimentos
Apostar na mobilidade sustentável, com uma política assente em diferentes estratégias, melhorando os transportes públicos (por exemplo, privilegiando os corredores específicos e melhorando a articulação entre diferentes meios de transporte,), melhorando as infraestruturas e condições que estimulam a mobilidade suave (andar a pé, de bicicleta); partilhar o transporte individual (car-sharing) e promover a transição para a mobilidade elétrica.
O papel do cidadão. Cada um de nós pode ter também um papel muito importante, desde logo através da pressão que podemos colocar em todo o sistema de produção. Exigir a nível político e empresarial a democratização da sustentabilidade. É importante que o preço a pagar seja justo, mas é muito importante que as soluções menos sustentáveis sejam penalizadas ao mesmo tempo que as opções sustentáveis são incentivadas. A pressão de todos nós pode fazer a diferença.