Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Regional debate sustentabilidade do mar
“O mar é um recurso estratégico para Portugal. É mais ou menos consensual que tem sido pouco aproveitado ou que não tem sido aproveitado em todo o seu potencial. Há muito trabalho para fazer”, afirmou, na sessão de abertura, o presidente da APDR, Francisco Carballo-Cruz.
Os congressos da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Regional já chegaram a juntar mais de 800 participantes de vários países, mas, este ano, a pandemia da covid-19 obrigou a organização a ajustar-se à nova realidade.
Ainda assim, foi possível garantir a presença de cerca de 50 participantes no Parque de Ciência e Tecnologia da Ilha Terceira (Terinov), a que se juntam mais uma centena, através dos meios digitais.
Do programa constam nomes como Assunção Cristas, antiga ministra do Mar, Ricardo Serrão Santos, atual ministro do Mar, e Jorge Miguel Miranda, presidente do Instituto Português do Mar e da Atmosfera.
Para Francisco Carballo-Cruz, o desenvolvimento sustentável é agora “muito mais importante do que na época pré-covid”, porque a pandemia vai implicar alterações em vários setores.
A título de exemplo, destacou os impactos previstos no setor primário, em que existirá uma busca por “maior proximidade e autenticidade”, na indústria, em que se procurará maior “segurança”, nos serviços e, sobretudo, no turismo, em que se poderá abandonar o conceito de “massas”.
“Há muito debate em marcha e a ciência regional tem muito a dizer”, sublinhou.
Já o economista e professor da Universidade dos Açores, Tomaz Dentinho, presidente da comissão de organização do evento, considerou que a grande responsabilidade que se coloca é “fazer a ligação, que não está feita, entre a gestão sustentada do mar e o desenvolvimento das comunidades piscatórias”.
“Isto tem a ver com distribuição de rendimento e com a sustentabilidade ecológica, tem a ver com de quem é a responsabilidade de gerir o mar, é de Bruxelas, é de Lisboa, é de Ponta Delgada, é do Porto, de quem é? Não só em relação aos recursos pesqueiros, mas também em relação aos recursos minérios”, apontou.
“É bom que não haja uma guerra do mar, como tem havido do petróleo. Sempre que há uma renda de um recurso natural, há de facto uma guerra”, acrescentou, dando ainda como exemplo a exploração do gás natural e do carvão.
Segundo o investigador açoriano, essa responsabilidade cabe não só aos académicos das universidades, mas aos políticos, ainda que “grande parte dos políticos” já sejam “universitários de renome”.
“São dois dias de oportunidade para conversarmos, para pensarmos, para interagirmos, para projetarmos as nossas agendas do desenvolvimento da sustentabilidade, da ciência e da política”, frisou.