Manifestantes em Lisboa pelo clima pedem “coerência política” ao Governo



A organização da manifestação e ação de desobediência civil em defesa do clima, que decorreu hoje em Lisboa, pediu “coerência política” ao Governo em matérias ambientais, desejando a junção da “transição social” à climática.

“O que nós queremos é coerência política. Se há verbas que vêm [da União Europeia], então que realmente sejam investidas numa transição social”, disse à Lusa Andreia Galvão, da organização da ação “Nós somos os anticorpos”, do coletivo ambientalista Climáximo.

A ação, que se iniciou no Jardim Amália Rodrigues, em Lisboa, pelas 11:00, desceu o Parque Eduardo VII e paralisou o trânsito durante cerca de uma hora na rotunda do Marquês de Pombal.

Andreia Galvão, considerou que “ninguém está a fazer o suficiente para enfrentar a crise climática”.

“Sabemos, por exemplo que [o primeiro-ministro] António Costa apresentou o rascunho para o Programa de Recuperação e Resliliência, em que um dos polos é mesmo a transição climática, mas nós sabemos o que é que a transição climática significa para o Governo: continuar a investir nestes combustíveis [fósseis], continuar a falar de novos aeroportos, enquanto tenta passar a imagem de um governo ‘eco-friendly’ [amigo do ambiente], amigo da juventude”, disse à Lusa.

Uma das reivindicações da ação de hoje foi a chegada à neutralidade carbónica até 2030, algo que a ativista considera ser “bastante simples”, bem como terminar as emissões fósseis até 2050.

“Temos de terminar todas as concessões, temos que deixar de usar combustíveis fósseis, e sabemos que o nosso Governo faz um falso apelo a esta solução”, considerou Andreia Galvão

Segundo a organizadora da ação, “dizem que querem a neutralidade carbónica, no entanto tanto o nosso Governo como a União Europeia continuam a financiar projetos de carvão e projetos de petróleo”, algo “incompatível com realmente querer resolver esta crise climática.

Aliada às questões ambientais, outro tema da manifestação de hoje foi a transição social, com os manifestantes a pedirem “serviços básicos incondicionais”, como a saúde, a habitação, a educação e os transportes, segundo Andreia Galvão.

Outro ponto foi a implementação de um “teto básico de rendimento”, de 99% para quem ganhe mais de 150 mil euros anuais, e que “recebe por volta de 16 vezes o salário mínimo nacional”.

“Nós não achamos razoável que alguém ganhe 16 vezes o número do salário mínimo nacional, e sabemos que é preciso financiar esta transição justa e não podem ser sempre os mesmos a financiar, ou seja, as pessoas que já são impactadas por todos estes flagelos sociais”, justificou assim a proposta Andreia Galvão.

Sobre a pandemia de covid-19, a ativista entende que “a sociedade tem feito um esforço para resolver a crise exponenciada pela covid-19, que na verdade só veio demonstrar as falhas sistémicas que já existiam” na sociedade.

Ao longo da manifestação, cerca de uma centena de manifestantes entoavam cânticos como “somos a natureza em autodefesa”, “gás, petróleo, carvão, deixá-los no chão”, “paz, pão, habitação” ou “não há planeta B”.

Os manifestantes empunhavam bandeiras de cor verde e vermelha, e eram também visíveis algumas alusivas ao movimento ambiental Extinction Rebellion.

À chegada ao Marquês de Pombal, cerca das 12:15, a PSP montou um cerco aos manifestantes, mas algumas dezenas conseguiram romper a barreira e dirigir-se para a estrada, onde começaram a sentar-se e a bloquear o trânsito.

Alguns uniram-se entre si com recurso a cordas, talas e outras formas de dificultar a separação pela polícia.

A PSP não quis revelar o número exato de manifestantes presentes nem o efetivo policial presente.

A rotunda foi reaberta à circulação automóvel, na sua totalidade, às 13:22, depois da retirada de várias dezenas de manifestantes em defesa por parte da PSP.

 

Foto: Facebook / Climáximo





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