Saber apreciar nuvens é uma arte



Dizem que a felicidade está nos pequenos prazeres da vida, e cabe a cada um definir os seus. A Sociedade de Apreciação de Nuvens atribui esse significado às nuvens, e gosta de as observar em qualquer parte do mundo. Foi no Reino Unido, em 2004, que nasceu a “The Cloud Appreciation Society” – A Sociedade de Apreciação de Nuvens, em português – pelas mãos de Gavin Pretor-Pinney.

“Uma amiga minha estava a organizar um festival literário na Cornualha, no Sudeste da Inglaterra, e perguntou-me se gostaria de fazer uma palestra sobre nuvens, porque sabia que eu gostava delas.” A palestra fez sucesso, afirma, “muitas pessoas apareceram, e todos me perguntaram como se podiam juntar à sociedade”.

Nasceu assim em 2005 a Sociedade, e em 2006 foi publicado o seu primeiro livro, “The Cloudspotter’s Guide” ou “O Guia do Observador de Nuvens”. Para Gavin, “o céu é o aspeto mais dinâmico, evocativo e poético da natureza”, e observar as nuvens “é bom para a criatividade e bom para a alma”, garante. Provavelmente já deu por si a olhar para o céu e a reparar numa nuvem com um tamanho ou forma peculiar; ao invés de deixar este acontecimento ‘passar em branco’, os membros fotografam e partilham entre si a paixão e a admiração por estes bocadinhos de céu.

Surge assim o termo Cloudspotting, que consiste mais concretamente na atividade de observar as nuvens. Após 15 anos de trabalho, a Organização já conta com perto de 50 mil membros em 120 países diferentes. “Ver como a Sociedade cresceu e se desenvolveu ao longo dos anos tem sido uma experiência incrível para mim. Adoro que reúna pessoas de todo o mundo através das suas perspetivas partilhadas sobre a beleza do céu.”

Os membros recebem um certificado, um crachá, uma roda de identificação “Cloud Selector” que permite reconhecer 20 variedades diferentes de nuvens, e um “Cloud-a-Day”, um email diário com uma fotografia do céu e um texto. “Acreditamos que as nuvens são injustamente criticadas, e que viver seria incomensuravelmente mais pobre sem elas”, defendem no seu manifesto. Aqui não se aplica o termo “andar com a cabeça nas nuvens” porque, para os membros, passar uns momentos diariamente a olhar para as nuvens ajuda-os precisamente a manter os pés no chão. Também o pensamento do “céu azul” visto como algo melhor do que um céu coberto de nuvens é uma ideia reprovada.

Diz-se que esta geração é a primeira que não conhece o céu por viver nas grandes cidades, mas Gavin refere o contrário: “Para as pessoas que vivem em ambientes urbanos, o céu é a última região selvagem que está disponível. Por isso, o Cloudspotting é provavelmente mais valioso para os moradores da cidade do que para qualquer outra pessoa.”

Mas se é em pequenino que surge o primeiro olhar para as nuvens, e o primeiro “Porquê?” da sua existência, a Sociedade também aceita estes membros?! Segundo o fundador, esta área está ainda a ser desenvolvida, de forma a adaptar-se à curiosidade dos mais novos. Será igualmente publicado um livro especificamente para crianças. Quando questionado se ainda olha para o céu para observar as nuvens, a sua resposta é clara: “Presto atenção todos os dias”, responde, acrescentando que “ser um observador de nuvens não é sobre agendar um tempo para o fazer, não é sobre ir a um local com vista para observar formações incríveis de nuvens, é sobre mudar o foco, para que se esteja aberto a perceber quando as nuvens estão a fazer algo de incomum ou dramático”.

“O céu é a parte mais democrática da natureza – todos nós podemos ter uma vista fantástica sobre ele”, afirma o autor. Do que está à espera para olhar para cima?

Notícia publicada originalmente na 1ª edição (Novembro 2020) da revista Green Savers.





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