Economia Circular. Promotora da eficiência nas organizações
por Pedro Fernandes, Business Developer Climate Change na APCER
A Economia Circular (EC) é um conceito cujo princípio fundamental é manter os recursos retirados/provenientes do ambiente no circuito económico, prolongando o seu ciclo de vida e evitando a sua devolução em forma de desperdício.
Este paradigma, já no nosso dia-a-dia, promove e permite aumentar a eficácia e eficiência dos processos na cadeia de valor, reduzindo consumos desnecessários e também a necessidade de extração excessiva de recursos da natureza, aliviando os efeitos/impactes da atividade humana no ambiente. Estimula a procura do uso eficaz em detrimento da posse dos recursos. Todos os setores, de uma maneira ou de outra, beneficiam da transição para a EC, variando esses benefícios conforme a sua intervenção na cadeia de valor e aplicação dos vários R´s nas suas várias fases (podemos considerar 5: Recusar, Refletir, Reduzir, Reutilizar e Reciclar):
AQUISIÇÃO DE MATÉRIAS-PRIMAS
O aumento da eficiência dos processos de extração, os novos negócios resultantes da circularidade dos produtos e a opção por novos recursos menos nocivos para o ambiente, pode gerar novas oportunidades e eventualmente reduzir custos de produção. A norma ISO 20400 (Compras Sustentáveis) é uma ferramenta importante nesta fase. DESENHO E PROJETO O marketing promove, cada vez mais, as soluções que incluem os princípios da circularidade e é nesta fase de conceção, desenho e projeto que se desenvolvem os produtos e serviços com maior valor acrescentado.
No entanto, este processo não se cinge aos materiais e produtos, aplicando-se também a elementos estruturais (como as instalações), elementos produtivos (equipamentos e MTD) e elementos operacionais (soluções com menor impacte ou eliminação de procedimentos desnecessários). A ISO 14044 (Avaliação do Ciclo de Vida) e a ISO 14006 (Eco-design) dão orientações nesse sentido e ajudam na criação de bases para a análise de ciclo de vida dos produtos e serviços.
PRODUÇÃO E RE-TRANSFORMAÇÃO
O aumento da eficiência dos processos, redução de custos e, consequentemente, aumento de margens e proveitos (ex. redução de custos energéticos e matérias-primas), o aumento da eficiência nos processos produtivos e aumento do valor acrescentado do produto são fundamentais para um melhor desempenho das organizações. O recurso à especialização poderá ser também uma solução, aproveitando a economia de escala de empresas especializadas, com ganhos de eficiência e qualidade, e permitindo a focalização das organizações no seu fluxo produtivo principal.
A reutilização e a incorporação de materiais reciclados promovem a circularidade na cadeia de valor e a produção de produtos mais eficientes e de boa qualidade aumenta o seu impacto positivo bem como o seu tempo de vida. Com as questões levantadas pela utilização do plástico de uso único, a opção por este tipo de práticas na área dos plásticos é cada vez mais uma solução. Normas como a ISO 14001, o FER – Fim do Estatuto de Resíduo, ISO 14067 (Pegada Carbónica do Produto) e ISO 14046 (Pegada Hídrica) são ferramentas de controlo importantes para a qualidade final dos produtos e para controlo dos processos produtivos e seus impactes.
TRANSPORTE E DISTRIBUIÇÃO
As melhores práticas e técnicas de logística facilitam o transporte e distribuição (ex. otimização dos percursos), evitando deslocações desnecessárias e onerosas (ex. redução dos consumos) e pode reduzir os prazos de entrega/ recolha. O incentivo ao comércio local também permite estreitar as relações entre os vários intervenientes da cadeia de valor. A promoção e otimização das atividades de reparação prolonga a vida útil dos equipamentos e meios de transporte, permite a eficácia e eficiência na utilização dos recursos até ao fim da sua vida.
A requalificação e recondicionamento de equipamentos permite, igualmente, a disponibilização de equipamentos em boas condições a custos menores, sendo um mercado cada vez mais dinâmico. No caso da prestação de serviços, a escolha por tecnologias de comunicação remota (tele e videoconferências, por exemplo), sempre que possível, previne gastos desnecessários sem comprometer a qualidade do serviço prestado. Esta opção otimiza a utilização do tempo e reduz o tempo de resposta. A ISO 14067 (Pegada Carbónica do Produto) permite aferir a eficácia do processo de transporte e distribuição.
CONSUMO, UTILIZAÇÃO, REUTILIZAÇÃO E REPARAÇÃO
Cabe ao consumidor definir as necessidades do mercado, a base para criação e produção de produtos e serviços, e que irão influenciar todas as decisões na cadeia de valor e na economia. Reduzir as necessidades de consumo não significa apenas prescindir de determinado produto ou serviço, mas também prolongar o tempo de vida dos mesmos, evitando a produção desnecessária e disposição de recursos em forma de desperdício.
A reparação de equipamentos e a reutilização de produtos para outros fins diferentes do seu primeiro propósito (garrafas como vasos, pneus como equipamentos de jardim, paletes como mobiliário, etc…) evita que estes se convertam mais rapidamente em resíduos tendo, muitas vezes, custos menores. A rentabilização da utilização dos recursos no seu tempo de vida, como leasing ou aluguer, não carece dos inconvenientes de ser o “dono” (custos de aquisição, de manutenção, seguros, impostos, etc…) e é cada vez mais a solução para minorar custos e impactes ambientais. A norma ISO 20400 (compras Sustentáveis) é, mais uma vez, uma ferramenta útil nesta fase.
RECOLHA, RECICLAGEM E TRATAMENTO DE FIM DE VIDA
O aumento da percentagem de aproveitamento dos recicláveis, a eficiência dos processos de tratamento, a redução de custos e o aumento de proveitos (pelo aumento da qualidade do produto reciclado) são fulcrais e para isso, é importante que os produtos incluam, na sua composição, uma quantidade reduzida de diferentes materiais, facilitando o processo de segregação e tornando os processos de reciclagem mais eficientes.
Normas como FER – Fim do estatuto de Resíduo, permitem controlar a qualidade dos resíduos destinados à reciclagem. O tratamento de final de vida é o fim de linha para todos os materiais que não conseguem passar pelo ciclo dos 5Rs. A quantidade de material que tem este destino deve ser reduzida a um mínimo para que o ciclo económico seja verdadeiramente uma Economia Circular.
A aplicação dos princípios da Economia Circular promove uma redução dos efeitos da atividade humana no ambiente sem pôr em causa a qualidade de vida. As organizações são um stakeholder de elevada importância na mudança deste paradigma e muitas já optaram por serem parte da solução e não do problema.