Administrador do Banco de Portugal afirma “as alterações climáticas entram nas nossas preocupações ‘pela porta principal'”



Realizou-se esta manhã a segunda sessão do Ciclo de Conferências “A Emergência da Sustentabilidade” do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa. Sob o tema “A Investigação para a Sustentabilidade”, o evento contou com a presença e participação de Luís Laginha de Sousa, Administrador do Banco de Portugal.

Luís Laginha de Sousa deixou claro, logo desde o começo, que o Banco de Portugal enquanto Banco Central da República Portuguesa, “tem dedicado uma atenção crescente a este tema, pelo facto de se cruzar com várias áreas da sua atividade”.
Como forma de dar a conhecer a perspetiva da entidade face ao tema da sustentabilidade, o orador focou-se em três dimensões: o conceito de sustentabilidade, a natureza da investigação e as áreas do conhecimento.

“As alterações climáticas entram nas nossas preocupações “pela porta principal”, refere, justificando o facto das mesmas terem um impacto direto na estabilidade do sistema financeiro. “Na perspetiva de um banco central e supervisor financeiro, a vertente ambiental da sustentabilidade é particularmente relevante”, dado que “os riscos ambientais, associados a fenómenos como as alterações climáticas ou a perda de biodiversidade, constituem uma importante fonte de risco financeiro”.

As alterações climáticas são “uma importante fonte de risco para as instituições financeiras, sejam elas bancos, seguradoras ou gestoras de ativos e de fundos de pensões”, explica, distinguindo os riscos físicos,  relacionados com catástrofes naturais, e os riscos de transição, relacionados com o ajustamento da economia à descarbonização.
“Se não identificarmos, avaliarmos e mitigarmos adequadamente quer os riscos físicos quer os riscos de transição, as alterações climáticas transformam-se numa ameaça à estabilidade financeira. O Banco de Portugal, tem no seu mandato a responsabilidade quer pela salvaguarda da estabilidade do sistema financeiro quer pela supervisão bancária. Compete-lhe, por isso, promover a resiliência do setor financeiro ao longo do processo de transição que está a ser desencadeado pelas políticas tendentes a combater as alterações climáticas”, adverte.

Numa segunda dimensão, realça a importância de uma investigação aplicada. “Da mesma forma que um bom diagnóstico é essencial para definir a terapêutica adequada quando somos acometidos de um problema de saúde, também em relação ao sistema financeiro e à economia precisamos, em primeiro lugar, de compreender as implicações dos riscos ambientais e das políticas de transição para: a evolução cíclica e estrutural da economia; o sistema financeiro; e a condução da política monetária. Precisamos, depois, de incorporar fatores climáticos e ambientais nos nossos modelos de previsão e de análise económica. Precisamos, finalmente, de aperfeiçoar o modelo de supervisão macro e micro prudencial, com um duplo objetivo:(…) “promover a resiliência do sistema financeiro” e “incentivar as instituições financeiras a progredir na identificação, na medição e na mitigação dos riscos climáticos e ambientais”.

Em terceiro lugar, sublinha a relevância crítica dos dados. “Para compreender a interação entre as alterações climáticas e a economia e, assim, sustentar a formulação de políticas, é crucial que entidades públicas e privadas disseminem dados climáticos. Isto é especialmente importante para os cientistas do clima na compreensão e na simulação de trajetórias, que frequentemente servem de input aos modelos que os economistas utilizam na elaboração de cenários”, sublinha, fazendo ainda referência ao trabalho do Laboratório de Investigação em Microdados do Banco de Portugal.

Por fim, o Administrador do Banco de Portugal concluiu: “Uma agenda de investigação que integre as preocupações que resultam da interação entre sustentabilidade ambiental e sistema financeiro ou política monetária é instrumental ao cumprimento da missão do banco central. Continuaremos, por isso, a alocar recursos ao estudo rigoroso dos impactos das alterações climáticas, com o objetivo de aconselhar as autoridades portuguesas e servir o público interessado neste tema que não pode ser visto senão como crucial para o futuro do país.”

Pode consultar a intervenção completa aqui.





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