A mesma cor nos animais tem significados diferentes
Os animais usam frequentemente as mesmas cores para fins muito diferentes. Um novo estudo tentou descobrir porque é que alguns animais usam uma cor para tentar afugentar predadores enquanto outros usam a mesma cor para tentar atrair parceiros.
O vermelho brilhante de um cardeal-do-norte macho (Cardinalis cardinalis) serve para seduzir as fêmeas, mas, nas rãs-morango, as sua cor vermelha e pintas pretas serve como aviso para quem estiver com fome, já que este animal é venenoso.
Segundo a “Science Alert”, o biólogo evolucionário Zachary Emberts, atualmente da Universidade Estatal de Oklahoma, e o colega John Wiens da Universidade do Arizona, perguntaram-se o que faz com que as mesmas cores evoluam para servir propósitos tão distintos em animais diferentes.
Assim, realizaram um estudo de 1.824 espécies de vertebrados terrestres, classificando a sua coloração como “vir para cá” ou “chegar para lá”, e encontraram o fio comum que liga cada grupo.
Os animais que usam as cores para atrair, tais como aves e lagartos, são descendentes de antepassados que eram diurnos, ou ativos durante o dia. Os animais que tentam afastar, como as cobras e anfíbios, são descendentes de antepassados noturnos.
“As características que vemos hoje em dia nas espécies podem ser o resultado da sua história evolutiva”, explica Emberts. “Estávamos à procura de padrões evolutivos, por isso fizemos duas análises separadas, uma que utilizou a sua atividade atual dia-noite e outra que utilizou a sua atividade dia-noite ancestral”.
Não existe qualquer correlação, descobriram os investigadores, entre a atividade diurna e noturna e a coloração dos animais de hoje; em vez disso, a ligação é “puramente ancestral”. Mas é uma que parece ser consistente em todos os vertebrados terrestres, cuja evolução remonta a cerca de 350 milhões de anos.
“Não importa como uma espécie produz as cores”, afirma Wiens à “Science Alert”, acrescentando que “a forma como uma ave se torna vermelha é diferente de como um lagarto se torna vermelho, mas este padrão geral de atividade dia-noite ainda funciona”.
De acordo com a análise dos investigadores, a maioria dos antepassados dos animais que estudaram começou de uma forma bastante simples e neutra, evoluindo as suas tonalidades ao longo do tempo, e a maioria deles vive em ambientes em que as suas cores vívidas se destacam. A explicação mais razoável é que os animais de cores mais vivas “eram mais capazes de sobreviver, e de passar o seu material genético para gerações que continuaram a tendência”.
As cores analisadas incluíam vermelho, laranja, amarelo, roxo e azul, e os investigadores descobriram que, para todas as cores exceto o azul, as colorações estavam bastante divididas igualmente entre a sinalização sexual e o aviso, mas não está atualmente claro qual poderia ser a razão para isso.
“É interessante ver que para cores como o vermelho, laranja e amarelo, são usadas com frequência como forma de evitar predadores e como forma de atração de companheiros”, diz Emberts.
“No lado oposto, a coloração azul foi mais frequentemente associada ao acasalamento do que à prevenção de predadores”.
Para os investigadores, a coloração diurna dos animais faz sentido: um animal cintilante, à luz do dia, vai ser visto por outros animais, incluindo potenciais companheiros. Isso pode torná-los também alvos maiores para os predadores. Mas parece que ser capaz de encontrar um companheiro e reproduzir-se é mais importante do que não ser comido. As fêmeas destas espécies são mais capazes de se esconderem dos predadores e sobreviverem para criar descendência, explicam os investigadores.
Mas os animais noturnos deslizam e bisbilhotam no escuro. Em uma cobra noturna macho não acrescenta muito uma cor brilhante na sinalização sexual se as fêmeas não a conseguirem ver.
“As cores de aviso evoluíram mesmo em espécies sem olhos”, diz ainda Wiens. “É questionável se a maioria das cobras ou anfíbios conseguem ver cores, pelo que as suas cores brilhantes são geralmente usadas para sinalização aos predadores e não aos membros da mesma espécie”.
Em vez disso, explicam os investigadores, a coloração “pode ter evoluído como uma forma de dizer aos predadores diurnos o que pode acontecer ao animal adormecido e para se manterem afastados”.
Pesquisas futuras podem revelar mais detalhes, já que a equipa espera aprofundar a evolução das cores brilhantes para ver se as suas funções mudaram ao longo do tempo.
Para já, a investigação mostra que mergulhar na história evolutiva das características dos animais pode revelar padrões que já não são atuais.