COP27: Al Gore apela a “epifania global” e diz que “não é altura para cobardia moral e indiferença irresponsável”



Al Gore, ex-vice-Presidente do Estados Unidos e vencedor do Prémio Nobel da Paz em 2007, tem sido uma das vozes mais sonantes do combate às alterações climáticas e da proteção do planeta.

Amplamente conhecido pelo documentário ‘Uma Verdade Inconveniente’, que em 2006 confrontou as sociedades humanas com os seus desastrosos impactos na Terra, subiu hoje ao placo da COP27, no Egipto, para, mais uma vez, alertar que temos de urgentemente alterar a forma como tratamos o planeta ou podemos arriscar uma catástrofe sem precedentes.

“Estamos hoje aqui, porque continuamos a usar a fina proteção azul da atmosfera do nosso planeta como um esgoto a céu aberto”, lançou Al Gore, acrescentando que atualmente as sociedades humanas, no seu conjunto, enviam para os céus 162 milhões de toneladas de “poluição com efeito de estufa criada pelo Homem”, que se acumula e persiste. Al Gore explica que, em média, cada molécula de gás poluente pode persistir na atmosfera até 100 anos, e que a concentração hoje acumulada retém na Terra o equivalente ao calor que seria libertado pela explosão diária de 600 mil bombas atómicas, como a que caiu em Hiroxima.

“É por isso que vemos estes desastres”, salienta Al Gore, referindo-se aos eventos extremos que, um pouco por todo o mundo, têm tornado dolorosamente inegáveis os efeitos das alterações climáticas, como as cheias no Paquistão, a seca extrema em África e na Europa, as ondas de calor, e os incêndios florestais que este ano atingiam níveis de intensidade nunca ates vistos. E a situação “está a tornar-se progressivamente pior”.

“Temos um problema de credibilidade. Todos nós”, asseverou, de forma contundente, apontando que “estamos a falar e a começar a agir, mas não estamos a fazer o suficiente”, e que “é uma escolha continuar este padrão de comportamento destrutivo”.

“Podemos continuar a cultura de morte que envolve o nosso vício pelos combustíveis fósseis, escavando formas de vida antigas de eras passadas, e queimá-las irresponsavelmente, criando mais mortes, incluindo 8,7 milhões de pessoas que morrem todos os anos devido à poluição do ar”, afirmou, apontando que por todo o mundo os grandes reservatórios de água estão a secar.

“E as áreas que hoje são consideradas, por médicos, como inabitáveis são relativamente pequenas hoje, mas vão expandir-se”, avançou Al Gore, referindo que as estimativas apontam para que, até 2100, mil milhões de migrantes climáticos atravessem fronteiras internacionais para fugir de condições de vida intoleráveis.

“Temos de agir!”, declarou o ex-vice-Presidente dos EUA, acrescentando que nos países africanos os impactos climáticos “são ainda piores”, sentenciando que “os pobres são os mais sofrem”. E advoga que a energia renovável é o caminho que dever ser seguido pela humanidade.

“Estamos hoje no início de uma Revolução da Sustentabilidade que tem a magnitude da Revolução Industrial e a velocidade da Revolução Digital”, e se investirmos nas energias renováveis e “deixarmos de subsidiar a cultura da morte podemos salvar-nos”.

Al Gore calcula que investir em energias renováveis cria três vezes mais empregos do que investir em energia fóssil, e que a Revolução da Sustentabilidade é inerentemente “deflacionária”, numa altura em que muitos países pelo mundo fora combatem aumentos exponenciais de preços de vários bens.

Recordando que a Agência Internacional de Energia classificou já a energia solar como “a energia mais barata em toda a História”, Al Gore salienta que “África pode ser a superpotência das energias renováveis”, explicando que nessa região o potencial para geração de energia solar e eólica “é 400 maior do que o total das suas reservas de combustíveis fósseis”.

“Mas não é suficiente apenas aumentarmos o nosso apoio às energias limpas, se ao mesmo tempo retrocedermos nos nossos compromissos contra o desenvolvimento e financiamento de combustíveis fósseis”, disse, referindo que os cientistas estimam que “quaisquer novos projetos de combustíveis fósseis são incompatíveis” com a meta de 1,5 graus Celsius de aquecimento global estabelecido pelo Acordo de Paris em 2015.

“Precisamos de obedecer à primeira regra dos buracos: quando estamos num, devemos parar de escavar”, e alertou que “temos de parar de piorar esta crise”.

“Em tempos de turbulência nos mercados energéticos mundiais, as nações mais ricas do mundo não devem o curto-prazo com o longo-prazo” disse Al Gore, lançando que os governos do mundo não podem usar os impactos da guerra da Rússia contra a Ucrânia na energia como desculpa para estabelecerem “compromissos de longo-prazo para aumentar ainda mais a dependência dos combustíveis fósseis”.

O Nobel da Paz afirmou que “temos de ultrapassar a era do colonialismo dos combustíveis fósseis”, aludindo ao facto de as explorações de energia fóssil nos países mais pobres, particularmente em África, servem para alimentar os países mais ricos.

“Precisamos de remover as barreiras aos biliões [trillions em inglês] necessários ao financiamento climático e a escala do que é preciso só pode ser fornecida pelo setor privado”, defendeu Al Gore. “Precisamos de 4,5 biliões de dólares por ano” para concretizar a transição energética e abandonar os combustíveis fósseis, “e isso só poderá acontecer desbloqueando o acesso a capital privado”.

O ambientalista acredita que há motivos para ter esperança e que o mundo já deu algumas provas de que a transformação necessária é possível, “mas temos de escolher a vida em vez da morte”.





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