Comerciantes de Faro descrevem cenário “assustador” e pedem soluções para impedir inundações



Os comerciantes e moradores da rua de São Luís, em Faro, afetada pelas inundações provocadas pelas chuvas intensas registadas ao início da manhã de hoje na capital algarvia, descreveram um cenário “assustador” e pediram soluções para um problema antigo.

“Que me lembre, foi a mais grave. Talvez aqui há uns 35/40 anos tenha havido uma idêntica a esta. Mas, não haja dúvida de que foi bastante grave. Nós aqui tivemos um metro de água e conseguiu emborcar arcas de dois metros carregadas. O cenário aqui era assustador, como é que a força da água conseguiu emborcar tudo”, confessou, com algum espanto, António Videira, proprietário do restaurante Rainha.

O empresário está, contudo, habituado a um cenário que se repete há dezenas de anos, sempre que há fenómenos intensos de precipitação: “Basta 15 minutos a chover bem e, automaticamente, temos cheias”, salientou.

A rua de São Luís e o largo adjacente, com o mesmo nome, estão situados numa zona de vale, onde acaba por desembocar a água vinda de áreas da cidade com a cota mais alta.

A chuva intensa registada hoje de manhã em Faro provocou inundações, bloqueio de estradas e impediu a abertura de escolas e estabelecimentos comerciais, mas não há registo de habitações afetadas, nem de pessoas desalojadas, disse fonte da Proteção Civil.

O coordenador da Proteção Civil Municipal de Faro, Rui Graça, precisou à agência Lusa que a chuva que caiu no espaço de uma hora, entre as 07:00 e as 08:00, “provocou inundações um pouco por todo o concelho, sendo o centro da cidade a zona mais afetada”.

Com o equipamento do restaurante “completamente destruído”, António Videira estimou um prejuízo na ordem dos 70 mil euros.

“O equipamento tinha sido remodelado todo em setembro do ano passado, era tudo novo, e agora está todo danificado. Tudo o que é arcas, fogão, foi tudo”, sublinhou.

O empresário repetiu à Lusa as reclamações que envia à Câmara de Faro para que arranje, “de uma vez por todas, uma solução” para corrigir o problema, “com obras de fundo”.

“O senhor presidente não vê que os comerciantes desta zona são, todos os anos, prejudicados. E nada é feito. Não há escoamento de águas e o problema é mais de engenharia. Nós levamos com a água toda e o sistema, como está, não funciona de maneira nenhuma. Isto é, perdoem-me o termo, o ‘peniquinho’ da zona e toda a porcaria vem parar aqui”, lamentou.

Elisabete Cabrita, proprietária da pastelaria Betty, a algumas dezenas de metros da zona mais problemática, não estava à espera de ver o seu estabelecimento inundado e a situação apanhou-a de surpresa.

“Eu estou aqui há quase seis anos e [a água] nunca tinha ameaçado sequer entrar na minha pastelaria. Eu estava a filmar o meu carro, que estava quase submerso. E, de repente, começo a aperceber-me que tenho água a entrar na pastelaria”, referiu à Lusa.

Dentro do estabelecimento, a água atingiu 30 centímetros. “Tive bancos a boiarem cá dentro e estou à espera que venham limpar. Tenho farinhas estragadas. A nível de maquinaria, faltam-me ligar duas arcas. Não sei se estão a funcionar, porque a água apanhou o motor. Vamos ver o que temos de prejuízos”, afirmou.

Aurélia Santos, empregada doméstica numa das residências situadas na rua de São Luís, protestou pela falta de limpeza das sarjetas, criticando a autarquia de Faro, mas admitiu que “nunca tinha visto” um cenário idêntico ao deste ano.

“Os trabalhadores da câmara não limpam as sarjetas. As árvores deixam cair as folhas, que enchem as sarjetas. E como não são limpas constantemente, está aí o resultado. A água galgou a casa toda até lá ao fundo”, contou, apontando para a marca de cerca de um metro ainda visível na parede exterior do edifício, enquanto com a vassoura empurrava a água para a rua.





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