Alterações climáticas vão acelerar crises humanitárias em 2023



Num relatório divulgado esta quarta-feira, o International Rescue Committee (IRC) alerta que as alterações climáticas serão responsáveis pelo agravamento das crises humanitárias em todo o mundo no próximo ano. Os seus efeitos serão agravados pelos conflitos armados e pela crise económica, que se faz sentir dolorosamente um pouco pelos quatro cantos da Terra, mas será especialmente intensa nos países mais pobres e vulneráveis.

Estima-se em, em 2023, 339,2 milhões de pessoas em todo o mundo precisarão de assistência humanitária, um aumento exponencial face aos 81 milhões que se registavam em 2014.

A análise debruça-se sobre um conjunto de 20 países, que, segundo a organização, estão altamente expostos ao agravamento de crises humanitárias. Desse total, a Somália e a Etiópia, devido à “pior seca em décadas”, e o Afeganistão, fragilizado por uma crise económica galopante, estão no topo da lista dos países que verão a deterioração das emergências humanitárias que já os assolam.

As duas dezenas de nações examinadas albergam apenas 13% da população global, mas os especialistas dizem que concentram 90% do total das necessidades humanitárias e que 81% das suas populações foram forçadas ao deslocamento interno.

Os autores do relatório alertam para a erosão dos mecanismos que têm como objetivo prevenir crises humanitárias, como acordos internacionais, tribunais e sistemas de alerta precoce de desastres climáticos.

David Milliband, antigo político britânico e atual líder do IRC, afirma que “as evidências que apresentamos [neste relatório] mostram que os mecanismos que protegem as pessoas de catástrofes humanitárias estão a ser enfraquecidos em Estados frágeis e em conflito, por todo o mundo”.

O responsável assinala que “a escala e a natureza do conflito, das alterações climáticas e da crise económica, que proliferam em muitos países” estão a assoberbar os sistemas locais, nacionais e internacionais que têm como propósito escudar as populações de desastres humanitários.

“Basta olharmos para a guerra na Ucrânia para percebermos o impacto da degradação dos mecanismos globais contra o conflito, e a sua ligação próxima às crises humanitárias”, diz Milliband.

No que respeita especificamente às alterações climáticas, o relatório do IRC sublinha que os 20 países abrangidos pela análise são dos mais vulneráveis às suas consequências devastadoras, apesar de terem contribuído perto de nada para esse problema. Em 2019, as emissões de dióxido de carbono desses Estados representavam somente 1,9% do total global, com as emissões per capita a serem de apenas um quinto da média a nível mundial.

“Apesar disso, [esses 20 países] enfrentam alguns dos piores desastres relacionados com as alterações climáticas”, indica o documento, destacando aqueles que são forçados a abandonar as suas casas, as mulheres, as meninas e os membros da comunidade LGBTQI+ como sofrendo os piores impactos das crises humanitárias.

Milliband alerta que é preciso adaptar as estratégias de assistência humanitária à intensificação dos conflitos, da degradação ambiental e da fragilidade económica, e para isso são precisos “mais e melhores” programas de apoio, é necessário “quebrar o ciclo das crises” e criar e implementar “novas ferramentas para proteger as pessoas afetadas por conflitos”.





Notícias relacionadas



Comentários
Loading...