Cecílias: Os anfíbios parecidos com minhocas que se alimentam da pele das mães para ganharem imunidade
As cecílias são anfíbios, da família dos Cecilídeos, que vivem sobretudo debaixo de terra. Por não terem membros para locomoção, os seus corpos esguios e reluzentes fazem com que muitas vezes sejam confundidos com minhocas ou com cobras. Contudo, estão evolutivamente mais perto das rãs e das salamandras.
Este é mais um grupo de animais sobre os quais se conhece ainda pouco. Mas os cientistas sabem que as crias das cecílias têm uma forma de se alimentarem muito peculiar. As progenitoras desenvolvem uma camada de tecido rico em gordura, que as crias, com pequenos dentes afiados desenvolvidos especificamente para esse fim, rasgam e ingerem.
Os cientistas sabem que dessa forma as crias conseguem adquirir os nutrientes essenciais ao seu desenvolvimento. No entanto, uma nova investigação, publicada na revista ‘Animal Microbiome’, revela que nessa gordura materna não estão presentes apenas nutrientes, mas também microrganismos que ajudarão as crias a criarem os seus próprios sistemas imunitários.
Os investigadores dizem que esta é a primeira prova de que os cuidados maternais nos anfíbios são importantes para transmitir micróbios de uma geração para a seguinte. Por todo o reino animal, há vários exemplos desta transmissão, desde a amamentação nos humanos à regurgitação nos pinguins-imperadores, passando pelas crias de coalas que ingerem as fezes das progenitoras.
No nosso caso, não adquirimos apenas um microbioma a partir do leite materno, mas também através do parto vaginal, em que microrganismos da mãe passam para a pele do bebé, que são essenciais ao funcionamento do nosso corpo.
David Blackburn, curador de herpetologia do Museu de História Natural da Flórida e um dos autores, explica que há muito que se desconhece sobre a biologia das cecílias, “sobretudo porque são difíceis de encontrar”.
No caso das cecílias, acredita-se que sejam dos poucos anfíbios a apresentar esse tipo de cuidado com as crias. A maioria das rãs e salamandras, depois de desovarem, deixam as crias à sua sorte.
Marcel Kouete, da Universidade da Flórida e principal autor do artigo, diz que nunca viu ovos de cecília sem a progenitora por perto. “Quando encontramos os ovos, encontramos sempre a mãe”, assegura.
Este tipo de cuidado maternal foi descoberto pela primeira vez em 2006, e mesmo depois de deixarem de se alimentar da pele da progenitora, ela e as crias tendem a manter-se juntas.