Gémeos de hienas podem manter-se juntos mesmo depois de abandonarem o clã de nascimento
Certamente todos os leitores estão familiarizados com aquela ideia amplamente difundida de que os gémeos humanos partilham um laço único, dizendo-se até que podem sentir o que o outro elemento do par sente ou mesmo saber o que está a pensar. Uma nova investigação diz-nos agora que essa ligação pode não ser exclusiva do Homo sapiens.
Estima-se que cerca de 400 hienas residam na Área de Conservação de Ngorongoro, na Tanzânia, divididas por oito clãs, e os cientistas distinguem-nas pelos padrões de manchas que cada um dos indivíduos apresenta na sua pelagem e que são únicos, funcionando assim como ‘impressões digitais’.
As hienas-malhadas (Crocuta crocuta) são animais altamente sociais que se organizam em clãs nos quais são as fêmeas que dominam. Quando atingem a maturidade sexual, os machos tendem a abandonar o grupo onde nasceram e a procurar outro clã no qual possam produzir descendência, um comportamento que promove a diversidade genética das populações.
Contudo, essa integração num novo clã é um processo duro, com os recém-chegados a serem ‘atirados’ para a base da pirâmide hierárquica e frequentemente a serem atacados pelos machos que já faziam parte do grupo.
Dois investigadores do instituto zoológico de Leibniz (Leibniz-IZW) há quase 25 anos que se dedicam ao estudo das dinâmicas sociais das hienas-malhadas que habitam a cratera de Ngorongoro, que é considerada a maior caldeira vulcânica inativa do mundo.
Eve Davidian e Oliver Höner descobriram que os machos que sejam gémeos ou que, sendo de uma linhagem genética diferente mas aparentados e da mesma idade, tenham desenvolvido laços fortes entre si tendem a abandonar o clã de nascença juntos e a integrar o mesmo novo grupo.
Num artigo publicado na ‘Biology Letters’, os investigadores revelam que em 70% dos machos gémeos apresentam esse comportamento e companheirismo, sendo que no caso dos machos que não sejam irmãos isso só acontece 36% das vezes.
Davidian diz que esta é uma descoberta “nova e entusiasmante”, pois até agora pensava-se que os machos de hienas-malhadas nunca abandonavam o grupo de origem em conjunto com outro macho. “Isto tem consequências importantes para a nossa compreensão das dinâmicas sociais e do fluxo de genes nas populações selvagens”, argumenta.
Mas o que leva a esse tipo de comportamento? Os cientistas avançam duas teses: uma defende que a ‘aliança’ formada quando saem do clã de nascimento pode explicar-se pelo desenvolvimento social comum e pela proximidade genética, fazendo com que os indivíduos ajam da mesma forma.
Outra explicação aponta para uma decisão deliberada por parte dos animais, pois, como se diz, “a força está nos números”, e abandonar o grupo de origem com um parceiro poderá aumentar as hipóteses de sobrevivência.
Contudo, os cientistas dizem que os benefícios da saída em duplas nem sempre se mantêm quando os machos se integram em novos clãs, pois passarão a competir pelo mesmo número de fêmeas com outro macho com o qual partilham uma ligação muito forte.
A investigação revelou também que a probabilidade de os machos, gémeos ou aparentados, deixarem o clã de origem juntos é maior quanto maior for a dimensão desse grupo. Por outras palavras, quanto maior a família, maior a probabilidade de os jovens machos partirem em grupos. Por isso, os especialistas argumentam que essas hienas-malhadas macho de Ngorongoro tomam decisões conscientes e que “o ambiente social e ecológico durante o desenvolvimento” e os fatores genéticos influenciam a decisão.
“Quando e como os animais tomam decisões coletivas é um entusiasmante campo de investigação que está em crescimento”, assinalam, acrescentando que a relação entre “decisões adaptativas complexas e flexíveis” e os “processos passivos” são fundamentais para perceber as dinâmicas sociais dos grupos das hienas no seu meio natural.