Oceanos mais quentes estão a matar os parasitas marinhos. Mas isso não são boas notícias
As estimativas do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) estima que, em 2017, a temperatura global aumentou cerca de um grau Celsius face a níveis pré-industriais (anos entre 1850 e 1900) devido às atividades humanas que poluem o planeta com gases com efeito de estufa que retêm o calor recebido do sol.
Com a subida da temperatura atmosférica, sobe também a temperatura dos oceanos, e isso poderá ter consequências devastadoras para toda a vida no mar, e em terra, sendo que algumas delas são já bastante visíveis, como o branqueamento dos recifes de coral e a migração de espécies para zonas de águas mais frias.
Uma equipa de investigadores dos Estados Unidos quer perceber de que forma oceanos mais quentes estão a afetar os parasitas marinhos.
Apesar de podermos achar que todos os parasitas, organismos que dependem de outros para sobreviverem, são dispensáveis e que o planeta estaria melhor sem eles, os cientistas acreditam que esses seres vivos podem desempenhar um papel fundamental nas cadeias alimentares e que o seu colapso teria efeitos imprevisíveis no ecossistemas.
A investigação centrou-se na análise de espécimes de peixes recolhidos ao longo de mais de 100 anos na enseada de Puget Sound, na costa no Pacífico dos EUA, na região de Seattle, e descobriu que entre 1880 e 2019, as populações de parasitas nos peixes dessa área caíram a pique, um período durante o qual os cientistas dizem que Puget Sound “aqueceu significativamente”.
Os resultados vêm também contradizer a ideia amplamente difundida de que o aquecimento do planeta criará as condições ideias para a proliferação dos parasitas.
“De uma forma geral, as pessoas pensam que as alterações climáticas farão com que os parasitas proliferem”, diz Chelsea Wood, da Universidade de Washington e principal autora do artigo publicado na revista ‘PNAS’.
“Para algumas espécies de parasitas isso poderá até ser verdade, mas os parasitas dependem de hospedeiros, e isso faz com que fiquem particularmente vulneráveis no mundo em mudança onde o destino dos hospedeiros está a ser alterado”, explica a especialista em ciências marinhas e da pesca.
Alguns parasitas têm apenas um hospedeiro, mas muitas transitam entre espécies diferentes. Por exemplo, os ovos podem ser depositados numa certa espécie, as larvas eclodem transitam para outra, e os adultos podem atingir a maturidade ainda numa terceira.
E são essas espécies de parasitas cujo ciclo de vida depende de mais do que uma espécie que os cientistas dizem ser as mais vulneráveis aos efeitos que as alterações climáticas têm sobre as populações dos seus hospedeiros.
Em Puget Sound, mais de metade das espécie parasitas marinhos pertencem a esse grupo e os investigadores descobriram que, desde 1880 até ao presente, as populações de parasitas tenham sofridas perdas de, em média, 11% a cada dez anos. Em 1980, das 10 espécies que tinham já desaparecido totalmente, nove dependiam de três ou mais hospedeiros.
“Os nossos resultados mostram que parasitas com um ou dois hospedeiros mantiveram-se bastante estáveis, mas os parasitas com três ou mais colapsaram”, afirma Rachel Wood, que aponta para um declínio populacional “severo”.
E acrescenta que essas perdas bastante significativas teriam provocada ações de conservação “se tivessem ocorrido em espécies com as quais as pessoas se preocupam, como mamíferos ou aves”.
Apesar de poderem ser associados a doenças e causar arrepios a muitos de nós, o desaparecimento dos deve ser motivo de preocupação.
“A ecologia dos parasitas ainda está na sua infância”, reconhece a cientista, “mas sabemos que estes parasitas com ciclos de vida complexos têm um papel importante na mobilização da energia através das redes alimentares e no suporte de predadores de topo”, pelo que a sua conservação é fundamental para a saúde e bom funcionamento dos ecossistemas, neste caso marinhos, mas não só.
A investigação contou com a análise de parasitas em oito espécies de peixes preservados em museus e que foram recolhidos entre 1880 e 2019, e, além dos parasitas, foram também encontrados artrópodes, incluindo pequenos crustáceos, e ténias. Contas feitas, foram detetados mais de 17 mil parasitas em 699 peixes.
Wood revela preocupação com o pouco estudo que é dedicado aos parasitas, especialmente no campo da ecologia, e aos impactos que as perdas populacionais podem ter sobre os ecossistemas. Menos parasitas serão más notícias para os humanos, pois os serviços de ecossistema que deles dependem, e dos quais nos dependemos, poderão colapsar sem a proteção destes mal-afamados organismos.