Fósseis de insetos podem revelar os “sons” da era dos dinossauros
O nosso imaginário está repleto de imagens do planeta quando estava sob o domínio dos dinossauros, sobretudo graças a clássicos cinematográficos intemporais como o “Parque Jurássico” que nos enchem ouvidos de rugidos ferozes. Mas a que terá soado a era dos grandes répteis?
Uma equipa internacional de cientistas acredita ter encontrado a reposta no fóssil de um pequeno inseto do Mesozoico que tem laços com os atuais ortópteros, dos quais fazem parte, por exemplo, os gafanhotos, os grilos e as baratas.
Dizem os especialistas que a comunicação acústica, ou seja, através de sons, foi central na evolução dos animais, como ao nível da reprodução (com chamamentos de acasalamento) e da sobrevivência (com ruídos de alerta devido à proximidade de um predador). Além disso, esse tipo de comunicação terá desempenhado também um papel fundamental na transmissão de aprendizagens entre indivíduos e grupos.
Nos dias de hoje, especialmente em áreas menos intervencionadas pelos humanos, somos presenteados com uma multiplicidade de sons, ruídos, cliques, assobios e zumbidos que nos confrontam com uma ‘paisagem acústica’ bastante complexa. E é a sua origem, especialmente dos órgãos que permitem fazer esses sons e dos que permitem captá-los, que os cientistas quiserem descobrir.
Num artigo publicado na revista científica ‘PNAS’, explicam como recorreram a fósseis de ortópteros para descobrirem como esses animais comunicavam através de sons, e a investigação sugere que os insetos podem ter desenvolvido essa forma de comunicação para evitar serem detetados pelos predadores. Por isso, os autores dizem também que a evolução da comunicação acústica desses invertebrados pode ter impulsionado a evolução da audição dos seus predadores mamíferos.
Edmund Jarzembowski, investigador do Museu de História Natural de Londres e um dos autores do estudo, explica que a equipa descobriu que pequenos grilos que vivem em arbustos foram os primeiros insetos a produzir sons, “fazendo sinais musicais com as suas asas”, que usavam como “instrumentos”, e “escutando com ouvidos nas suas pernas”.
O especialista afirma que ossos fossilizados de mamíferos ancestrais “mostram que a sua audição tinha melhorado no Jurássico”, o que sugere uma adaptação à comunicação sonora desenvolvida pelas presas.
Os autores dizem mesmo que há mais de 100 milhões de anos, umas poucas dezenas de milhões de anos antes de os humanos aparecerem em cena, não era o chilrear dos pássaros, que hoje nos é tão familiar, que enchia o ar, mas sim os ‘cantos’ dos insetos, que terão sido, segundo as convenções científicas, os primeiros animais terrestres a comunicar através do som.
As conclusões surgem depois da análise de mais demais de uma centena de fósseis destes insetos semelhantes a gafanhotos e que comunicavam através de sons produzidos pela fricção das suas asas, em muito semelhante à técnica hoje usada pelos grilos que tão bem conhecemos.
Esses registos permitiram descobrir que os insetos tinham nas pernas ouvidos timpanais, estruturas que apresentavam um tímpano, mas, ao contrário dos ouvidos dos mamíferos de hoje, não tinham ossos.
Os cientistas dizem que o fóssil mais antigo de um ouvido timpanal data de há 160 milhões de anos, e pertencia, claro a uma das espécies de ortópteros, mais especificamente da família dos Tettigoniidae.
A reconstrução dos aparelhos de produção de sons desses insetos revelou que eram capazes de emitir uma grande variedade de ‘cantos’ em diversas frequências, e que já eram capazes de o fazer pelo menos há 200 milhões de anos.
A meio do período Jurássico, há perto de 170 milhões de anos, já tinham desenvolvido capacidade para gerar uma grande e complexa diversidade de sons, alguns dos quais eram emitidos em altas frequências que não podiam ser ouvidas pelos predadores, que terão melhorado a sua própria audição para poderem saber onde se escondiam as suas presas.
“Sabemos que a paisagem acústica do Mesozoico estava repleta de chilreios e o grande desafio agora é reconstruir os tons produzidos por esta diversidade de músicos clássicos”, assinala Edmund Jarzembowski.