Governo dos Açores tem 15 obras de proteção costeira em curso orçadas em 20 ME
O Governo dos Açores tem em curso 15 obras de proteção da orla costeira, orçadas em 20 milhões de euros, mas o secretário do Ambiente admitiu ontem que as alterações climáticas vão exigir um reforço de investimento.
“Ilhas como os Açores de pequenas dimensões, remotas, dispersas são especialmente vulneráveis aos efeitos das alterações climáticas e esses efeitos já se têm vindo a sentir de forma evidente, nomeadamente ao nível da atividade ciclónica e de períodos de precipitação intensa, como aconteceu com o [furacão] Lorenzo, e isso obriga a que tenhamos de criar condições de adaptação e mitigação desta nova realidade, que é inevitável”, afirmou o titular da pasta do Ambiente nos Açores, Alonso Miguel.
O governante falava aos jornalistas à margem da inauguração de uma obra de proteção costeira na freguesia de São Mateus, na ilha Terceira, orçada em cerca de 600 mil euros e comparticipada em 80% por fundos da recuperação do furacão Lorenzo, que passou pelo arquipélago em outubro de 2019.
Alonso Miguel assegurou que as obras de proteção costeira têm sido uma prioridade do atual executivo regional (PSD/CDS-PP/PPM), que “tem em preparação e em curso um conjunto de 15 obras de proteção da orla costeira, que representam um investimento de cerca de 20 milhões de euros a executar até 2025”, em oito das nove ilhas do arquipélago.
O secretário regional do Ambiente e Alterações Climáticas reconheceu que há outras zonas a necessitar de intervenção, mas salientou que não é possível avançar em todas ao mesmo tempo.
“A orla costeira das nossas ilhas é muito extensa e tem de se fazer uma priorização das intervenções, tendo em conta, com certeza, em primeira instância, a salvaguarda de pessoas e de bens, mas também os resultados que vão sendo obtidos das várias políticas que estão em curso”, frisou.
O governante destacou a criação de instrumentos de planeamento para dar resposta ao aumento da frequência de fenómenos extremos, como a cartografia de risco para mitigação e adaptação às alterações climáticas, o sistema de alerta de cheias em bacias de risco e a revisão de planos de ordenamento da orla costeira.
O presidente da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo (PS), responsável pela obra inaugurada hoje, realçou a importância da intervenção não só para assegurar a proteção de habitações e embarcações, mas também pela criação de um troço, que permite alargar um percurso pedonal à beira mar existente na freguesia de São Mateus para cerca de 2,5 quilómetros.
“Na zona do Biscoitinho, há uma proteção para evitar que o mar galgue a zona de estacionamento de embarcações e evitar que aconteça o que aconteceu no furacão Lorenzo, em que as embarcações que lá estavam ficaram em perigo”, salientou o autarca de Angra do Heroísmo, Álamo Meneses.
Questionado sobre as críticas de um grupo de surfistas à obra, Álamo Meneses disse que a intervenção não interferiu com a onda que existia no local e já deu provas de eficácia na proteção de habitações.
“A minha fé na engenharia aumentou. A onda continua ali, como se pode ver, não aconteceu nada com ela. A praia de cascalho continua onde estava. Já houve uma tempestade grande e se não fosse esta obra teríamos tido o mar a entrar ali e não entrou”, sublinhou.
O autarca, que já foi secretário regional do Ambiente num executivo socialista, admitiu que as obras feitas à beira-mar são “muito caras”, mas apelou à intervenção noutra zona da freguesia de São Mateus em que “a estrada está ameaçada”, devido a infraescavação, e na freguesia do Porto Judeu, onde há “habitações demasiado próximo do mar”.
“Estamos longe de concluir este processo. Ainda há muito que investir no sentido da proteção costeira adequada, até porque este é um problema que tem tendência a crescer e não a diminuir. Temos cada vez mais tempestades de mar e situações recorrentes”, alertou.