Parque Biológico de Gaia há 40 anos a educar para a conservação da natureza



A completar 40 anos, o Parque Biológico de Gaia distribui pelos 35 hectares mais de 1.000 animais de 300 espécies, a missão de educar para a conservação da natureza e o sonho de fazer a diferença.

“A expansão foi muito grande, mas o crescimento não foi só em visitantes e dimensão. A própria ideia e a utilização do espaço evoluiu”, diz o diretor do Parque Biológico de Gaia.

Em entrevista à agência Lusa, Henrique Alves desabafa sobre os desafios atuais, mas também transmite esperança e, sobretudo, orgulho no percurso de um espaço adquirido pela Câmara de Gaia, no distrito do Porto, para horto e viveiro municipal que começou por ter dois hectares e atualmente tem 35.

Admitindo que explicar o que é um Parque Biológico – porque não é um zoo, mas também não é um museu nem um jardim botânico, sendo um bocadinho disto tudo – “não é fácil”, o biólogo garante que a missão de há quatro décadas continua a mesma.

“Na década de 80 viviam-se os grandes problemas dos ecossistemas e da conservação e era necessário transmitir essa mensagem às pessoas, sobretudo às crianças (…). Como ambientalista, quando comecei nesta luta, pensei que hoje estaria muito melhor do que realmente estamos. Ainda é necessário partir muita pedra”, refere.

Diretor de um parque que “foi criado com o intuito de educar” e onde “tudo serve para educar”, Henrique Alves admite que a missão “está mais difícil”, porque “existem muita concorrência e coisas que distraem as pessoas do lema ‘pensar global e agir local’, já para não falar da guerra e dos problemas económicos”, mas porque “já não existem espaços que possam de facto considerar-se santuários”.

Mas, apesar disso, o diretor promete que no Parque Biológico de Gaia não desistirá.

“No início o perfil dos nossos visitantes era maioritariamente de grupos escolares. Atualmente tem vindo a equilibrar-se com o público regular a aumentar. Isto é um ótimo sinal”, conta.

Com 1.000 animais de 300 espécies, o Parque Biológico de Gaia recebe, em média, 102 mil visitantes por ano.

A equipa do espaço, que tem uma unidade de cuidados intensivos para animais selvagens, tem cerca de 80 pessoas, desde tratadores a biólogos, veterinários e pessoal administrativo.

No parque desde 1997, Henrique Alves conhece-o quase como a palma das mãos, mas às vezes ainda se perde ou encontra surpresas. O trabalho burocrático ocupa-o dentro do gabinete, mas não esconde que se sente “privilegiado” por trabalhar num espaço onde os “pius” dos pássaros se confundem com o barulho das crianças que por ali passeiam.

“É muito importante manter a missão, o sonho: educar para a preservação das espécies”, frisa, acrescentando o apelo para que as pessoas não larguem na natureza animais feridos ou que já não lhes são convenientes em casa, e procurem, primeiro, instituições que os possam reabilitar.

“Entregam-nos todo o tipo de animais, até borboletas. Temos um Centro de Recuperação da Fauna Selvagem que recebe anualmente milhares de bichos para recuperação: animais encontrados feridos, caídos do ninho, atropelados ou que levaram um tiro na época de caça. Se o animal estiver em bom estado é libertado na natureza. Se não estiver, fica a fazer parte da nossa coleção”, descreve.

À Lusa, e ainda em jeito de alerta, o diretor conta que até tartarugas ou répteis – animais que não fazem parte da vocação do Parque Biológico de Gaia – são entregues ali.

“É que enquanto a tartaruga é pequenina e brinca no aquário, está tudo bem. Depois, quando começa a comer o peixinho ou a morder o dedo da criança deixa de ter graça. Mas é sempre melhor entregar nos centros do que libertar na natureza onde vão competir com as outras e destruir os habitats. Atualmente, por excesso de lotação, já não temos capacidade para receber [animais exóticos], mas encaminhamos para instituições vocacionadas”, descreve.

Além de particulares, as entregas são feitas pela Brigada de Proteção Ambiental (BriPA) da PSP, pelo Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (Sepna) da GNR e por corporações de bombeiros.

Das várias estruturas de um parque que vai comemorar os 40 anos com dias abertos, festivais, oficinas e exposições, destacam-se o auditório, com capacidade para 220 pessoas, e a hospedaria, com 46 camas.

Atualmente na hospedaria, originalmente vocacionada a visitantes, escolas e investigadores, estão alojadas famílias de várias nacionalidades que tiveram de fugir à guerra que opõe a Ucrânia à Rússia.

Durante a pandemia da covid-19, a hospedaria foi “casa” de dezenas de profissionais de saúde deslocados das famílias.

O programa de comemorações inclui um encontro de educação ambiental – “40 anos de Educação Ambiental em Portugal, que futuro?” –, de 29 de setembro a 01 de outubro.

 





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