Cientistas culpam alterações climáticas pela devastação de milhares de ninhos de aves marinhas na Antártida
Entre dezembro e janeiro, diversas aves marinhas na Antártida habitualmente constroem os seus ninhos e depositam os seus ovos. No entanto, uma série de fortes tempestades no final de 2021, que causaram nevões intensos, fizeram praticamente desaparecer todos os ninhos, prejudicando a capacidade de reprodução de três espécies: o moleiro-do-sul (Stercorarius maccormicki), o petrel-do-antártico (Thalassoica antarctica) e o petrel-das-neves (Pagodroma nivea).
Uma equipa de cientistas da Noruega, do Reino Unido e de França descobriram que duas das maiores colónias de petrel-do-antártico de todo o mundo, situadas nas regiões antárticas de Svarthamaren e Jutulsessen, que costumavam conter centenas de milhares de ninhos dessa espécie, durante a época de reprodução de 2021/2022 estavam praticamente vazias. Esses são também dois locais de grande importância para a reprodução do petrel-das-neves e do moleiro-do-sul.
“Sabemos que as colónias de aves marinhas perdem algumas crias e ovos quando há uma tempestade, e o sucesso da reprodução é menor”, explica Sebastien Descamps, investigador do Instituto Polar Norueguês e principal autor do artigo publicado na revista ‘Current Biology’.
No entanto, as tempestades fizeram com que “dezenas, ou mesmo centenas de milhares de aves” não foram capazes de se reproduzirem. “Ter um sucesso de reprodução nulo é realmente inesperado”, confessa, apontando que as tempestades extremas não afetaram apenas uma colónia isolada, mas abateram-se sobre “colónias ao longo de centenas de quilómetros”.
Estas aves fazem os seus ninhos no solo ou em reentrâncias nas rochas, o que faz com que nevões intensos, como os que aconteceram no período em estudo, cubram a terra de espessas camadas de neve, tornam praticamente impossível a nidificação. Além disso, a energia que estas espécies deveriam ter despendido na reprodução, acabou por ser canalizada para a procura de abrigo e para impedir a queda da temperatura corporal.
Os cientistas acreditam que as alterações climáticas, impulsionadas pelas atividades humanas, são o culpado deste desastre ecológico. “Até recentemente, não havia sinais óbvios do aquecimento global na Antártida, exceto na península”, argumenta Descamps, “mas nos últimos anos, têm havido novos estudos e novos eventos climáticos extremos que começaram a mudar a forma como vemos as alterações climáticas na Antártida”.
Embora considerem que este evento não coloca em risco a sobrevivência destas espécies, pois nidificam noutros pontos desse continente gelado, os autores do artigo alertam que, ainda assim, colocará ainda mais pressão sobre as colónias destas aves marinhas.
“Acredito que o nosso estudo mostra, de forma muito clara, que estes eventos climáticos extremos têm um impacto muito forte nas populações de aves marinhas e os modelos climáticos preveem que a severidade destes eventos extremos continuará a aumentar”, avisa Descamps.