Endogamia ameaça sobrevivência de população de orcas no Pacífico
Na região noroeste do Oceano Pacífico, habita um grupo de orcas (Orcinus orca) que, mesmo ao fim de quase 50 anos de esforços de conservação, continua em declínio. O seu isolamento de outras populações e o reduzido número de indivíduos faz com que a reprodução seja feita entre orcas com algum grau de parentesco, ameaçando a sobrevivência das crias.
Num artigo divulgado esta segunda-feira na revista ‘Nature Ecology and Evolution’, investigadores dos Estados Unidos da América e da China sequenciaram o genoma da população de não mais de 73 orcas e perceberam que a endogamia é um dos maiores problemas enfrentados por esse grupo de cetáceos, além das pressões criadas pelos humanos, que, por exemplo, reduzem a disponibilidade de presas e perturbam o grupo devido ao tráfego marítimo.
Os cientistas alertam que essa população particular apresentava níveis elevados de consanguinidade e que se não receber novo material genético, por exemplo, através do contacto com outros grupos, tudo aponta para que o declínio continue.
Marty Kardos, investigador da agência norte-americana do oceano e atmosfera (NOAA) e o principal autor do artigo, salienta que “isto são más notícias para qualquer um que se preocupe com esta população única de orcas” que tem vindo a ser vista como um elemento característico da região nordeste dos Estados Unidos.
No entanto, o especialista em genética argumenta que os resultados permitem também “começar a responder a perguntas de longa data sobre a razão pela qual esforços de recuperação substanciais não têm produzido os resultados que esperávamos” nessa população e perceber que opções os cientistas podem ter para ajudar a contornar o problema.
Eric Ward, outro dos coautores, afirma, por sua vez, que “durante muito tempo tentámos em vão compreender o porquê de esta população ter níveis consistentemente mais baixos de sobrevivência e de nascimentos do que outras orcas na região”. Por isso, este estudo vem colocar em evidência “a forte ligação entre indivíduos consanguíneos e o risco acrescido de mortes”.
Tendencialmente, as orcas reproduzem-se pela primeira vez aos 10 anos de idade, sendo que atingem o pico sexual por volta dos 20 anos. A investigação revelou que os indivíduos com grandes níveis de consanguinidade têm menos de metade de probabilidade de sobreviverem aos primeiros 20 anos de vida e de chegarem ais 40 anos, comparativamente a indivíduos com níveis de consanguinidade mais reduzidos.
No que toca especificamente às fêmeas, aquelas que apresentam grande consanguinidade vivem tempo suficiente para gerar uma média de 2,6 crias, ao passo que as outras apenas conseguem gerar 1,6 crias. Segundo estes cientistas, as populações de animais têm de produzir pelo menos duas crias por fêmea para se manterem estáveis ou para aumentar os seus números, algo que altos níveis de consanguinidade não permitem.
Acontece que, mesmo que seja promovida a reprodução com membros de outros grupos, esta população do noroeste do Pacífico em particular rejeita contactos desse género com elementos de fora da ‘família’. Escrevem os autores que nas décadas de 1960 e 1970, cerca de 50 membros dessa população de orcas foram capturados no mar de Salish, que banha o estados norte-americano de Washington e a província canadiana da Columbia Britânica, para serem levados para parques aquáticos. Isso fez reduzir ainda mais uma população que já era pequena e que apresentava pouca diversidade genética.