“Portugal tem capacidade para produzir 100% da eletricidade que consome”: Semana da Sustentabilidade reuniu especialistas no Ribadouro
No âmbito da Semana da Sustentabilidade, o grupo de Colégios Ribadouro reuniu um conjunto de especialistas para abordar os temas mais prementes relacionados com o ambiente e a economia.
Nesta iniciativa, foram abordados os diferentes Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que constituem os pilares basilares de uma sociedade moderna e equilibrada, capaz de gerar emprego e riqueza, respeitando, em simultâneo, a natureza e os direitos humanos.
Na abertura do quarto dia da Jornada de Sustentabilidade Social e Ambiental, Carla Noronha, da Direção Pedagógica do grupo de ensino, sublinhou o foco da instituição no âmbito da sustentabilidade, nomeadamente algumas iniciativas adotadas como a transformação da frota automóvel, a redução do consumo de energia primária no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
E qual o objetivo da instituição? “Procurar soluções sustentáveis e responsáveis”, afirmou.
O caminho para a neutralidade carbónica
Filipe Araújo, Vice-Presidente da Câmara Municipal do Porto, abriu o primeiro painel do dia, intitulado “Uma cidade sustentável rumo à neutralidade carbónica 2030”, debruçando-se sobre o trabalho desenvolvido pelo município no âmbito da sustentabilidade ambiental.
O responsável sublinhou a importância das cidades na mudança do paradigma, e que o executivo tem trabalhado em redes de cidades para alcançar o objetivo definido de neutralidade carbónica até 2030. Em 2020 o Porto alcançou uma redução de 52% em comparação com os dados de 2004, tendo superado a média prevista.
“Temos que gastar menos energia e olhar para a cidade como produtora de energia”, disse Filipe Araújo, acrescentando que “somos um país de sol, é ridículo olhar para os nossos telhados e vê-los despidos de painéis fotovoltaicos”.
O Vice-Presidente da Câmara Municipal do Porto destacou ainda outras iniciativas desenvolvidas pelo executivo, como o investimento nas linhas de transportes, com novas linhas de metro e metrobus, bem como o investimento na frota municipal.
João Pedro Matos Fernandes, Ex-Ministro do Ambiente e da Transição Energética tomou a palavra para identificar um dos principais problemas ambientais da atualidade a falta de eficiência energética dos edifícios, que são responsáveis por um terço das emissões no nosso país.
O ex-governante sublinhou que “se não mudarmos comportamentos, a tecnologia não nos vai salvar”, e alertou que Portugal tem como compromisso reduzir em 90% do pico de emissões atingido em 2005. No entanto, sublinha que para isso o país precisaria de deixar de utilizar combustíveis fósseis e eliminar os bens descartáveis definitivamente, apontando que o caminho é bastante sinuoso.
“Portugal tem capacidade (água, sol e vento) para produzir 100% da eletricidade que consome”, disse João Pedro Matos Fernandes, sublinhando a aposta que deve ser feita nas energias renováveis como solução para se atingir o objetivo de neutralidade carbónica do país.
Luís Castanheira, CEO da Mota-Engil Renewing, destacou na sua intervenção que a pandemia e a guerra na Ucrânia fizeram-nos pensar em como podemos mudar, por forma a não sofrermos um impacto tão profundo como o sintido, por exemplo, com as cadeias de abastecimento ou o aumento do preço da energia.
O Grupo tem no seu plano para o triénio 2023-2026 a aposta na sustentabilidade, sendo que, numa primeira fase, a aposta vai passar pela descarbonização das cidades e, numa segunda, a descarbonização da própria empresa.
Para tal, tem como objetivo a neutralidade carbónica até 2050, e para atingir objetivo colocam em prática algumas iniciativas como a descarbonização da frota, investimento em postos públicos de carregamento, projetos de comunidades de energia em curso no âmbito social.
“Estamos constantemente a pensar em como conseguir ajudar e promover novas soluções, quer na área da mobilidade quer na transição energética”, sublinhou.
Sustentabilidade e migração climática
O segundo painel da manhã iniciou com a intervenção de Sérgio Ribeiro, CEO e Co-fundador da Planetiers, uma organização que cria plataformas que visam promover soluções sustentáveis já existentes no mercado, e disseminar conteúdos inspiradores e educativos para toda a sociedade.
“Porque tomamos decisões no dia a dia que não são sustentáveis?”, questionou Sérgio Ribeiro, explicando que “o tempo é o nosso ativo mais precioso e mais difícil de gerir, e a sustentabilidade precisa de ser ágil e rápida como o nosso quotidiano, que está à distância de um clique”.
Para dar resposta a estas necessidades, a Planetiers trabalha diretamente com empresas, instituições e territórios, para implementar projetos que acelerem a transição ambiental e para a promoção de modos de vida mais verdes e socialmente inclusivos.
A Planetiers organiza também eventos que promovem parcerias para a sustentabilidade, tendo como principal bandeira o evento internacional anual Planetiers World Gathering. “Foi necessário juntar essas mentes, em conjunto com os que estavam sedentos de conhecer um caminho para a sustentabilidade”, explicou.
Tomou a palavra na intervenção seguinte Vasco Malta, Chefe da Missão da Organização Internacional para as Migrações (OIM) em Portugal, agência intergovernamental das Nações Unidas.
A OIM tem como objetivo ajudar a enfrentar os desafios operacionais na gestão das migações, compreender melhor as questões migratórias, defender a dignidade humana e incentivar o desenvolvimento social e económico através da migração.
Vasco Malta apresentou alguns números para dar a conhecer a realidade internacional das migrações.
O número de migrantes internacionais situava-se nos 281 milhões de pessoas em 2022, o que representa 3,6% da população mundial. Destes, a Europa lidera no número de migrantes internacionais, com 86,7 milhões, seguido da Ásia com 85,6 milhões e os EUA com 58,7 milhões.
O número de migrantes internacionais em Portugal aumentou 5,6% em 2021, em comparação com o ano anterior, representando 698.887 pessoas. Para 2022 perspetiva-se um número recorde. Em Portugal Continental, o distrito de Lisboa é o que mais recebe migrantes internacionais, com 294.736 pessoas em 2021.
No entanto, há outra realidade explicada por Vasco Malta, os migrantes climáticos, que define como “pessoas ou grupos de pessoas que, por razões imperiosas de mudanças bruscas ou progressiva no ambiente que afetam negativamente as suas vidas ou condições de vida, são obrigados a abandonar suas casas, ou optar por fazê-lo, temporária ou permanentemente, e que se deslocam, quer no seu país ou no exterior”.
O Chefe da OIM explicou que 22 milhões de pessoas se viram obrigadas a deixar as suas casas devido às condições climatéricas em 2021, sendo que a média entre 2008 e 2020 era de 21 milhões.
Por sua vez, João Sarmento, Representante Permanente de Portugal junto da União Europeia sublinhou o papel da representação europeia, que representa os interesses do Estado português em Bruxelas, explicando que estes devem informar sobre os desenvolvimentos recentes no país, aconselhar, negociar, articular e orientar os diversos projetos em curso.
João Sarmento sublinhou ainda o trabalho desenvolvido pelo grupo de trabalho direcionado ao Ambiente, onde sublinha a atenção dada às ameaças climáticas e o seu impacto na sociedade, bem como aos efeitos das alterações climáticas na Europa.
João Sarmento sublinhou ainda que “na área económica, as empresas europeias não são as maiores do mundo em termos de dimensão, mas estão na liderança no que respeita a ‘produtos ambientais’”.
Projetos com ADN de sustentabilidade
Durante a parte da tarde da Jornada de Sustentabilidade Social e Ambiente, vários grupos de alunos dos colégios Ribadouro apresentaram projetos desenvolvidos no âmbito da sustentabilidade.
Desde uma aplicação que permite identificar plantas através da câmara do smartphone, saber informações sobre elas e como as tratar, passando por projetos de edifícios inteligente e de cidades inteligentes, os alunos colocaram em prática os seus conhecimentos para desenvolver projetos que propõem um futuro mais sustentável.