Floresta de Macau enfrenta maior risco seis anos após tufão Hato



Quase seis anos depois de o pior tufão a atingir Macau em mais de meio século, o plano de recuperação deixou a floresta ainda mais vulnerável, nomeadamente a deslizamentos de terra, disse à Lusa um ambientalista.

A propósito do Dia Mundial da Terra, que se celebra no sábado, o presidente da Macau Green Student Union avisou que, caso Macau seja afetado por um tufão tão poderoso como o Hato, em 2017, “vai haver mais uma vez deslizamentos de terra e de lama”.

“Nem será preciso um novo Hato, basta talvez uma forte tempestade este verão”, disse Joe Chan Chon Meng. Macau é afetada anualmente por tufões de diferentes categorias, sendo o período entre julho e setembro o mais crítico.

O ativista apontou a aldeia de Hac Sá, na ilha de Coloane, como o local de maior risco e lembrou que “nos últimos dois anos, quando há chuva forte, já houve muita lama a deslizar pela encosta”.

Em 23 de agosto de 2017, o Hato (posteriormente denominado de Yamaneko pelas autoridades locais), considerado o pior em 53 anos a atingir Macau, causou 10 mortos, 240 feridos e prejuízos avaliados em 12,55 mil milhões de patacas (1,4 mil milhões de euros).

Nas áreas florestais, pelo menos 500 mil árvores e mais de 500 hectares foram afetados, disse à Lusa o Instituto para os Assuntos Municipais (IAM). Até agora, foram plantadas mais de 55 mil árvores, de espécies com mais resistência ao vento e às condições atmosféricas.

Mais de 90% das novas árvores sobreviveram e muitas já têm mais de três metro de altura, começaram a dar flores e “resistiram em segurança a épocas de tufão”, disse o IAM, que garantiu que foi prioridade à “regeneração natural” e a recuperar as árvores danificadas.

Mas Joe Chan diz que “houve enorme devastação causada pela ação humana, não pelo Hato”.

“O governo adotou o método mais agressivo: removeram quase todas as árvores antigas, incluindo muitas que estavam saudáveis e tinham sobrevivido ao Hato, e plantaram novas”, lamentou o ativista.

O ambientalista disse recear que a recuperação esteja “a destruir um ecossistema já de si frágil”. “Agora quando vamos andar nos trilhos [de Coloane] vemos pó, solo a esfarelar e árvores minúsculas que irão ser arrastadas na próxima época das chuvas”, previu.

O plano de recuperação, desenhado por uma equipa da Universidade Sun Yat-sen, da China continental, com o apoio da Direção dos Serviços de Silvicultura da Província de Guangdong e especialistas da Academia Florestal de Guangdong, deverá ser implementado ao longo de uma década, tendo sido adjudicado a várias empresas.

“Serão essas empresas a responsabilizar-se por todos os danos?” perguntou Joe Chan. “E a equipa de académicos, vai acompanhar o progresso da reflorestação ou simplesmente fizeram o plano e ficaram com o dinheiro?” acrescentou.

O ativista lamentou que o governo não tenha pedido a opinião das associações ambientalistas de Macau. “A natureza pertence à população, não ao governo”, sublinhou.





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