Mamdyara, quase 20 anos na cosmética natural e sustentável em Cabo Verde
Rosana Monteiro nasceu na Argentina, durante muito tempo estudou as plantas naquele país da América do Sul e há 20 aterrou em Cabo Verde onde criou a Mamdyara, primeira marca de cosmética natural e sustentável no arquipélago.
“Quando cheguei aqui encontrei muitos recursos e achei que este era o meu lugar para trabalho, estar ao lado daqueles que queriam trabalhar com as suas mãos, com as suas ideias”, contou à Lusa Rosana Monteiro Lima.
Filha de pai cabo-verdiano, da ilha de São Vicente, e de mãe argentina e avós índios, disse que a ideia era dar continuidade a um projeto que teve início na Argentina, mas nunca imaginou que um ano depois iria fundar a Mamdyara, que em 2004 foi a primeira marca de cosmética natural criada em Cabo Verde.
Naturalista, que durante mais de 15 anos estudou as plantas no seu país, onde também se transformou em terapeuta, trabalhou ainda com grupos de mulheres e de aborígenes, e queria fazer o mesmo em Cabo Verde, mas os caminhos saíram-lhe trocados.
“Sempre estudei e pesquisei muito sobre como os nossos antepassados usavam as matérias-primas naturais”, referiu a argentina-cabo-verdiana, que na fábrica montada no centro da cidade do Mindelo já criou mais de 200 produtos veganos e artesanais, a partir de argilas vulcânicas, óleos e extratos vegetais, flores, folhas e frutos.
Entre os produtos, em dose única e a granel, estão sabões, cremes, sprays, água delicada, champôs, pasta de argila, loções, sais de banho, óleos, ambientadores, velas aromáticas, uma marca que faz ainda serviços de tratamento de cabelo, rosto e depilação, tanto para mulheres como para homens, numa tendência que a cada dia ganha mais terreno e mais amantes e praticantes no arquipélago.
“Nos últimos anos, constatámos que fomos exemplo para outros projetos, porque Mamdyara não é só cosmética, não são só os sabões ou só tratamentos de cabelos, vem trazer uma tendência para encontrar algum recurso natural, um desenvolvimento”, referiu Rosana Monteiro, orgulhosa de ter inspirado muitos jovens a enveredarem por esta solução também amiga do ambiente.
Todos os ingredientes utilizados pela fábrica são biodegradáveis e não poluem os oceanos, as embalagens e frascos são reutilizados e a empresa foi a primeira a ser regulada em Cabo Verde, pela então Agência de Produtos Farmacêuticos e Alimentares (ARFA), atualmente Entidade Reguladora Independente da Saúde (ERIS).
A maioria das matérias-primas chega das ilhas vizinhas de Santo Antão e São Nicolau, estando já definida uma lista de 20 plantas, eleitas como a “farmácia natural”, transformadas com mão-de-obra jovem e local, tendo atualmente quatro funcionários fixos e dois prestadores de serviços.
Um dos funcionários da empresa é Daniel Fortes, 31 anos e natural de São Vicente, que é quem faz os sabões, mas nem sempre foi assim. É praticamente um filho da Mamdyara, tendo começado a fazer trabalhos de pintura e limpeza, mas fez muitas formações até tornar-se no técnico de laboratório da empresa.
“Aqui aprendei um pouco de tudo”, revelou o cabo-verdiano, que começou pela saponificação, que é o processo para fazer sabões, champôs, entre outros produtos, e agora faz tudo.
“É um desafio e algo que quero sempre aprender. Sou um técnico, mas sempre aprendendo. É um desafio extremamente importante para mim, é algo que aprendi a gostar”, frisou ainda, não escondendo a satisfação em fazer produtos naturais com matérias-primas da sua terra-natal.
O técnico da empresa cria ainda fragrâncias e embalagens personalizadas, brindes para eventos e datas comemorativas, lembranças e chás para receções, tendo também uma grande preocupação com a formação de novos técnicos.
A Mamdyara cria produtos e disponibiliza cuidados para toda a família e Rosana Monteiro salientou que a marca conseguiu que muitas pessoas tratassem a pele de uma forma simples, através de um conjunto de produtos naturais e com efeitos mais rápidos do que comprimidos e outros químicos.
“Nós somos naturalistas, e evitamos, por todas as formas, usar parabenos, derivados de petróleo”, reforçou a dona da empresa, que diz ser uma “aliada” da saúde em Cabo Verde, onde realiza investigação na área da botânica e uso tradicional de plantas medicinais e argilas.
Prestes a completar duas décadas, a marca foi sempre crescendo, disse Rosana Monteiro disse, acrescentando que depois da pandemia da covid-19 a maior parte das pessoas enveredou mais para produtos naturais.
“Os mais jovens correm atrás dos cheiros, que talvez são os ingredientes mais tóxicos, por terem conservantes ou fixadores”, alertou a empresária, que no início teve de procurar os caminhos para realizar tratamentos de cabelo, pele e corpo sem efeitos secundários.
“Muitas vezes as pessoas procuram alternativas que pioram a situação e depois vêm aqui. Isto quer dizer que nós somos a última alternativa”, constatou a naturalista, que coloca toda a sua emoção e energia de viver nos produtos, para ganhar a confiança dos clientes espalhados pelo país, sobretudo nos aeroportos e hotéis, e no estrangeiro, mais concretamente em Barcelona (Espanha).
Um dos pontos altos da vida da empresa foi a participação em março na Feira Mundial de Plantas Medicinais e Aromáticas (Map Expo 2023), realizada nos Países Baixos, e era das poucas empresas em que os produtos podem ser usados em mulheres grávidas.
Para o próximo ano, o 20.º aniversário já está a ser pensado para ser celebrado com pompa e circunstância, e a empresa já está a projetar outros passos e outros mercados, nomeadamente na África Ocidental, tendo já permissão para fabricar os seus produtos no Senegal.
“Muitas das matérias-primas mais ricas podemos encontrar no continente e não haveria melhor forma de enriquecer os nossos produtos”, ambiciona a responsável, esperando, para breve, obter a certificação internacional. “Seria algo incrível”, afirmou, estando também a tratar da certificação para o comércio justo.
“Creio que a Mamdyara tem de pensar como fazer para dar esse passo, contratar mais jovens formados, e estamos abertos para conversar com quem gosta das plantas medicinais”, referiu Rosana Monteiro, indicando que a empresa vai realizar uma formação para traçar roteiros e identificar onde ficam as matérias-primas que utiliza na cosmética natural.