Novo género de borboletas homenageia principal antagonista de ‘O Senhor dos Anéis’

Uma equipa internacional de cientistas descreveu nove novos géneros de borboletas da subtribo Euptychiina, que englobam agora 38 espécies encontradas na região tropical americana. A classificação dessa subtribo tem sido desafiante para os especialistas, uma vez que é composta por borboletas que tendem a ter os mesmos tons acastanhados, corpos pequenos e com formas relativamente similares.

Contudo, o avanço das técnicas de análise genética abre novas vias de investigação, e os biólogos já não têm de se limitar à observação para determinar a taxonomia. Ainda assim, não foi um trabalho fácil, uma vez que estes investigadores levaram cerca de 10 anos a analisar as mais de 400 espécies que fazem parte da Euptychiina.

Num artigo publicado recentemente na revista ‘Systemic Entomology’, os investigadores dão a conhecer o resultado do trabalho, com a reorganização da subtribo, salientando-se um dos novos géneros criados, Saurona, uma alusão ao principal antagonista da trilogia ‘O Senhor dos Anéis’, de J. R. R. Tolkien.

De acordo com Blanca Huertas, do Museu de História Natural de Londres e a investigadora responsável pela descrição desse novo género, as borboletas Saurona apresentam nas suas asas desenhos que alaranjados que fazem lembrar o olho flamejante de Sauron, o senhor das trevas criado por Tolkien que procura dominar a Terra Média.

Os outros novos géneros descritos são o Lazulina, o Argentaria, o Taguaiba, o Xenovena, o Deltaya, o Modica, o Occulta e o Trico.

“Dar a estas borboletas nomes invulgares ajuda a chamar a atenção para este grupo subvalorizado”, explica Huertas, em comunicado do Museu de História Natural. A entomóloga considera que “mesmo entre um grupo de espécies de aparências muito semelhantes é possível encontrar beleza entre a monotonia”.

Do novo género Saurona fazem agora parte duas espécies: a S. triangula e a S. aurigera, encontradas nas regiões mais baixas da floresta tropical no sudoeste da Amazónia.

Contudo, não é a primeira vez que o vilão de ‘O Senhor dos Anéis’ empresta o nome à classificação científica de animais. Em 2013, até uma espécie de dinossauro foi classificada em alusão a Sauron, com o nome Sauroniops pachytholus, e este ano uma rã arborícola do Equador recebeu a designação científica de Hyloscirtus tolkieni, em honra do escritor favorito dos investigadores.

Pode pensar-se que atribuir nomes do universo da cultura ‘pop’ a novas classificações taxonómicas pode ser algo frívolo, mas facto é que é uma estratégia fulcral para captar as atenções do mundo e ajudar a conhecer e a proteger essas espécies.

Através das novas técnicas de análise genética, os investigadores acreditam que o grupo das Euptychiina tem agora 20% mais espécies do que antes deste trabalho, e que muitas outras podem vir a ser adicionadas à subtribo à medida que se vão descodificando novas espécies.

Huertas alerta que “algumas destas espécies estão ameaçadas de extinção, e há muito que fazer agora que conseguimos nomeá-las”, recordando, no entanto, que “existem também muitos outros grupos de borboletas e de insetos que precisam de maior atenção para que possam ser mais bem compreendidos e protegidos”.