Nova espécie de rã batizada em homenagem ao criador do universo de ‘O Senhor dos Anéis’



Nas densas florestas tropicais do Equador, no Parque Nacional de Rio Negro-Sopladora, na região sudeste da codilheira dos Andes, foi descoberta uma nova espécie de rã arborícola do género Hyloscirtus.

Com cerca de 65 milímetros de comprimento, um tamanho relativamente grande para uma rã que passa a maior parte do seu tempo nas árvores, este anfíbio distingue-se pelo seu dorso cinza-esverdeado, salpicado de manchas amarelas e pretas, e pelos olhos de um rosa-pálido com íris preta. A zona da garganta, o ventre e os flancos são de um amarelo-dourado, com grandes ‘borrões’ pretos.

A nova espécie Hyloscirtus tolkieni foi encontrada por entre a vegetação densa na região sudeste dos Andes.
Foto: Juan C. Sánchez-Nivicela (coautor do artigo)

A nova espécie foi batizada com o nome científico Hyloscirtus tolkieni, em honra do escritor favorito dos investigadores: J.R.R. Tolkien, criador dos fenómenos literários ‘O Senhor dos Anéis’ e ‘O Hobbit’, entre muitas outras obras que são marcadas por universos altamente complexos e ricos, com idiomas, mitologias e mundos inteiros criados de raiz. De acordo com os cientistas, a coloração invulgar da rã tê-los-á feito pensar que seria um animal que não destoaria numa das florestas da Terra Média.

“A nova espécie de rã tem cores incríveis e parece que vive num universo de fantasia, como o criado por Tolkien”, afirma Diego Cisneros-Heredia, da Universidade San Francisco de Quito, no Equador, e um dos coautores do artigo publicado na revista ‘ZooKeys’.

“A verdade é que os Andes tropicais são ecossistemas mágicos, onde estão presentes algumas das espécies de flora, fungos e fauna mais maravilhosos”, aponta, lamentando, no entanto, que “poucas são as áreas que estão devidamente protegidas face aos impactos negativos causados pelos humanos”.

A desflorestação, a expansão de explorações agrícolas insustentáveis, a mineração, a introdução de espécies invasoras e, claro, os efeitos das alterações climáticas estão a afetar “gravemente” a diversidade de formas de vida dos Andes.

O Parque Nacional de Rio Negro-Sopladora foi classificado como área protegida em 2018, pelo governo equatoriano, e abrange florestas ainda pouco exploradas. No entanto, missões científicas dos últimos três anos têm permitido descobrir várias espécies até agora desconhecidas da Ciência.

Na sua expedição em 2020, estes investigadores apenas conseguiram encontrar um indivíduo da nova espécie Hyloscirtus tolkieni, a uma altitude de três mil metros face ao nível do mar, escondido por entre os ramos das árvores, a cinco metros do solo.

Local onde foi descoberto o indivíduo desta nova espécie. Os cientistas não conseguiram encontrar qualquer outro espécime, pelo que dizem que é preciso mais trabalho de campo para desvendar o mistério em torno deste anfíbio.
Foto: Juan C. Sánchez-Nivicela (coautor do artigo)

Por isso,  pouco, ou mesmo nada, se sabe acerca do seu estado de conservação ou se poderá, eventualmente, estar em risco de extinção. Por isso, os autores deste trabalho defendem que são urgentes mais investigações para avaliar o estado das populações desse anfíbio tolkieniano, as ameaças que enfrentam e qual a melhor forma de mitigá-las.

Os investigadores argumentam que a descrição de uma nova espécie é “um mecanismo importante para apoiar estratégias globais de conservação de ambientes vulneráveis”, uma vez que permite perceber a grande diversidade de espécies que neles habitam. No entanto, e apesar de se saber que atuam como agentes naturais de controlo de pragas, os anfíbios no Equador estão sob ameaça, com 57% das espécies no limiar da extinção.

A nível global, os anfíbios são a classe de vertebrados mais ameaçada, estimando-se que 41% de todas as espécies correm o risco de desaparecer, por causa, sobretudo, da degradação ambiental provocada pelos humanos.





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