Agricultura intensiva é uma das principais causas do declínio das aves na Europa
O aumento do uso de pesticidas e de fertilizantes, traços distintivos de práticas agrícolas intensivas, é uma das principais causas das perdas populacionais das espécies de aves da Europa.
A conclusão é de uma investigação publicada esta semana na revista ‘PNAS’, que alerta que o número de espécies de aves que dependem das paisagens agrícolas europeias para se alimentarem, para instalarem os seus ninhos ou para encontrarem abrigos caiu mais de metade entre 1980 e 2016.
O trabalho envolveu a análise das tendências populacionais de 170 dessas espécies, e como têm sido afetadas, ao longo dessas décadas, pela pressão das atividades humanas, incluindo os efeitos das alterações climáticas antropogénicas e as mudanças no uso do solo, em 28 países.
Os cientistas descobriram também que, durante o período em estudo, as espécies de aves mais comuns na Europa sofreram uma diminuição de cerca de 25% da sua abundância, incluindo aves das florestas (-17,7%), aquelas que preferem habitar as cidades (-27,8%), as espécies que vivem em regiões frias mais a Norte (-39,7%), bem como as que vivem em zonas mais quentes a Sul (-17,1%).
O uso de pesticidas é um dos principais fatores que tem delapidado das populações de aves na Europa, sobretudo aquelas espécies que dependem de invertebrados para se alimentarem, como os andorinhões (apodídeos), a alvéola-amarela (Motacilla flava) e o papa-moscas (Muscicapa striata), que, segundo os investigadores, têm sido as mais afetadas.
Além da agricultura intensiva, os cientistas identificaram outros três fatores que estão a pressionar as populações de aves na Europa: a redução da cobertura florestal, a expansão urbana e o aumento da temperatura média, fruto das alterações climáticas.
A organização não-governamental britânica para a proteção das aves, a Royal Society for the Protection of Birds (RSPB), cujo um dos investigadores, Richard Gregory, participou neste trabalho, afirma que os resultados da investigação salientam a necessidade de “práticas agrícolas amigas da natureza” se tornarem a norma, apelando aos governos para que incentivem a redução dos pesticidas e que reforcem a monitorização das substâncias químicas que estão a ser utilizadas na agricultura.
Alice Groom, responsável da RSPB para o uso sustentável do solo, explica que “aumentar a nossa dependência dos pesticidas e fertilizantes tem permitido uma agricultura mais intensiva e aumentar as colheitas, mas, como este estudo claramente demonstra, tem tido um grande custo sobre a nossa vida selvagem e a saúde do ambiente”.
A especialista argumenta que “sem os agricultores, não podemos esperar aplacar as emergências climática e da Natureza, mas eles precisam das políticas e dos apoios certos para poderem produzir alimentos saudáveis, ao mesmo tempo que revertem as perdas de vida selvagem e restauram o ambiente”.
Escrevem os autores do artigo que há muito tempo que se vem alertando para “um tremendo impacto negativo da intensificação agrícola sobre as aves”, especialmente sobre as espécies insetívoras e que dependem das paisagens agrícolas.
Assim, dado o “enorme impacto negativo da intensificação agrícola e da homogeneização introduzida pelas alterações da temperatura e do uso do solo”, os investigadores avisam que “o destino” das populações de aves europeias está nas nossas mãos, e que dependerá da implementação rápida de medidas que permitam aplicar práticas mais ambientalmente sustentáveis e que ajudem a proteger a biodiversidade, não apenas das aves, mas também de todos os outros seres, como os invertebrados, que constituem as teias tróficas, pois o colapso de um dos ‘dominós’ poderá ditar a queda de todo o conjunto.