Hábitos de reciclagem: a crise não mora aqui



Se há uma área onde a crise não chega, em Portugal, é nos hábitos de reciclagem da população. A conclusão é do estudo “Hábitos e Atitudes face à separação de resíduos domésticos”, desenvolvido pela Intercampus para a Sociedade Ponto Verde e que tem em conta os hábitos de 2011.

O estudo, que pela primeira vez teve uma abrangência nacional, procurou perceber os efeitos gerados pela crise em áreas como a separação doméstica do lixo e embalagens usadas, a alimentação, o consumo de energia eléctrica e água, a apetência face a produtos ecológicos, os critérios de selecção de produtos ou as contribuições de solidariedade social.

Os números

Dos 1.075 inquiridos no estudo, 69% separam diariamente o lixo e embalagens usadas. Do total dos inquiridos, 47% é separador total, ou seja, separa todos os tipos de lixo e embalagens usadas – e actualmente passíveis de separação –, enquanto 22% é separador parcial, ou seja, separa apenas parte do lixo e tem algumas dúvidas quanto ao que pode ser reciclado.

A inexistência de qualquer prática actual de separação de lixo ou embalagens usadas assume-se como um cenário minoritário, afectando apenas 31% dos casos totais observados.

No contexto da família e dos separadores totais, é a mulher que lança a ideia de iniciar a separação de lixo ou embalagens usadas (em 54% dos lares).

Junto de quem nunca realizou separação doméstica de lixo ou embalagens usadas, a falta de recipientes próprios para o efeito (56% de referências totais) e a noção do excessivo trabalho pessoal e familiar implicado (45%) assumem-se como os argumentos mais evocados para justificar a não separação doméstica do lixo produzido.

As regiões

A prática de separação é maioritária em todas as regiões analisadas (Lisboa, Norte, Centro, Alentejo, Algarve), variando entre um mínimo de 63% (no Centro) e um máximo de 77% (no Alentejo). É no Alentejo, aliás, que se observa o maior índice de adesão à separação onde, a par do Algarve, a maioria dos agregados já faz mesmo separação total de resíduos.

Por outro lado, o estudo dá conta de que é junto das famílias de estrato sócio-económico mais elevado que se observa uma maior sistematização da prática – e da prática total – de separação doméstica de lixo/embalagens usadas. No entanto, as restantes classes têm vindo a registar crescimento em relação a esta prática.

Quanto ao tipo de resíduos mais separados, destacam-se as garrafas, frascos e boiões de vidros com uma taxa de separação de 90%. Em segundo lugar encontram-se as garrafas de plástico e as caixas de cartão (78%) e os jornais e revistas (74%).

Os resíduos menos separados são as bases de esferovite para alimentos e as embalagens de aerossóis, as embalagens usadas de espuma de barbear e de desodorizante (23%), bem como couvettes de metal de comida feita ou pré-cozinhada e as latas de conservas (32%).

Portugueses estão a mudar os hábitos alimentares

Já quanto ao consumo, os dados revelam um cenário distinto. Para quase metade (48%) dos 1.075 inquiridos a nível nacional, a crise económica já teve impacto a nível dos hábitos alimentares respectivos. Esse impacto é equilibradamente distribuído a nível daquilo que se compra para consumir em casa – e daquilo que se consome directamente fora do lar.

Quer no consumo fora de casa, quer dentro do lar, a crise parece ter efeitos evidentes, no sentido de uma diminuição daquilo que se compra e consome. No consumo em casa, 92% afirma comprar menos para consumir em casa, enquanto 97% dos inquiridos afirma consumir menos fora de casa.

Nos restantes hábitos ambientais, prevê-se uma maior racionalização no consumo: a água e, sobretudo, a energia eléctrica, são bens essenciais cujo consumo pelas famílias já é maioritariamente racionalizado devido à crise.

Apenas 26% de famílias, no caso da energia eléctrica, e 32%, no da água, pensam manter constantes os respectivos volumes habituais de consumo. Para os restantes inquiridos, o objectivo é de redução em relação a estes dois bens essenciais.

Curiosidades

1.Há uma relação directa entre possuir um ecoponto doméstico e as práticas de separação. Quem tem um ecoponto em casa tende a separar quase sempre o lixo (92%); que não o tem costuma “facilitar ou incrementar atitudes de total inércia nesta matéria” (apenas 43% diz separar).

2.Outra curiosidade prende-se com a inclusão de filhos – ou crianças – nos agregados familiares. Ao contrário do que é percebido normalmente, não há uma influência especial da população infanto-juvenil no facto de os agregados separarem o lixo ou as embalagens não usadas.

3.Apenas 18% dos separadores totais identificam aspectos negativos ligados ao processo de separação doméstico do lixo ou embalagens usadas. Destes, a maioria (36%) menciona a questão da limitação do espaço doméstico. Há também quem se queixe o trabalho exigido (26%), da não disponibilização gratuita de recipientes próprios (25%), da distância dos ecopontos (15%), da inexistência de sistema de recolha porta-a-porta (12%), ou do facto de os ecopontos ou contentores estarem demasiado cheios (7%).

4.No contexto familiar, a responsável do sexo feminino é, muito claramente, o membro mais intensamente identificado com o lançamento da ideia de se passar a fazer em casa a separação de lixo ou embalagens usadas (54%).

5.O responsável do sexo feminino é também, depois, o mais activo na separação do lixo ou embalagens usadas.

6.Em 98% dos casos, a distância entre o lar e o ecoponto mais próximo encontra-se a 10 minutos, a pé. Em 90% dos casos, a distância a percorrer não chegará sequer a metade desse tempo.

7.Para quem nunca realizou separação doméstico de lixou ou embalagens usadas, a falta de recipientes próprios para o efeito (56%) e a noção do excessivo trabalho pessoal ou familiar (45%) são os argumentos mais evocados na fundamentação dessa atitude.

8.Finalmente, estes não-separadores acederiam a mudar de atitude se recebessem um ecoponto doméstico (44%), se passassem a beneficiar de um serviço de recolha porta-a-porta (34%), se recebessem uma quantia simbólica pela quantidade de embalagens separadas (19%), se tivessem mais ecopontos perto de casa (13%) ou se toda a gente o fizesse! (10%).

 





Notícias relacionadas



Comentários
Loading...