Inovar para melhorar a gestão da água
As barragens desempenham um papel crucial na gestão da água, em especial em tempos de escassez, pois permitem o armazenamento de água durante as épocas de maior disponibilidade para utilização em épocas de menor oferta hídrica. Deve assinalar-se também o facto de as barragens poderem ser utilizadas para regularizar o fluxo de água nos rios com impactos positivos no ambiente.
A intensificação das alterações climáticas, com secas mais extremas e prolongadas, veio reduzir os recursos hídricos disponíveis. Num quadro de temperaturas mais elevadas, regista-se também um aumento dos consumos pelos diversos utilizadores, o que coloca uma pressão acrescida nas disponibilidades de água. Este desequilíbrio entre a oferta (menor) e a procura (maior) resulta num aumento da escassez de água, sendo a segurança hídrica seguramente o grande desafio com que nos confrontamos nesta década.
Neste quadro, impõe-se uma abordagem integrada na gestão dos recursos hídricos que temos disponíveis, quer os superficiais quer os subterrâneos, e um esforço maior na utilização eficiente da água, mais colaboração e articulação entre os setores utilizadores e um foco mais intenso na resiliência dos sistemas e na mobilização de origens de água não convencionais que possam complementar a oferta.
Sendo uma das importantes origens de água superficial, as barragens requerem, cada vez mais, uma gestão eficiente. Neste contexto, o processo de digitalização das barragens tem-se revelado uma inovação promissora, da qual se esperam benefícios cada vez mais significativos para a sua operacionalidade, sustentabilidade e segurança.
“Barragens na Palma da Mão“, um projeto desenvolvido pela Águas do Norte, constitui um excelente exemplo de como a digitalização pode ter efeitos transformadores, trazendo avanços tecnológicos que impactam positivamente a gestão deste tipo de infraestruturas e potenciam a gestão sustentável dos recursos hídricos.
A plataforma integra a instalação de diversos sensores inteligentes nas barragens, permitindo a monitorização em tempo real de diversos parâmetros, nomeadamente níveis, volumes armazenados, disponibilidade hídrica, qualidade da água, entre outros.
As equipas de gestão têm acesso a dados em tempo real sobre as condições da barragem e capacidade de atuação remota, a partir de qualquer local e dispositivo, podendo tomar decisões mais informadas e precisas e dar uma resposta mais rápida a emergências, possibilitando ações corretivas imediatas para minimizar riscos e danos. Com os sensores inteligentes podem identificar-se precocemente quaisquer sinais de falhas ou riscos potenciais, prosseguindo com a realização de inspeções mais precisas e o desenvolvimento de estratégias de manutenção preventiva, ajudando a prevenir problemas antes que se tornem crises e mitigando situações graves no futuro.
A monitorização contínua do comportamento estrutural das barragens transforma a digitalização numa importante ferramenta de gestão da segurança das barragens, quer no que respeita à gestão de catástrofes naturais quer na deteção de outras variáveis relacionadas com a integridade da infraestrutura, permitindo uma resposta imediata, rápida e efetiva.
A digitalização também promove condições para a gestão sustentável da água disponível nas albufeiras pois, através dos dados recolhidos e da análise inteligente dessa informação, obtém-se uma melhor compreensão dos padrões de consumo, o que ajuda na tomada de decisões que permitam otimizar o uso dos recursos hídricos e reduzir o desperdício de um ativo tão fundamental como é a água.
Outro aspeto inovador deste projeto de digitalização das barragens é a sua interoperabilidade. Com a utilização de dados abertos e de plataformas digitais, que funcionem em ambiente web, é possível recolher e partilhar informação e promover a cooperação entre diferentes entidades envolvidas na gestão de barragens para os diferentes usos, seja para abastecimento público, para a irrigação ou para a geração de energia hidroelétrica. A troca de conhecimentos, experiências e boas práticas é essencial para uma gestão eficiente e sustentável das disponibilidades de água nas albufeiras.
A utilização de algoritmos e sistemas de inteligência artificial permite prever e antecipar cenários futuros, potenciando uma gestão mais proativa e eficiente. Essa capacidade de previsão ajuda a mitigar riscos e a tomar medidas preventivas para garantir a segurança das barragens e a gestão eficiente das disponibilidades hídricas. A Internet das Coisas (IoT) levará a que rapidamente sejam incorporados outros tipos de dados, tornando a plataforma “Barragens na Palma da Mão” um sistema centralizado de conhecimento cada vez mais inteligente.
Esta plataforma foi desenvolvida pela Águas do Norte e tem contribuído para promover a sustentabilidade dos recursos hídricos através da recolha de dados precisos sobre a quantidade, a qualidade da água e outras variáveis, tendo já conquistado vários reconhecimentos, sendo o mais recente o prémio Kaizen, na categoria “Digitalização”. Trata-se de um projeto pioneiro, agora também selecionado para os prémios Water Europe Innovation Awards 2023, da Water Europe, que distinguem soluções e tecnologias inovadoras relacionadas com a água.
A Águas do Norte é a empresa do Grupo Águas de Portugal responsável pela gestão do sistema multimunicipal de abastecimento de água e de saneamento do Norte de Portugal, integrando 63 municípios e uma população abrangida de 1,06 milhões de pessoas no abastecimento de água. A empresa capta em diversas origens de água, maioritariamente superficiais, salientando-se as 32 barragens localizadas em várias linhas de água distribuídas por toda a região norte, com destaque para as 16 barragens sob responsabilidade de exploração direta, estando em curso a integração de mais três.
A incorporação de tecnologias digitais avançadas na gestão de barragens, nomeadamente a nova ferramenta “Barragens na Palma da Mão”, tem contribuído para um melhor planeamento do uso da água, resultando numa gestão mais eficiente e sustentável e na melhoria da eficiência operacional.